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Presidente da CNI avalia cenário da indústria

 

Miguel Ângelo/CNI

Robson Braga de Andrade, presidente da Confederação Nacional da Indústria (CNI): “Fizemos nosso dever de casa”

 

 

 

Mineiro de São João Del Rey e engenheiro mecânico formado pela Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), Robson Braga de Andrade assumiu a presidência da Confederação Nacional da Indústria (CNI) em outubro de 2010. Antes, foi presidente da Federação das Indústrias do Estado de Minas Gerais (FIEMG) por dois mandatos (2002 a 2010). À frente da CNI, tem atuado firmemente, junto ao governo federal e ao Congresso Nacional, na adoção de medidas que ampliem a competitividade da indústria e melhorem o ambiente de negócios no país. A CNI representa a indústria brasileira, setor que responde por um quarto da economia nacional, emprega um em cada quatro trabalhadores com carteira assinada e é responsável por um terço dos investimentos em pesquisa e desenvolvimento do país. Reúne 27 federações de indústria e cerca de 1.200 sindicatos do Brasil inteiro. Durante essa entrevista exclusiva que concedeu à rede formada pela Associação dos Diários do Interior do Brasil (ADI-BR) e Central de Diários do Interior (CDI), foi categórico: “O modelo de estímulo ao consumo para recuperar a atividade econômica está se esgotando”.

 

Qual sua opinião sobre o programa Brasil Maior?

 Robson Andrade – As medidas do Plano são positivas, tanto na área de desoneração tributária quanto na de financiamento. Respondem, em parte, à perda de dinamismo e de competitividade da indústria. A redução para 50% da parcela do faturamento oriundo das exportações para enquadramento como empresa exportadora, por exemplo, permite que mais empresas se beneficiem da isenção de IPI e PIS/Confins na compra de insumos. A ampliação a outros setores da desoneração da folha de pessoal, que deveria ser opcional e não obrigatória, também é bem-vinda. Mas o Plano Brasil Maior deve e tem de ser aperfeiçoado. Não pode se limitar a medidas pontuais e transitórias. O modelo de estímulo ao consumo para recuperar a atividade econômica está se esgotando, pela inadimplência elevada e pelo endividamento das famílias.

 

O que está faltando?

 RA – Falta ainda muita coisa. Aumentar a competitividade das empresas brasileiras, absolutamente crucial numa concorrência cada vez mais feroz, com o estreitamento dos mercados provocado pela crise econômica internacional, é um processo. Como processo, exige outras ações, de caráter mais estruturante. Uma delas é a redução dos custos da tarifa de energia elétrica, a quarta mais cara do mundo, que o governo, finalmente, anuncia que fará. Essa, sim, é uma medida estruturante, com efeito imediato na competitividade, pois reduz custos. Outra, a recuperação dos créditos de exportação. Uma terceira medida importante seria a compensação de créditos em tributos federais. Sem falar na necessidade de melhorar a precária infraestrutura do país. O repertório é amplo.

 

Tem sido divulgado que o Brasil está em plena ascensão industrial, em crescimento. Isso é fato?

 RA – Não, não é fato. Muito pelo contrário. A indústria de transformação, que é o eixo dinâmico do setor, estagnou no ano passado, com um crescimento de apenas 0,1%. Acendeu a luz vermelha e, por isso, o governo se viu obrigado a baixar duas edições do Plano Brasil Maior, a primeira em agosto de 2011 e a última em abril desse ano. O quadro de estagnação, infelizmente, não mudou de 2011 para cá. Pesquisas recentes da CNI sobre o comportamento da indústria, tanto a Indicadores Industriais quanto a Sondagem Industrial, apontam quedas na produção, no emprego, nas horas trabalhadas, na utilização da capacidade instalada.

 

O crescimento é fogo de palha ou podemos falar em voo de cruzeiro? A indústria brasileira vai continuar crescendo?

 RA – Não é possível, infelizmente, prever uma velocidade de cruzeiro para a indústria no curto prazo, principalmente pelas turbulências da economia internacional. O setor industrial como um todo cresceu 1,6% em 2011, acompanhando o fraco desempenho do PIB, de 2,7%. As últimas estimativas da CNI são de um crescimento de 2,1% do PIB este ano e de apenas 1,6% da indústria. É muito pouco. Na prática, é estagnação.

 

O que falta ao Brasil e aos brasileiros para sermos de fato desenvolvidos industrialmente?

 RA – Aumentar a competitividade é vital.  Não é possível à indústria brasileira competir em igualdade de condições arcando com encargos previdenciários que são 11 pontos percentuais maiores do que a média de países como Estados Unidos, México e Alemanha, para citar só três. Ou pagando pelo gás natural quatro vezes mais do que a indústria americana. A constatação de que 40,3% do preço dos produtos industriais no Brasil resultam de impostos dá bem a medida de como nosso sistema tributário corrói a competitividade. Para fortalecer a indústria, é preciso, insisto, atacar gargalos estruturais, como a legislação tributária perversa e complexa a que acabei de me referir, a lei trabalhista anacrônica, de altíssimo custo, a educação deficiente, a infraestrutura precária, a burocracia sufocante. É um processo difícil, complexo, porque mexe em estruturas, privilégios e corporativismos, mas tem de ser feito se queremos ter um país próspero.

 

A CNI teve participou da Conferência Rio+20, em junho. A indústria é a vilã do meio ambiente?

RA – Não. Fizemos nosso dever de casa com louvor, como mostra o documento A Indústria Brasileira no Caminho da Sustentabilidade, que divulgamos na Rio+ 20. O documento, consistente, substancioso, comprova que, com investimentos e inovação, a indústria brasileira reduziu consideravelmente o impacto de sua atividade no meio ambiente nos últimos 20 anos, desde a Eco-92. Diminuímos as emissões de gases de efeito estufa, ampliamos a reciclagem e o uso de insumos renováveis, reaproveitamos a água, entre várias outras iniciativas bem-sucedidas de sustentabilidade. Há vários exemplos disso. Hoje, 97,6% das embalagens de alumínio são recicladas no país, um desempenho invejável, um dos mais altos índices do mundo. A celulose e o papel produzidos no Brasil provêm integralmente de florestas plantadas, enquanto a indústria química reduziu em 47% suas emissões de CO2 em dez anos.

 

Como avalia a relação da presidenta Dilma Rousseff com os industriais?

RA – Não poderia ser melhor. Tanto é que a presidenta já se reuniu duas vezes, em menos de três meses, no fim de março e no início de maio, com os líderes empresariais no Palácio do Planalto, e deve ter novo encontro agora, no começo de agosto. Foram reuniões objetivas, em que nós, empresários, colocamos sem rodeios nossas preocupações e propostas sobre os rumos da atividade econômica. Várias das medidas contidas nas duas edições do Plano Brasil Maior partiram de sugestões do empresariado. Cada vez mais, a agenda presidencial se aproxima da agenda da competitividade defendida com afinco pelos empresários. Foi assim com a prioridade à inovação, quando a presidenta Dilma nos visitou na CNI, em 13 de abril, para conhecer em detalhes o Programa de Apoio à Competitividade da Indústria Brasileira. O programa investirá R$ 1,9 bilhão para ampliar a atuação do Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial, o Senai, em inovação tecnológica e educação profissional. Foi assim, também, com as taxas de juros, que ela conseguiu baixar, outra bandeira do empresariado, e parece que será assim, igualmente, com o alto custo da tarifa de energia elétrica.  A presidenta Dilma é sensível a argumentos racionais.

 

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