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Vídeos virais integram campanha contra compartilhamento de imagens íntimas na internet

Compartilhar vídeos íntimos na internet não é apenas uma agressão à vítima; é crime e deve ser denunciado. O alerta é tema da nova campanha de conscientização da Prefeitura de Curitiba, lançada nesta quinta-feira (9) nas mídias sociais. Com o mote “Se não é pra você, é melhor nem ver”, a campanha pretende contribuir para barrar o avanço da violência contra as mulheres – principais vítimas da chamada “pornografia de vingança”, cujas ocorrências quadruplicaram no Brasil nos últimos dois anos, de acordo com a ONG SaferNet.

Batizada de “As mulheres incompartilháveis”, a campanha é uma iniciativa das secretarias municipais da Mulher e da Comunicação Social, e consiste em quatro peças exclusivas para WhatsApp e um vídeo case, ferramenta publicitária que tem se mostrado uma forte aliada das campanhas institucionais de conscientização e voltadas à mudança de comportamento. A ideia é que o conteúdo seja compartilhado por um grande número de pessoas, chamando a atenção para o drama vivido por milhões de pessoas no mundo todo, na maioria dos casos mulheres, que são vítimas da “pornografia de vingança” – a exposição de sua privacidade na internet, sem seu consentimento e em retaliação pelo fim de um relacionamento amoroso.

Constantemente a imprensa tem noticiado tragédias pessoais causadas pelo impacto dessa violência sobre mulheres e meninas que têm sua vida devastada, sua imagem abalada ou precisam mudar de casa, de cidade, de escola, local de trabalho e até, no desespero, atentam contra a própria vida.

A campanha alerta que, além do autor das imagens, pessoas que compartilham essas peças também podem ser responsabilizadas pela prática da pornografia de vingança. E incentiva a denúncia por meio dos telefones Ligue 180, da Central de Atendimento à Mulher do governo federal, que funciona 24 horas por dia, todos os dias da semana, inclusive nos feriados.

“A mudança de comportamento precisa se dar na mesma velocidade com que os abusos se espalham e são potencializados pelas inovações da tecnologia”, diz a secretária da Mulher, Roseli Isidoro. “É incrível como a violência contra as mulheres se aperfeiçoa e se adapta rapidamente aos avanços tecnológicos e, de repente, uma ferramenta de integração e de comunicação, que deveria facilitar a vida das pessoas, passa a ser vitrine também das violências de gênero”, completa.

Mulheres Incompartilháveis

Para sensibilizar um público significativo, a estratégia da campanha é de intensificar as ações nas redes sociais da Prefeitura de Curitiba, em especial o Instagram e o Facebook, e também junto a instituições públicas e veículos de imprensa. A página da “Prefs” no Facebook conta com mais de meio milhão de seguidores.

O diretor de Marketing da Prefeitura de Curitiba, Marcos Giovanella, explica que a ideia surgiu em maio, quando a equipe de criação da Master Comunicação elaborava campanha contra a violência sexual de crianças e adolescentes. “As propagandas institucionais da Prefeitura de Curitiba têm hoje a marca da preocupação social e comportamental. É papel nosso, de comunicadores de um serviço público, orientar e informar o cidadão. Por isso, vamos bater bastante nesse assunto”, diz.

A campanha foi idealizada por profissionais de criação da Master, uma das agências de publicidade que prestam serviços para a Prefeitura. O diretor de criação, Fellippe Motta, o diretor de artes, Rafael Guth, e o redator Lucas Borba são os autores da ideia. “Incomoda profundamente imaginar a dor de uma família ou de uma pessoa que vivencia uma situação assim”, argumenta Guth.

Os três se desafiaram a “encontrar um jeito de usar esse tipo de crime cometido na ferramenta do WhatsApp contra ele mesmo”, como contam. Estudaram o funcionamento dessas publicações e perceberam que poderiam utilizar como “isca” a própria imagem borrada que aparece na tela do aplicativo antes de as pessoas fazerem o download do vídeo.

“Foi a arma que encontramos para inibir e explicar que quem ajuda a disseminar se torna também um agente ativo dessa ação, mas o usuário do aplicativo pode, antes, tomar a atitude de não abrir e de não compartilhar”, informa Felippe Motta. “As pessoas em geral acham que se um vídeo dessa natureza chegou até elas é porque é de domínio público, e não é assim”, completa. As peças que foram criadas exclusivamente para o WhatsApp são provocativas, servem para alertar e diminuir o compartilhamento dos vídeos íntimos sem autorização das vítimas da pornografia de vingança.

Responsabilização compartilhada

O chefe da Delegacia de Crimes Cibernéticos da Polícia Civil do Paraná (Nuciber), delegado Demétrius Gonzaga de Oliveira, confirma que a responsabilização pela vingança eletrônica é compartilhada. “Não apenas o autor, mas toda pessoa que divulgar pode responder pelo crime. No processo cível, todos que forem identificados poderão ser arrolados para fins de pagamento de indenização à vítima”, informa. Se a vítima foi menor de 18 anos, pode ser caracterizada a prática de pedofilia.

O delegado informa que, em média, dois casos por semana são denunciados à Nuciber e que 99% das ocorrências investigadas envolvem falsa identidade ou codinome e demandam um trabalho tecnológico de rastreamento das conexões e linhas utilizadas para propagação.

De acordo com a ONG SaferNet, que atua na defesa de direitos humanos na internet, o número de vítimas da pornografia de vingança no Brasil quadruplicou em apenas dois anos. Em 2014, 224 internautas buscaram ajuda da organização para denunciar essa prática. Em 2012, foram 48 os casos registrados. A pornografia de vingança atinge, principalmente, mulheres (81%) e 28% delas têm idade entre 18 e 25 anos. Em cada quatro vítimas, uma é menor de idade (25%). São meninas entre 12 a 17 anos.

A secretária nacional de Enfrentamento da Violência Contra as Mulheres, Aparecida Gonçalves, diz que a internet e as redes sociais estão demonstrando a continuidade do machismo, que se estende para esses ambientes digitais e que reforça a colocação da mulher na condição de propriedade e objeto dos ex-maridos, ex-namorados e ex-companheiros. “A mensagem passada é bastante clara: de que o nosso corpo não nos pertence e quem determina o que faz e como faz são eles e não elas”, critica a secretária nacional. “É muito importante e também necessário esse alerta e essa conscientização promovidos pela Prefeitura de Curitiba. Mais uma vez, Curitiba protagoniza uma ação efetiva de enfrentamento da violência contra as mulheres e reforça o compromisso de tolerância zero para essa questão”, afirma.

Em 2005, fotos da jornalista de Maringá Rose Leonel foram parar em sites internacionais de prostituição, por vingança do ex-noivo. Informações e contatos pessoais, número de telefone celular, do trabalho, de familiares e o endereço residencial dela foram publicados junto com a falsa divulgação de serviços sexuais e, de uma hora para outra, a vida de Rose foi virada do avesso. O caso motivou discussões no Congresso Nacional. Outro episódio muito conhecido foi o da invasão do computador da atriz Carolina Dieckmann. Tanto que a lei que pune crimes de informática (12.737/2012) ganhou popularmente o nome da atriz.

Telefones para denúncia

Disque 100 – da Secretaria Nacional de Direitos Humanos da Presidência da República

Ligue 180 – da Central de Atendimento à Mulher do governo federal

Os dois números atendem 24 horas por dia, todos os dias da semana, inclusive nos feriados.

(Informações da Prefeitura de Curitiba)

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