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Ambulatório da UEPG dá vida nova aos recuperados da covid

Foto: José Aldinan

Assim como milhares de paranaenses, os amigos Paulo e Rauli, professores da Universidade Estadual de Ponta Grossa (UEPG), foram vítimas da covid-19 no ano de 2021. Eles ficaram entubados por mais de 60 dias, mas lutaram pela vida e se recuperaram das diversas sequelas deixadas pela doença.

A nova chance para a vida se deu com o apoio do Ambulatório Multiprofissional de Reabilitação, da UEPG, em parceria com o Hospital Universitário Regional dos Campos Gerais (HU-UEPG), que tem como foco principal a reabilitação de pacientes recuperados da covid-19.

Paulo Vitor deixou o hospital com o filho no colo, em 2021, após 70 dias internado. (Foto: Aline Jasper/UEPG)

Pioneiro no PR

Pioneiro no Paraná, o ambulatório, que conta com profissionais residentes da educação física, psicólogos, fisioterapeutas, nutricionistas, assistentes sociais, fonoaudiólogos, pesquisadores, professores e alunos da graduação e pós-graduação, realizava todo o processo de reabilitação dos pacientes no próprio HU.

Em abril de 2021, o serviço foi expandido e passou a atender os recuperados da covid-19 no Laboratório de Avaliação Física no Departamento de Educação Física localizado no Campus da UEPG.

“Dado o avanço da pandemia e o quadro físico dos pacientes recuperados da covid-19, após longo período de internação, o serviço de reabilitação foi ampliado para atender essa demanda de pacientes, evitando o agravamento das sequelas”. A proposta é oferecer atendimento após a alta hospitalar, explicou a fisioterapeuta do HU-UEPG, Juliana Carvalho Schleder, doutora em Fisiologia e Coordenadora do Ambulatório de Reabilitação do HU.

Rauli com a esposa dias após deixar o hospital. (Foto: Arquivo pessoal)

Recuperação

Além de contribuir para a melhora dos pacientes pós-covid, com a expansão dos atendimentos, o Ambulatório também passou a auxiliar pessoas que estavam internadas no HURCG por outras doenças.

Em 2021, desde o início do serviço em abril, foram realizados 2.696 consultas/atendimentos e, em 2022, de janeiro até maio, já foram computados 1.700 consultas/atendimentos. “É válido ressaltar que o mesmo paciente recebe vários atendimentos durante o Programa de Reabilitação”, disse a coordenadora.

Segundo ela, todos os pacientes que passaram pelo Ambulatório apresentaram melhoras das sequelas, sejam elas físicas, psicológicas, nutricionais. “O programa de recuperação consiste em 12 semanas e, após esse período, o paciente que ainda necessitar de acompanhamento, é encaminhado para a Atenção Primária em Saúde”, explica Juliana.

Paulo Vitor Farago: “Cheguei no Ambulatório de cadeira de rodas e, após 12 semanas, sai de lá andando”. (Foto: José Aldinan)

Prática e ensino

De acordo com o diretor da Agência de Inovação e Propriedade Intelectual (Agipi) e professor de Educação Física da UEPG, Miguel Archanjo Freitas Junior, além de auxiliar pacientes, o Ambulatório serve como laboratório de ensino e pesquisa das atividades práticas de disciplinas, ajudando na formação dos acadêmicos.

“Essa inserção da reabilitação junto a instituição de ensino, com esse rol de profissionais, faz com que o Ambulatório Multiprofissional seja inovador na inter-relação do atendimento ao paciente com o ensino”, afirma o professor.

O reitor da UEPG, Miguel Sanches Neto, comemorou a evolução do Ambulatório com a recuperação física dos pacientes que já passaram pelos tratamentos oferecidos. “Queremos ampliar esse serviço futuramente, porque ele é muito importante para a região dos Campos Gerais. O Ambulatório continuará atendendo todos aqueles que precisarem, porque não sabemos como será a evolução da doença”, disse o reitor.

Rauli ficou sem mobilidade nas pernas, braços, além da parte pulmonar que ficou bastante comprometida. Foi no ambulatório que melhorou sua força física. (Foto: José Aldinan)

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Paulo Vitor Farago, 43 anos, casado e um filho de 8 anos.

Professor dos cursos de Farmácia da UEPG, farmacêutico plantonista no HU-UEPG, formado em Direito pela UEPG e Tecnologia de Alimentos pela UTFPR.

75 dias do Hospital Universitário – de janeiro a maio de 2021

60 dias na UTI

17 sequelas da doença

Paulo Vitor Farago
Foto: José Aldinan

Paulo foi vítima da covid-19 em janeiro de 2021 quando teve os primeiros sintomas da doença após um plantão que realizou no HU-UEPG no dia 2 de janeiro daquele ano. “Naquela data ainda não tínhamos a vacina e nós estávamos trabalhando na linha de frente no hospital que se tornou referência nos atendimentos aos pacientes na região. Comecei a sentir os primeiros sintomas após esse plantão”, recordou.

O quadro de falta de ar, tosse e febre evoluiu nos dias seguintes e Paulo foi levado pela esposa ao Pronto Atendimento do HU no dia 17 de janeiro. “Optei em ir para o HU por ser a minha segunda casa e onde estavam os meus colegas de profissão”.

No dia 20 de janeiro, o professor recebeu a notícia de que precisaria ser entubado. “O médico me disse: ‘Paulo, vamos precisar te encaminhar para a entubação ou você não vai sobreviver’. O medo tomou conta de mim naquele momento, mas eu não conseguia mais respirar. Então uma enfermeira me disse: ‘Vem, Paulo, eu te ajudo’. Eu via a tensão nos olhos dos meus colegas. Então fiz uma oração e disse: ‘Podem me entubar'”, relatou emocionado ao se recordar do momento.

Após dias internado, Paulo realizou acompanhamentos de recuperação no próprio hospital e depois foi um dos primeiros pacientes que foi encaminhado ao Ambulatório de Reabilitação. “Eu só conseguia mexer a língua e os olhos. Não conseguia ficar sentado e muito menos andar. Cheguei no Ambulatório de cadeira de rodas e, após 12 semanas, sai de lá andando”.

“O meu objetivo era lutar pela vida plena. Os profissionais me trouxeram à vida de novo. Se eu tive oportunidade de sobreviver, eu não iria desistir. E cada dia tem sido uma vitória”, comemorou.

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Rauli Gross Júnior – 47 anos, casado e um filho de 16 anos

Professor do curso de Direito da UEPG e chefe de gabinete da Reitoria.

63 dias na UTI do Hospital São Camilo – de março a maio de 2021

Foto: José Aldinan

Depois de uma semana internado, Rauli conta que implorou para ser entubado. Ele relata que não se lembre, mas pediu para falar com a esposa momentos antes de ficar inconsciente, no dia 19 de março de 2021. “Em três dias, o meu pulmão que estava 50% comprometido evoluiu para 80%. Eu cheguei a implorar, mas não lembro. Os profissionais que me contaram. Eu cheguei a pagar algumas contas antes de qualquer coisa”, relatou.

Foram 45 dias em coma e, segundo ele, os médicos já haviam dito que ele não voltaria mais. “No dia 14 de abril, uma enfermeira da UTI ouviu quando um profissionais que eu não acordaria mais. Ela então resolveu fazer uma oração e pegou nas minhas mãos. Enquanto ela rezava, eu abri os olhos. Foi o dia do meu renascimento”, contou ele emocionado. Das 18 pessoas que ficaram internadas com ele na UTI, 15 morreram.

A covid também deixou sequelas em Rauli que ficou sem mobilidade nas pernas, braços, além da parte pulmonar que ficou bastante comprometida. “Tive conhecimento do Ambulatório através do meu fisioterapeuta. Foi ele quem me colocou em pé quando sai do hospital e depois me indicou o Ambulatório como uma referência. E vejo que foi um trabalho de excelência na minha evolução. Melhorou muito minha força física, pois eu perdi a força no quadril e caia muito. A partir dos exercícios houve esse fortalecimento. Por outro lado, lamento muito por todos que faleceram”, finalizou.

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‘Saúde e qualidade de vida pós-covid’

A partir do Ambulatório, o curso de Educação Física da UEPG desenvolveu o projeto de extensão chamado de ‘Saúde e qualidade de vida pós-covid’, sob a coordenação das professoras Dra. Carolina Paioli Tavares, docente adjunto do Departamento de Educação Física da UEPG e da professora colaboradora Dra. Cláudia Moraes e Silva Pereira, supervisora do projeto.

“Em acordo com a coordenação do Ambulatório, direção do hospital e Departamento de Educação Física, fizemos a proposta de avaliar os pacientes que ali estavam sendo atendidos. O projeto de extensão, criado em maio de 2021, avalia a composição corporal e a capacidade cardiorrespiratória para entender as consequências da doença. Essas informações nos ajudam a compreender como os sistemas musculoesquelético e respiratório, os mais afetados pela doença, se comportam no processo de reabilitação”, disse a professora Carolina.

Os equipamentos de avaliação física usados nas avaliações, como balança de bioimpedância e analisador de performance cardiovascular, foram cedidos através de uma parceria público-privada, pelo Instituto de Avaliação Física e Saúde La Bonne Santé, onde a professora Cláudia Moraes e Silva é proprietária.

Dados referentes aos dados do HU
Atendimentos de pacientes no Hospital Universitário de Ponta Grossa. (Infográfico: Matusalém Vozivoda)

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