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Cultivo de cevada nos Campos Gerais cresce impulsionado por nova indústria

Ações de fomento se devem à maltaria que está sendo construída em Ponta Grossa

Foto: Arquivo DC

Neste ano a região de Ponta Grossa plantou 24 mil hectares de cevada, o dobro da safra de cinco anos atrás. Comparado ao ano passado o número é 19% maior, e a 2020, 33% maior. O motivo? O anúncio, feito no primeiro ano da pandemia, da construção bilionária de uma maltaria na maior cidade dos Campos Gerais.

A indústria é encabeçada por seis cooperativas, que desde então vêm fazendo um trabalho de fomento da cultura junto aos seus produtores.

Os resultados já começaram a ser – literalmente – colhidos: a produção saltou de 45 mil toneladas em 2018 para 66,7 mil em 2019, 71,5 mil em 2020 e 77,6 mil em 2021, número que pode chegar a 100,8 mil toneladas neste ano caso as estimativas do Departamento de Economia Rural (Deral) da Secretaria Estadual de Agricultura e Abastecimento (Seab) se concretizem.

“A cevada entra como uma opção a mais para a rotação de culturas para a rentabilidade de inverno, o que agrega bastante na produção e em fatores como fluxo de caixa e diluição de risco. Nós já vínhamos com uma produção crescente, mas aceleramos com a chegada da maltaria”, conta Marcelo Côrtes Cavazotti, Gerente Executivo Agrícola da Frísia. Segundo ele, os investimentos na cultura são tanto culturais e organizacionais, quanto estruturais. 

“Estamos trabalhando com seis linhas de ação: investimentos em infraestrutura, como R$ 10 milhões para a compra de secadores específicos para cevada, por exemplo, investimento em pesquisa, através da Fundação ABC, capacitação de técnicos e parceiros, inclusive com troca de informações com a Agrária, nossa parceira na maltaria, incentivo ao uso de seguros mais adaptados à região, estudos de rentabilidade e comparativos com outras culturas de inverno e as ações junto aos produtores, parte mais importante do processo”, destaca ele.

Na prática

Carlos Henrique Jansen (Foto: Arquivo pessoal)

Carlos Henrique Jansen é um dos produtores que decidiu dar ouvidos à cooperativa agroindustrial que integra. Há cerca de seis anos ele tinha decidido desistir da cevada por conta dos riscos; na última safra plantada ele chegou a perder tudo. Mas agora, com o incentivo da Frísia e o investimento da maltaria, optou por dar mais uma chance à planta que pode tornar cerveja.

“Estou aproveitando um espaço que não era usado no inverno. Destinei uma parte para a cevada, o dobro dela para o trigo e o triplo para as aveias, mas só voltei porque sou cooperado. A Frísia vai até a fazenda, dá assistência e compra a produção. Espero um rendimento de 5 a 6 kg por hectare”, conta ele, que é produtor rural há 24 anos e concentra as suas propriedades em Ipiranga, cidade vizinha à Ponta Grossa.

A história de Israel Travensoli é parecida. Há cerca de cinco anos ele decidiu parar de plantar cevada após grandes perdas, mas este é o segundo inverno consecutivo que está apostando novamente na planta. 

“No ano passado plantei 45 hectares de cevada, nesses 170 hectares e já fiz uma pré-venda de 30% da produção. Voltei pelo incentivo da Frísia, que deu um apoio técnico especial aos produtores”, afirma.

Na cooperativa,em geral, a intenção é dobrar a produção de cevada em três anos. “O intuito é ampliar a produção dos Campos Gerais, que tem um grande potencial produtivo por fatores como a sua temperatura, altitude e zoneamento agrícola”, destaca o gerente de negócios da Frísia.

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Maltaria

A “Maltaria Campos Gerais” está sendo construída em Ponta Grossa, nas margens da PR-151. Ela é fruto de uma intercooperação entre as cooperativas Frísia (Carambeí), Castrolanda (Castro), Capal (Arapoti), Bom Jesus (Lapa), Coopagrícola (Ponta Grossa) e Agrária (Guarapuava) – que já possui a maior maltaria da América Latina.

Juntas, elas somarão um investimento de R$ 3 bilhões noa indústria, que será construída em duas fases. A primeira tem previsão de inauguração no segundo semestre de 2023 – mas como localmente a cevada é colhida apenas a partir de outubro, a produção desse ano já deve ser comprada para garantir o abastecimento da fábrica.

“A Agrária possui um programa de originação de cevada e já trabalha há cinco anos com produtores parceiros na região dos Campos Gerais. A produção de cevada deste ano nos Campos Gerais será toda destinada às atividades da nova maltaria”, destaca Jeferson Caus, Gerente Comercial da Agrária. 

A estimativa é que a fábrica tenha uma produção de cerca de 240 mil toneladas de malte anualmente, volume que hoje corresponde a 15% do mercado nacional. Com isso, o potencial de plantio de cevada apenas dos Campos Gerais poderá se consolidar em 100 mil hectares por ano e beneficiar mais de 12 mil cooperados. O empreendimento deve gerar pelo menos cem empregos diretos e outros mil indiretos e o faturamento esperado da fábrica de malte é de R$ 1 bilhão por ano.

Neste mês representantes do Sistema Ocepar visitaram as obras da maltaria e divulgaram fotos do andamento das obras. Confira neste link.

Arte DC

Cevada no Paraná

O mercado paranaense de cevada ainda é tímido e concentrado. Segundo estimativa do Deral, apenas 2 a cada 5 (38%) dos 21 núcleos regionais do estado produziram o cereal na última safra já colhida, do ano passado. 

A concentração é na região Sul, que engloba as líderes Guarapuava – que com 188,8 mil toneladas foi responsável por 63% de toda a colheita paranaense – e Ponta Grossa – responsável por 26% da cevada do Paraná, com 77,6 mil toneladas.

No total, em 2021 o estado produziu 296.780 toneladas em uma área de 74.734 hectares. caso a estimativa do Deral se concretiza, neste ano a área 6% maior, de 78.940 hectares, pode produzir 21% a mais, alcançando a marca de 358 mil toneladas.

Viabilidade econômica

A Fundação ABC, ligada a três das seis cooperativas do novo investimento, realiza pesquisas com cultivares de cevada desde 1999.

Segundo Claudio Kaap Junior, economista rural da Fundação ABC, a cultura é uma boa opção de rentabilidade, semelhante à cultura do trigo (alguns anos mais lucrativa outros anos menos). “Mas não precisa necessariamente competir com essa cultura no inverno, e sim servir como uma opção adicional de rotação frente ao contexto sustentável do sistema de produção”, afirma o especialista.

Ele destaca que é importante observar que toda atividade agrícola possui um risco inerente às intempéries e com as culturas de inverno não é diferente. “No entanto, todo risco pode ser calculado em cada propriedade e se possível mitigado”, frisa.

“O produtor rural tem um grande desafio que é rentabilizar a sua propriedade à altura do custo da terra (que na região dos Campos Gerais é alto). Caso contrário, não seria interessante praticar a atividade. Isso demanda domínio de uma visão sistêmica da propriedade; em outras palavras, estar atento a tudo que ocorre e suas consequências financeiras”, avalia Claudio.

“Para fazer frente a esse desafio uma etapa importante é o planejamento das unidades de negócio. Quando falamos da agricultura em específico, estruturar o sistema de produção com o técnico responsável pela propriedade, como o engenheiro agrônomo, por exemplo, é uma etapa que exige grande conhecimento sobre o comportamento das culturas e suas cultivares frente às condições disponíveis na propriedade. Nesse sentido, estamos falando de um encaixe entre várias possibilidades que possuem viabilidade técnica, e a rotação das mesmas possui grande influência na sustentabilidade”, analisa o economista rural.

Claudio Kaap Junior, economista rural da Fundação ABC (Foto: Divulgação)

Pesquisa

A pesquisa é uma boa aliada da produtividade – e neste quesito novamente o cooperativismo se destaca na região dos Campos Gerais, através da Fundação ABC.

“Além de buscar cultivares adaptados para os diferentes ambientes de produção, também há foco em diversos desafios da cultura, relacionados a controle de pragas, doenças e plantas daninhas, nutrição vegetal e adaptação de tecnologias usadas em outras culturas, especialmente trigo. Também há diversas pesquisas com cevada para nutrição animal”, explica Helio Antonio Wood Joris, coordenador de pesquisa em fitotecnia, que reforça que há muitas opções de variedades de cevada que podem ser utilizadas para a produção de malte.

“O principal desafio é encontrar as mais adaptadas para cada região produtora. O trabalho de pesquisa de cultivares é bastante estratégico, pois a escolha influencia toda a cadeia de produção. A variedade mais usada pode mudar de uma safra para outra, de acordo com a evolução do melhoramento genético para a cultura. Os cooperados e contribuintes da Fundação ABC têm acesso direto a essas informações referentes à escolha do cultivar de cevada”, reforça Joris.

Helio Antonio Wood Joris, coordenador de pesquisa em fitotecnia (Foto: Divulgação)

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