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“Não podemos relaxar dos cuidados agora que a curva está aumentando”

O médico, Fernando Torres, cirurgião cardiovascular e diretor técnico do Hospital Universitário dos Campos Gerais (HURCG), participou do Quadro DC Entrevista, na manhã de quinta-feira (18), para falar sobre os desafios do hospital no enfrentamento à pandemia do novo coronavírus.

Durante a entrevista, o especialista apontou dados importantes com relação ao aumento do número de leitos de Unidade de Terapia Intensiva (UTI) e clínicos, voltados para atender pacientes com covid-19, além do tratamento e cuidados com os profissionais de saúde.

Mesmo com os trabalhos realizados pelo HU, Torres pediu para todos não relaxem com relação aos cuidados, principalmente, por conta do aumento exponencial da curva de contaminação registrada nesta semana. Confira a entrevista na íntegra.

Desafios do Hospital Universitário frente a pandemia

Quais foram os principais desafios do HU no atendimento dos pacientes da região com coronavírus e como o hospital vem enfrentando esta realidade?

Nós mês de março, nós já sabíamos que enfrentaríamos essa pandemia, então o governo do Paraná traçou um plano de ação e designou 10 hospitais que seriam referência no estado para casos da doença. E o HU foi escolhido por conta do papel que vem exercendo na região dos Campos Gerais e, diante dessa situação, pudesse ampliar, de forma significativa, o número de leitos e disponibilizá-los para o tratamento da covid. Isso foi um desafio, construir algo muito rapidamente para dar uma resposta para a população.

Ampliação do número de leitos de UTI para atender a demanda

Inicialmente, o HU contava com 10 leitos de UTI e vieram mais 10 recentemente, ainda estão previstos outros 10. Já com relação aos leitos clínicos, eram 20 e estavam previstos outros 30, totalizando então 50 clínicos. Com base nesta questão, já temos uma previsão de quando estes novos leitos deverão ser instalados no hospital?

Nós tínhamos apenas 20 leitos de UTI no geral e rapidamente nos adequamos com todos os cuidados eficientes para atender os pacientes receberem os atendimentos necessários. A proposta é de que esses leitos aumentem em até 50, ou seja, os 20 que nós tínhamos e mais 30, porque nós acreditamos que podemos chegar em um momento que será necessário.

Com relação aos números de enfermaria, nós tínhamos um desafio de leitos que estão sendo ocupados pela maternidade do hospital e estamos vendo que os números de pacientes contaminados está aumentando. No entanto, ainda não temos capacidade para 50 leitos, porque a maternidade, que será transferida para o Hospital da Criança, ainda está lá. Por isso, o que temos disponíveis para atendimento da covid são 25 leitos e mais de 20 de UTI que serão ampliados.

Transferência da maternidade para o HC

Existe uma parceria entre a UEPG com a Prefeitura para transferir a maternidade do HU para o Hospital da Criança. Isso iria liberar espaço, digamos assim, para a implantação de novos leitos, então, por qual motivo ainda não houve de fato esta transferência?

A transferência foi uma decisão política que foi muito acertada. Uma das opções era fazer um hospital de campanha, mas isso seria muito caro. Depois levantou-se a questão de terminar a obra da maternidade ao lado hospital, mas todos sabem que obras têm tempo para serem finalizadas.

Então tentamos o Hospital da Criança, onde foi feita uma averiguação in loco sobre esta possibilidade. Nós sabíamos que teríamos dificuldades e já havia uma parceria do HC com os Amigos do Hospital da Criança, entidade que exerce um papel admirável com o andamento de algumas obras dentro hospital.

Essas obras foram aceleradas com um grande apoio do Ministério Público e Justiça Federal. Esse processo está em andamento. Por isso, a nossa previsão de transferência é para o começo de julho. Os prazos dependem ainda do movimento político, movimento técnico e a inspeção por parte da Vigilância Sanitária.

Redução de leitos clínicos

Uma informação divulgada hoje pelo DC mostrou que houve uma redução de leitos clínicos no HU, ou seja, 10 dos 25 leitos clínicos haviam sido transformados em leitos de UTI. Esta redução significativa pode vir a prejudicar os atendimentos?

A redução que houve é de leitos de pacientes da clínica médica, onde envolvem diversas especialidades, e que foram realocados para a covid. Já no primeiro momento, sabíamos do impacto, porém, esse número está na conta do Governo do Estado, ele sabe que o HU precisa disponibilizar, pelo menos, mais 32 leitos que temos da maternidade e que hoje está ocupado.

Profissionais de saúde na linha de frente

Com relação aos profissionais, inicialmente houve contratação de mais equipes para atuar no combate à covid no HU?

A contratação de profissionais é um problema nacional e nós sabíamos que teríamos funcionários que precisariam se afastar. Nós fizemos algumas contratações, mas há um limite para isso e teríamos que fazer um processo de credenciamento. Até ontem, por exemplo, nós tínhamos 25% do quadro de funcionários em afastamento. Não é um número fácil, mas que é possível administrar. Mas, se chegarmos aos 30%, teremos dificuldades.

Estamos fazendo reuniões para tratar sobre esta questão do afastamento, temos receio que faltem profissionais, mas sabemos que tem uma dinâmica no processo, onde entra e saem pessoas do isolamento.

Temos feito ainda um trabalho essencial de educação permanente com um grupo especializado que fiscaliza o uso de máscaras e demais equipamentos de segurança, reforçamos muito os cuidados para perder pessoas nesta guerra. Contamos ainda com um alojamento do Colégio Agrícola para aqueles profissionais que preferem não voltar para a casa por precaução.

Tratamento de pacientes contaminados

Qual a principal forma de tratamento medicamentoso destes pacientes que estão contaminados?

Temos que ter muita cautela, essa é uma doença nova, não há um tratamento específico e tudo que se tem surgiu de algo recente. Na medicina temos que ter cuidado e ainda temos muitas dúvidas. Existem centenas de trabalhos científicos que falam sobre medicamentos mas, como estamos lidando com vidas, não podemos embarcar em uma situação que vai expor os pacientes e isso nossas equipes têm tomado bastante cuidado.

E quantas mortes já foram registradas no HU por conta da covid?

Temos hoje, quarta-feira (18), cinco pacientes na UTI com suspeita e quatro na enfermaria. No entanto, quando ocorre o óbito, são tomados todos os cuidados necessários. No HU, já registramos cerca de quatro mortes por suspeita e um confirmado e esses números refletem bastante a realidade.

Custo da UTI para a rede particular

Qual seria o custo de uma diária na UTI de um paciente de covid em um hospital particular?

Não fica barato. Claro que a legislação já contempla e o usuário do SUS não precisa pagar por esse serviço. Mas para se ter uma ideia, a diária em um leito de UTI não sairá por menos de R$ 2 mil, fora os custos que você tenha com medicamentos, todo material necessário, equipes, frascos, sondas.

Cuidados principais com o aumento de casos

Como estamos enfrentando o crescimento da doença nesta semana?

Estamos vivendo nesta semana o momento de maior pressão em cima da rede pública. A famosa curva está aumentando. E é neste momento que não podemos relaxar dos cuidados. Sabemos que o momento chegou, estamos olhando no retrovisor e vendo que está vindo um caminhão acelerado atrás de nós.

Tínhamos uma média de pacientes confirmados que era um por semana. E agora estamos na faixa de três a quatro novos por dia. Isso vai gerar uma pressão no sistema. Por isso, a importância de reforçar o distanciamento. Só conseguimos diminuir se reforçarmos os cuidados das pessoas. Agora não é hora de aglomeração, de se expor e os nossos números mostram o aumento de casos de forma exponencial.

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