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Zé Rafael: do JEM em Ponta Grossa à final da Libertadores da América

Família de Zé Rafael acompanhará em Ponta Grossa a decisão contra o Santos. Foto: Fábio Matavelli

A final da Libertadores entre Palmeiras e Santos, neste sábado, às 17h, vai parar o futebol brasileiro. Mas uma casa no bairro Estrela, em Ponta Grossa, respira a decisão continental desde já e espera com ansiedade a bola rolar no Maracanã. Ali mora a família Vivian: Erasmo, Rozilda, Bruno e Vinícius. Pais e irmãos do meia Zé Rafael, ponta-grossense que defende as cores do Palmeiras desde 2019.

Zé será o segundo jogador nascido na cidade a disputar uma final da principal competição da América do Sul. O primeiro foi o atacante Douglas Oliveira, que em 2007 jogou pelo Grêmio e perdeu a disputa com o Boca Juniors.

Enquanto Douglas entrava em campo com o tricolor gaúcho, Zé Rafael, então com 14 anos, despontava nas quadras de futsal de Ponta Grossa. Mas a rotina esportiva entrou na casa dos ‘Vivian’ muito antes. Aos sete anos de idade, o menino Zezinho (o apelido Zé Rafael só veio nas categorias de base do Coritiba) dava os primeiros toques na bola.

Zé Rafael (agachado à direita) jogou pelo Clube Verde em PG. Foto: Arquivo Pessoal

O professor Nico, do Colégio Sagrado Coração, foi um dos primeiros a treiná-lo em copinhas locais e nos Jogos Estudantis Municipais (JEM) – tradicional evento poliesportivo da cidade. Percebendo a qualidade do garoto, o professor Cláudio Schleder, o ‘Leitão’, fez a convocação para o Clube Verde, que tinha um intenso trabalho de base no município. Foram 9 anos de parceria.

“O Zé já despontava naquela idade e era acima da média em relação aos outros meninos da mesma categoria. Ele teve um bom acompanhamento de pai e mãe. Isso tanto no incentivo quanto em não atrapalharem, o que é importante”, frisa Leitão, que também participou da formação do zagueiro Bruno Fuchs, que defendeu o Internacional nesta edição da Libertadores.

E, em relação aos pais, Zé Rafael recebia boas instruções. Dali da vila Borato, onde a família residia, Erasmo gostava de levar o menino mais velho para acompanhar jogos. Também fazia questão de carregar o filho até os treinos na escola e clubes.

Foto: Arquivo Pessoal/Cláudio Schleder

“O Zé sempre gostou de futebol. Ele assistia a futebol em casa e fazia muitos comentários, inclusive sobre o desejo de ser atleta. Ele dizia em muitas ocasiões, na sua tênue infância e ingenuidade, que a parte de seu corpo que mais gostava eram as pernas, pois ‘elas corriam e faziam gols’”, recorda Erasmo.

“Precisamos de homens”

A frase é do presidente do PSTC, Mário Iramina. Certa vez o professor Leitão rumou para o norte do estado com o objetivo de assinar convênio com o clube paranaense formador de atletas. Mário disse ao treinador ponta-grossense: “aqui não preciso de jogadores de futebol, aqui preciso de homens”. A colocação impactou e Leitão levou a frase adiante na formação dos meninos.

“É sobre eles terem atitude e conduta perante as responsabilidades. O Zé entendeu o recado e foi um dos que mais assumiu esta postura. Ele conseguia passar essa conduta para os companheiros”, relembra o treinador, que aponta outros diferenciais.

“Ele tinha uma visão diferenciada do futebol e, para virar jogador, precisa disso. Entendia bem o que estava acontecendo no jogo. Era um menino que sempre estava nos treinos e o mais importante: tinha personalidade”, ressalta.

O passo para se profissionalizar precisava ser grande, mas a família tinha consciência e resolveu apostar as fichas. “Tínhamos esperança apesar das dificuldades que sabíamos que teria. Mas tínhamos consciência do talento e, também escutando comentários e sugestões de grandes amigos meus, alguns deles que até hoje fazem parte do nosso cotidiano, resolvemos que daríamos todo apoio e lutaríamos junto com ele para conseguir este intento”, comenta o pai.

Futsal na veia

Em comparação com outros jogadores profissionais, Zé Rafael foi tarde para os gramados. Aos 15 anos ele começou a intercalar efetivamente a quadra com o campo. Por volta dos 17 é que foi chamado para o Trieste, do Amador de Curitiba.

Só que antes de pisar na grama, o então Zezinho teve que gastar sola na madeira do futsal. Sagrado Coração, Clube Verde e Colégio Sant’Ana foram alguns dos palcos de Ponta Grossa por onde ele desfilou talento. Nico, Leitão e Geraldo Machado, o ‘Gegê’, são alguns dos treinadores.

Equipe do Colégio Sant’Ana no Ginásio Zukão. Foto: Arquivo Pessoal/Cláudio Schleder

Em 2009, Gegê comandou o Verde na Taça Paraná Sub-20. Zé, que ainda era do Sub-17, integrava o elenco campeão estadual. Foi depois dessa conquista que o meia ponta-grossense partiu para o Trieste e, logo na sequência, para a base do Coritiba.

No alviverde paranaense teve a oportunidade de jogar ao lado do craque Alex, que há 22 anos faturou justamente a Libertadores pelo Palmeiras. “Ele espelha-se muito no Alex”, revela o pai.

Família

Do Coritiba, Zé Rafael pulou para o Novo Hamburgo (RS), depois Londrina e na sequência para o Bahia, onde se tornou protagonista e chamou a atenção dos grandes clubes brasileiros. O Palmeiras venceu a queda de braço e contratou o meia no dia 29 de novembro de 2018. O clube pagou R$ 14,5 milhões por 70% dos direitos do atleta.

Mesmo com camisa pesada, além de uma rotina intensa de treinos e jogos por importantes competições, o jogador não deixou a família em Ponta Grossa de lado.

“Conversamos mais por Whatsapp mesmo. Hoje, com o avanço da tecnologia, fazemos muitas ligações de vídeo. Também procuramos ir à São Paulo sempre que possível, dentro das possibilidades, principalmente aproveitando algumas folgas entre jogos, o que é bem raro no calendário atual”, conta Erasmo, que guarda troféus, medalhas e camisas do filho.

Erasmo, Rozilda, Bruno e Vinícius são a base de Zé Rafael em Ponta Grossa. Foto: Fábio Matavelli

Apesar dos contatos presenciais não serem diários, o alicerce familiar se faz constante. “Ele ajuda muito a família, sempre participa de nossas decisões e, quando é necessário, nós nos socorremos a ele e não mede esforços em estender as mãos à família. É um filho maravilhoso e extremamente solidário. É um exemplo digno a ser seguido pelos seus irmãos mais jovens e também por seus filhos”, garante.

Aos 27 anos, o homem José Rafael Vivian, crescido no Borato e finalista da Libertadores, é marido de Stephany, que conheceu em Curitiba, pai de Heitor, de 3 anos, e da pequena Helena, de 3 meses. Aquele que era o imparável Zezinho, no JEM, entra em ação nesta semana para a disputa do troféu mais importante da carreira.

Final da Libertadores para família será pela TV

Com a pandemia e limitação de convidados no Maracanã, a família Vivian vai se reunir em casa, na frente do televisor, para acompanhar a decisão entre Palmeiras e Santos.

Questionado se alguém torce para o Peixe, Erasmo Vivian é enfático. “Não. Hoje e sempre fomos todos palmeirenses. Alguns familiares que não são, independentemente do clube que torcem, são todos Zé Rafael”.

Zé Rafael quase fez parte de elenco campeão do Operário

Na preparação para o Campeonato Paranaense 2015, o então técnico do Operário Ferroviário, Itamar Schulle, tentou trazer Zé Rafael para o elenco do Fantasma. O meia já havia atuado sob o comando do mesmo treinador no Novo Hamburgo.

Na época, a direção alvinegra tentou um empréstimo junto ao Coritiba, mas a comissão técnica alviverde não liberou a transação. O ponta-grossense seguiu no Alto da Glória e o Operário goleou o Coxa, de Zé Rafael, na decisão do Estadual por 5 a 0 no agregado.

Erasmo afirma não se sentir frustrado por não ter visto o filho atuando profissionalmente na cidade natal. “Os caminhos dele seguiram para Curitiba e daí por diante. Gostaríamos que ele tivesse atuado, porém não aconteceu, mas ficam boas recordações do futsal, com vários títulos importantes para a cidade”.

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