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Uma a cada quatro pessoas quer escolher qual vacina contra a covid-19 tomar; especialistas discutem a eficácia e o receio

Médico e historiador argumentam que é necessário respeitar e confiar nas autoridades técnicas

O pneumologista Pedro Compasso e o historiador e professor de sociologia e filosofia Yuri Sócrates discutiram movimentos anti-vacina e assuntos relacionados (Foto: José Aldinan)

Um estudo realizado na semana passada pela Paraná Pesquisas com brasileiros de todos os estados apontou que 26,9% da população – proporcionalmente, mais de uma a cada quatro pessoas – afirma que, caso não seja obrigatória, pretende tomar a vacina contra a covid-19 apenas dependendo de qual país ela será importada. Esse receio quanto à eficácia é um comportamento já visto em outros momentos da história e, para falar sobre isso e sobre a efetividade das vacinas, a reportagem do Diário dos Campos entrevistou o pneumologista Pedro Compasso e o historiador e professor de sociologia e filosofia Yuri Sócrates.

Atualmente pelo menos três vacinas contra a covid-19 estão em fases avançadas de testes: a chinesa, a russa e a desenvolvida pela Universidade de Oxford. Sobre qual delas é melhor, Compasso é categórico: “Quando você está se afogando e vê um pedaço de pau em que pode se segurar não vai ver de que tipo de madeira ele é”.

Para ele, todas as vacinas aprovadas e regulamentadas pelos órgãos mundiais da saúde são consideradas seguras e devem ser utilizadas pela população. “É preciso parar de ter aquela visão distorcida das coisas movida pelas suas paixões e não pela ciência. Temos que ter mais senso crítico desligado das suas correntes e mais senso coletivo. Se você nunca estudou sobre o assunto não diga o que vai funcionar e o que não vai”, frisou Compasso.

Autoridades técnicas

Na semana passada Curitiba foi palco de um protesto de um grupo anti-vacinas – pensamento esse que existe há mais de um século. O professor Yuri lembrou da Revolta da Vacina, ocorrida em 1904 no Rio de Janeiro, quando a população foi às ruas para protestar contra a obrigatoriedade da vacinação que visava combater a varíola.

“Ainda que esse acontecimento esteja distante, os motivos que estimulavam as pessoas a este posicionamento eram semelhantes aos de hoje. Não tem a ver com a classe social da pessoas, mas com o desconhecimento e o não reconhecimento da autoridade”, destacou o historiador, que foi complementado pelo pneumologista: “Se você não tem informações respeite quem tem mais que você”, categorizou.

“Depois de tanto tempo está provado que nenhum tratamento é 100% efetivo para todas as pessoas, já que temos vários, mas nenhum que funcione para todo mundo. A vacina tende a equalizar isso, pois fornece antígenos para que a população produza anticorpos – e nenhum tratamento faz isso”, ressaltou Pedro Compasso.

Para o professor dr. Yuri, os movimentos que vão na contramão da ciência denotam o quão pouco de ciência a população conhece. “Com esse desconhecimento outras formas de saber vão se alocando, como paixão política, fervor religioso… O maior antídoto que a gente pode ter contra uma situação como essa de anti-vacinação é deixar muito claro o termo autoridade e o termo poder: o governo tem o poder de transformar a vacinação em algo obrigatório, os profissionais de saúde e pesquisadores têm autoridade para dizer se a vacina é eficaz e é necessário distinguir quem tem que respeitar essas autoridades”, disse ele.

Coletividade

Os dois especialistas são de áreas distintas, mas concordam que a vacinação é um ato de coletividade acima de saúde individual. “Se você não tem ninguém do grupo de risco em casa é fácil sair. É preciso pensar mais no coletivo e entender que a vacina não é só para você, pense nas famílias que já perderam pais, filhos, irmãos… cada decisão tem que ter uma motivação, então temos que nos questionar se estamos com as motivações certas”, afirmou o médico, levantando uma reflexão: “O quanto esse seu poder de decisão de não querer tomar a vacina seria mais forte do que a indiferença em ver seu pai ou sua mãe morrerem da doença?”.

Já o professor fez um paradoxo com casos já ocorridos. “O que a gente mais tem na História são exemplos de como o egoísmo do ser humano pode ter repercussões negativas. Uma das práticas que havia de dizimar a população nativa era a proliferação de vírus. Quer algo mais mesquinho e agressivo do que colocar em cima de um cavalo um corpo com varíola e jogar pra dentro de uma tribo? Era uma prática recorrente, um sentimento de que apenas a própria comunidade devia sobreviver”, lembrou Sócrates.

COMO ESCOLHER AS MELHORES VACINAS E O MEDO HISTÓRICO DE TOMÁ-LAS

Com pelo menos três vacinas contra a covid-19 em fase final de testes, muitas pessoas estão se perguntando: como escolher qual é a melhor a se tomar? Muita gente também está manifestando um certo medo de se vacinar, comportamento que se repete ao longo dos anos, doenças e pandemias. Convidamos o pneumologista Pedro Compasso e o Prof. Dr. Yuri Hichmeh para discutir esses assuntos. Acompanhe!

Posted by Diário Dos Campos on Thursday, September 17, 2020

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