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A busca por números


TEATRO
Cena da peça “Medida por Medida”, do grupo Folias, de São Paulo

E lá vamos nós, novamente, para mais uma jornada teatral, como sempre acontece nesta época do ano. Durante exatos oito dias, Ponta Grossa e mais duas cidades da região terão a oportunidade de literalmente serem assaltadas por um caminhão de espetáculos com a 38ª edição do Festival Nacional de Teatro (Fenata).

Segundo informa a UEPG, serão 25 espetáculos de 22 grupos de seis Estados brasileiros nas categorias adulto, crianças, rua e bonecos/animação (para adultos e crianças). Mas, de todas essas, somente as mostras adulta e para crianças serão competitivas. Esta, sem dúvida, é a grande novidade desta edição do festival. Além dessas mostras, também haverá a paralela e especial.

Ainda de acordo com a UEPG, em 2009 o Fenata atingiu um público de pouco mais de 20 mil pessoas, e a promessa para esta edição é “bater novo recorde em plateias”. Nada mal para um evento que recebeu, neste ano, 120 inscrições de 12 Estados, “representando diversas localidades de norte a sul do país”.

As perguntas que não querem calar são: então é isso? O objetivo principal do festival é uma busca intensa por números? A quantidade se sobrepondo à qualidade? Enquanto a preocupação da UEPG for a de tratar o Fenata apenas e tão somente como um evento que a cada ano tem de melhorar a sua performance estatística, as coisas não continuarão muito bem.

Para quem a ficha ainda não caiu: o teatro, como a arte mais atávica da humanidade, que tem o condão de ser uma síntese de praticamente todas as outras, carece de muito mais do que números. Carece de sensibilidade, no sentido de oportunizar que um festival esteja presente nos demais 357 dias do ano em forma de pesquisa, workshops, oficinas, cursos, divulgação etc. etc. etc.

Enfim, coisas que vêm sendo repetidas ad nauseum desde pelo menos 2001. Se essas sugestões tivessem sido ao menos em parte encaminhadas, o assunto do momento poderia ser, por exemplo, a comemoração de tais conquistas. Pelo bem do teatro – ponta-grossense, em primeiro lugar.

De qualquer forma o Fenata está aí. É claro – ninguém rasga dinheiro – que ele melhorou muito nos últimos anos. Mas não se pode continuar batendo na tecla da busca insana por números. Até porque eles são consequência, e não finalidade.

O autor é diretor, ator, dramaturgista e crítico de teatro

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