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“Saúde precisa de gestão, dinheiro tem bastante”, aponta Ricardo Barros 

Deputado federal pelo Paraná no sexto mandato e ex-ministro da Saúde no governo Michel Temer, Ricardo Barros (PP) avaliou, em entrevista por videoconferência ao Diário dos Campos, nesta terça-feira (19), como a troca de ministros afeta o enfrentamento do país ao novo coronavírus. Ele destaca ainda não que falta recurso ao governo federal. O problema, falou à jornalista Millena Sartori, é a gestão. Na conversa, ele ainda defendeu o uso da cloriquina. Acompanhe trechos da entrevista. 

Diário dos Campos – O Brasil é o país com o terceiro maior número de casos no mundo. A troca de ministro recente atrapalhou ou ajudou para o aumento de casos no país? 
Ricardo Barros – Bem, a primeira troca de ministro foi positiva, porque o ministro [Henrique] Mandetta, embora tivesse dito em sua entrevista de despedida que teve orçamento ilimitado  e autonomia para escolher seus assessores, ele efetivamente não conseguiu comprar equipamentos de de proteção individual, respiradores, e nós não melhoramos. Então o isolamento, que tem por objetivo adiar o pico da epidemia para que, quando ele vier, o país esteja melhor preparado, apesar de já estarmos há mais de 90 dias tratando com a epidemia da covid. 
Depois  entrou o ministro [Nelson] Teich e acabou saindo. Desde que o general [Eduardo Pazuello] permaneça, a equipe dele está comprando, está realmente produzindo resultado. Então, mantido o general como ministro ou como ministro interino, ou como secretário-executivo, não tivemos prejuízo nesta troca de ministros, porque, de fato, o general é que tinha montado toda a estrutura operacional do ministério, e esta estrutura fica mantida com sua permanência. 

D.C. – O presidente falou que está reunindo currículo para o cargo de ministro. Qual o perfil que deveria ser o perfil do novo ministro, em sua opinião?
R.B. – Eu acho que o general vai dar conta de, neste momento de crise, fazer um bom trabalho e depois continuar. Agora se o presidente quiser trocar, precisamos que a pessoa tenha familiaridade com o SUS, com a saúde pública, porque o Ministério não tem força impositiva, quem executa as ações de saúde, na ponta, são os prefeitos que tem gestão plena e os estados. Mas, o ministério, em si, não executa ações de saúde, então é preciso muita articulação, convencimento na comissão tripartite– estados, municípios e União – para que haja convergência de política de atuação de saúde. Eu penso que o perfil a ser buscado no ministro da Saúde deve ser alguém que conheça a saúde na ponta, entenda o funcionamento do sistema de saúde, tanto no privado quanto no público. É preciso alguém que tenha conhecimento disso e tenha capacidade de gestão; pode ser um médico gestor ou uma pessoa que não seja médico, que seja bom gestor. Porque a saúde precisa de gestão, dinheiro tem bastante. 

D.C.- O senhor acredita que o seu partido o apoiaria a ocupar a vaga, especialmente por já ter experiência do governo anterior. 
R.B. – Olha, eu não tenho, honestamente, esta pretensão. Eu fui ministro por 22 meses, o quinto ministro mais longevo da história, já que a média de permanência dos ministros da Saúde é de dez meses. É uma posição de muito risco, de muita pressão e de muito trabalho, já que 50% das emendas parlamentares estão no Ministério da Saúde. Cumpri bem esta tarefa, já dei minha colaboração, espero não ser convidado para voltar para o Ministério. 

D.C. – E se fosse convidado?
R.B. – Estou fazendo um grande esforço para não ser convidado, porque para mim é a solução mais confortável. 

D.C. – Considerando a experiência como ministro da Saúde, o que teria feito de diferente que os outros gestores fizeram em meio à pandemia?
R.B. -É muito difícil falar do trabalho dos outros, porque cada um tem sua característica pessoal, mas na primeira entrevista o ministro Mandetta falou que só ia testar quem tivesse internado. Depois falou em 20 milhões de testes. O ministro Teich falou em 40 milhões de testes, que não chegaram. Então a orientação é, por exemplo, que o cidadão que tiver sintomas da covid, como febre e dor de cabeça, para que fique em casa. Se tiver falta de ar, vá para o serviço de saúde. Está errada esta orientação:  temos  pessoas com sintoma sem receber atendimento.  
Se testar as pessoas logo no início dos sintomas, muitos não irão agravar, não vão precisar internar, precisar de respirador ou UTI. Então eu penso que tem que mudar a orientação e cuidar das pessoas já no início dos sintomas. 

D.C. – Considerando os casos assintomáticos, qual o tipo de isolamento que seria mais efetivo no combate à covid?
R.B – Eu defendo o isolamento vertical, que é o isolamento só dos idosos e das pessoas imunodeprimidas. 

D. C. – O país tem estrutura e orçamento econômico para combater esta pandemia?
R.B. – Tem orçamento ilimitado, com o orçamento de guerra que foi estabelecido não tem limite para gastar com covid. A dificuldade é comprar os equipamentos, pois os órgãos de controle atuam muito fortemente e impedem o servidor público de fazer estas compras emergenciais, mas o servidor de carreira tem medo dos órgãos de controle. Tem estrutura e excelente equipe, e precisa só de coragem para tomar decisão, e é isso que estou vendo com o general Pazuello como ministro. 

D.C. – Ao aliviar a fiscalização sobre as compras públicas, não se tem certo espaço para aumentar a corrupção?
R.B. – Claro, não há dúvidas sobre isso, mas estamos tentando salvar vidas; se o respirador é superfaturado ou não ele vai salvar vidas. Então a ação do Ministério Público e dos tribunais de conta pode acontecer depois da epidemia. Mas, impedir que equipamentos venham ou aterrorizar o servidor público para que não tenha coragem de assinar a compra de equipamentos porque eventualmente pode cometer erro, estamos há 90 dias sem respiradores e não podemos comprar. Os órgãos de controle tem muita culta em não termos estruturado o sistema de saúde adequadamente. 

D.C. – Na questão de estruturar o sistema, qual a atuação do ministério levando em conta que os Estados estão agindo individualmente. 
R.B. – A saúde é descentralizada. Tem estados comprando respiradores, agindo efetivamente, outros esperando que o governo federal compre e mande entregar. Precisava ter articulação melhor. Cada estado tem uma estrutura de saúde diferente, um tem sistema de imunização eficiente, outros não. Cada estado e município tem que decidir qual a melhor política para tratar. A definição da OMS de tratar igual em todos os países é um erro. 

D.C. – Qual a sua avaliação sobre a interferência do presidente na pasta. 
R.B. –  Sobre o isolamento, a definição é prerrogativa do prefeito e governador. O ministro Mandetta falou que tinha apoio e recursos. Então o presidente nunca desautorizou o ministro Mandetta; ele [Bolsonaro] apenas discursa contra o isolamento, mas não agiu administrativamente contra o isolamento. O Teich saiu por causa da cloroquina. Eu tomei cloroquina, não faz mal a ninguém; o Conselho de Medicina baixou resolução que pode ser ministrada desde que tenha acordo entre médico e paciente. 

D.C. – O que pensa sobre implantar no protocolo do Ministério ou não o uso dacloroquina?
R.B. – A questão do protocolo é do financiamento é para que seja disponível  é para que esteja disponível para as pessoas. Já está liberado para ser ministrada para todos. Esta é discussão inócua; só teremos certeza depois de estudos clínicos. Como não temos tempo para isso, precisamos autorizar ou não as pessoas para que tomem um medicamento que pode atuar contra a covid. 

D.C. – Como o senhor avalia as ações que o Governo do Paraná e municípios vêm tomando em meio à pandemia?
R.B. – Cada município tem seu próprio ritmo e decisões. O governo do Estado tem feito a sua parte no sentido de dar orientação e estruturação ao sistema de saúde. O Paraná é um dos estados que está mais confortável na situação da covid. 

Acompanhe a entrevista completa 

 

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