Para embasar um investimento de R$ 60 milhões do Governo do Paraná voltado à retomada econômica do estado após os efeitos da pandemia, a Superintendência Geral de Ciência, Tecnologia e Ensino Superior (Seti) desenvolveu três estudos identificando aspectos estratégicos nesse estímulo, através de pesquisadores de universidades estaduais.
O primeiro aborda a estrutura produtiva do Paraná e a identificação de setores estratégicos para a recuperação econômica e foi feito pelos professores Umberto Antonio Sesso Filho (UEL) e Paulo Rogério Alves Brene (UENP), ambos com doutorados ligados à Economia, com a coautoria de outra pesquisa já em andamento feita por professores da UEL, Unespar e FGV/SP.
O segundo trabalho, desenvolvido pelos professores doutores da UEPG Augusta Pelinski Raiher e Alysson Luiz Stege, apresenta um relatório sobre as aglomerações industriais e do setor de serviços nas microrregiões paranaenses. Já a terceira pesquisa, elaborada pelos mesmos autores, além do professor dr. Alex Sander Souza do Carmo, também da UEPG, faz uma análise comparativa da inserção internacional dos estados de São Paulo, Paraná, Santa Catarina e Rio Grande do Sul, no período de 2015 a 2019.
Investimento
A Política Estadual de Ciência, Tecnologia e Inovação, baseada nos estudos, prevê um aporte de recursos financeiros da ordem de R$ 60 milhões, entre investimento, custeio e pessoal, a serem aplicados em quatro eixos estratégicos: Universidade/Empresa (aproximando as pesquisas teóricas da prática de mercado), Inovação para Micro e Pequenas Empresas (identificar as oportunidades vindas de empresas maiores, que compram insumos de outros locais, por exemplo), Universidade 5.0 (desenvolver produtos economicamente viáveis a partir de pesquisas universitárias) e Desenvolvimento Regional Focado em Inovação (trabalhar políticas públicas específicas para cada local), além de doze programas ligados à área.
Segundo a Seti, estudos internacionais apontam que cada milhão investido em pesquisa e desenvolvimento e em ensino superior possibilita um retorno de aproximadamente R$ 3,4 milhões na arrecadação estadual. Considerando este dado, em entrevista ao Diário dos Campos, o assessor da Seti, Michel Jorge Samaha, estima que cerca de R$ 200 milhões podem ser incrementados PIB estadual devido ao refinamento dos investimentos através do embasamento em estudos.
“A literatura dessa era é rica de mostrar que o fermento ideal para o desenvolvimento econômico é a ciência, a tecnologia e a inovação. Não existe país que alcançou rendas altas e níveis elevados sem esses elementos; sem o tecido produtivo refinado se é condenado a viver na renda média ou baixa por muito tempo”, avaliou ele.
“Ponta Grossa tem papel determinante na retomada econômica do PR”, destaca Governo do Estado
O Diário dos Campos também questionou o representante da Seti Michel Jorge Samaha sobre o papel de Ponta Grossa na retomada econômica estadual, e sua resposta foi rápida e clara: “determinante”.
“A região é podo de produção com uma cadeia diversificada. Dependendo do setor que se encontra, há os empreendedores que podem entrar pra complementar aqueles que já têm negócios estruturados. Por exemplo: muitas empresas de PG compram insumos de São aulo e Rio Grande do Sul. Os empresários locais, com estímulo e conhecimento mais aprofundado da realidade, podem investir nesses insumos, concentrando a riqueza regional e o mesmo ocorre quanto se estuda o mercado internacional”, destaca o especialista.
Geração de empregos deve ser foco no processo de retomada econômica
A primeira pesquisa mapeou a estrutura produtiva de diferentes setores que existem no estado utilizando como setores-chave características de geração de produção, emprego, rendimento, empresas e de emissão de dióxido de carbono.
Em relação aos pontos fortes, destacam-se como grandes geradores de produção – aqueles que têm uma participação acima da média nas relações de compras e vendas de insumos – a indústria alimentar (compra) e os transportes terrestres (venda).
Já os quatro segmentos mais afetados pela pandemia são apontados como os pontos fracos: organizações associativas e outros serviços pessoais; vestuário, couro e calçados; alojamento e transporte terrestre. “A perda de produção do estado do Paraná será de 36 bilhões de reais, isto equivale a 4,6% do valor total da produção durante o ano”, aponta o estudo.
Paraná
Setores estratégicos | Características | Incentivo |
Agronegócio | Setor motriz (Indústria alimentar) | Cursos de qualificação, extensão rural, implementação de novas tecnologias no campo e agroindústria |
Têxtil e vestuário | Geração de empregos de nível fundamental e médio | Microcrédito e cursos de qualificação |
Construção | Setor motriz (comprador de insumos) | Crédito imobiliário |
Comércio | Setor motriz (Atacado) Geração de empregos de ensino médio | Microcrédito, cursos de qualificação |
Logística | Setor motriz (Transporte terrestre) | Crédito |
Alojamento e alimentação | Geração de empregos (nível médio) e microempresas | Microcrédito, cursos de qualificação, incentivo ao turismo de eventos |
Desenvolvimento de sistemas | Geração de empregos (nível superior), rendimento e microempresas | Microcrédito, incubadoras tecnológicas |
Educação | Geração de emprego (nível superior) e rendimento | Implementação de novas tecnologias para adaptação à nova realidade pós-pandemia |
Saúde | Geração de emprego (nível superior) e rendimento | Crédito, investimento governamental |
Empregos
Os resultados apontam que os setores com mais capacidade de geração de empregos diretos e indiretos são: alojamento; atividades de vigilância, segurança e investigação; desenvolvimento de sistemas e serviços de informação; educação; organizações associativas e outros serviços pessoais; atividades administrativas, saúde; arquitetura, engenharia, análises técnicas e P&D; vestuário, couro e calçados; e veículos de transporte não-automotores.
“O estado do Paraná possui estrutura econômica baseada no complexo agroindustrial, pois aproximadamente um terço da renda e empregos do estado dependem direta ou indiretamente do agronegócio”, destaca o estudo.
A pesquisa também relata a participação de cada município, em porcentagem, no total de empregos gerados pelo Paraná em cada setor considerado principal. Confira, na tabela, a representatividade de Ponta Grossa, que figura entre as principais cidades em todos os segmentos.
Ponta Grossa no cenário estadual
Colocação entre os municípios | Setor | Participação no total de empregos paranaenses |
5ª | Logística (transporte terrestres e armazenamento) | 4,91% |
5ª | Educação | 4,18% |
5ª | Comércio (atacado, varejo e veículos) | 3,4% |
5ª | Saúde | 3,33% |
6ª | Tecnologia da informação | 1,76% |
6ª | Agropecuária | 1,68% |
8ª | Alojamento e alimentação | 2,71% |
10ª | Produtos químicos, borracha e plástico | 3,34% |
10ª | Agroindústria | 2,35% |
10ª | Pesquisa e inovação (serviços profissionais, análises técnicas, pesquisa e desenvolvimento) | 1,64% |
13ª | Móveis | 2,18% |
20ª | Têxtil, vestuário, couro e calçados | 1,08% |
Microrregião de Ponta Grossa possui seis aglomerados industriais e dois “embriões”
O segundo estudo determina aglomerações dos setores econômicos da Indústria e de Serviços nas microrregiões paranaenses. “Conhecendo essas aglomerações e suas demandas, será possível propor incentivos com foco na competitividade de empresas, que podem ser encadeadas às atividades produtivas já desenvolvidas em todo o território paranaense”, assegura a pesquisadora Augusta Pelinski Raiher.
Para o pesquisador Alysson Stege, a importância dessas estruturas é a absorção de mão-de-obra local e a aquisição de matérias-primas no entorno, atraindo a instalação de novas empresas nas regiões vizinhas e ampliando a cadeia produtiva existente. “Os aglomerados geram esses efeitos de transbordamento na região, pois não ficam localizados apenas em uma cidade”, salienta.
O estudo dos dois pesquisadores aponta que os aglomerados com maior intensidade tecnológica se restringem a algumas microrregiões o que indica que, no Paraná, as maiores concentrações dessas organizações são de indústrias de baixa tecnologia.
Além de listar quais microrregiões possuem e não possuem cada um dos aglomerados, o estudo também aponta os “embriões” de cada uma delas. Esses potenciais futuros aglomerados “têm certa especialização regional, concentrando parte do emprego do segmento, entretanto, não apresentam ainda um número expressivo de empresas desses subsetores. Nesse sentido, é importante identificar esses embriões de aglomerados visando estimular a atividade nessas microrregiões, desenvolvendo o potencial de aglomeração que existe nesses espaços”, indica a pesquisa.
Principais indústrias da microrregião de Ponta Grossa
SIM | EMBRIÕES | NÃO |
Fabricação de produtos alimentícios e bebidas | Fabricação de produtos têxteis | Confecção de artigos do vestuário e acessórios |
Fabricação de produtos de madeira | Metalurgia básica | preparação de couros e fabricação de artefatos de couro, artigos de viagem e calçados |
Fabricação de artigos de borracha e plástico | Edição, impressão e reprodução de gravações | |
Fabricação de produtos químicos | Fabricação de produtos de minerais não-metálicos | |
Fabricação de produtos de metal exceto máquinas e equipamentos | Fabricação de máquinas para escritório e equipamentos de informática | |
Fabricação de máquinas e equipamentos | Fabricação de material eletrônico e de aparelhos e equipamentos de comunicações | |
Fabricação de equipamentos de instrumentação médico-hospitalares, instrumentos de precisão e ópticos, equipamentos para automação industrial, cronômetro | ||
Fabricação e montagem de veículos automotores, reboques e carrocerias | ||
Fabricação de outros equipamentos de transporte | ||
Fabricação de móveis e indústrias diversas |
Estado precisa atrair empresas de setores tecnológicos
Assim como o segundo estudo, o terceiro, que trata das relações comerciais estaduais com outros países, indica que são necessárias politicas industriais que visem atrair empresas dos setores de alta tecnologia ou que fortaleçam os já existentes, consideradas uma estratégia de desenvolvimento econômico “interessante”.
Os resultados informam que o Paraná tem uma participação relevante no comércio internacional brasileiro, ocupando a quarta posição tanto no ranking de exportação quanto no de importação. “O aspecto negativo da inserção internacional do estado está relacionado a elevada concentração das exportações em produtos de baixa complexidade e conteúdo tecnológico, ao passo que as importações estão direcionadas para produtos de maior complexidade e conteúdo tecnológico. Conforme a teoria econômica, essa relação pode comprometer o processo de crescimento econômico do estado no longo prazo”, aponta.
A pesquisa indica que o estado possui Vantagem Comparativa Revelada em cinco categorias de alta tecnologia: adubos; matérias inflamáveis; veículos, suas partes e acessórios; armas e munições; e matérias albuminóides (produtos à base de amidos ou de féculas modificados, colas e enzimas.
Outro fato ressaltado é de que três categorias figuram entre as principais tanto na pauta de exportação quanto na de importação. São elas: veículos, cereais e reatores nucleares, caldeiras, máquinas, aparelhos e instrumentos mecânicos e suas partes.