em

Besouros e gafanhotos: insetos são a alimentação do futuro?

Artigo do pesquisador Décio Luiz Gazzoni afirma que é questão de tempo para termos insetos ao lado do tradicional arroz com feijão

Foto: APTA-SP

Para o pesquisador Décio Luiz Gazzoni, engenheiro agrônomo, pesquisador da Embrapa Soja e membro do Conselho Científico Agro Sustentável, o destino nutricional da população está traçado. Insetos como gafanhotos e besouros são o alimentação do futuro. Então, pode ir se preparando para ter que acostumar o paladar à crocância e poder nutricional dessas pequenas criaturas. Confira abaixo o artigo “Nutrição: pensando fora da caixa”.

***

A luta para alimentar 10 bilhões de pessoas, em meados do século, está sendo travada em muitas frentes. Exige aumento da produção agrícola, mormente por ganhos sustentáveis de produtividade, e reduções maciças na quantidade de alimentos desperdiçados.

Na maioria dos países do mundo, a pesca e a agricultura tendem a ser sazonais, deixando trabalhadores com tempo e maquinário sem uso durante parte de cada ano que, com imaginação, pode encontrar uma função alternativa. Aí entra a criatividade, a inovação e o empreendedorismo. Existem alimentos rotineiramente ignorados em alguns lugares – que outros paladares e culturas valorizam.

Alimentos alternativos começam como nichos de mercado, antes de serem absorvidos por grandes massas de consumidores. Por exemplo, algas marinhas de vários tipos são consumidas rotineiramente no leste da Ásia. O consumo global indústria alcança US$ 6 bilhões por ano, de acordo com a FAO, o equivalente ao que os norte-americanos gastam em salgadinhos de tortilla. E já é uma das grandes apostas para um mercado amplo, a partir da próxima década.

A alimentação com insetos

Provavelmente esta é a maior oportunidade de inovação no mercado gastronômico, nos próximos anos. Cerca de 1.900 espécies de insetos são consumidas por humanos, em diversos locais mundo, de acordo com a FAO (fao.org/3/i3253e/i3253e.pdf).

Gafanhotos

A culinária de Oaxaca, indiscutivelmente a mais complexa e deliciosa do México, apresenta chapulines (gafanhotos) fritos temperados com limão, malagueta e sal e enrolado em uma tortilla de milho fresco.

Besouros e vermes

Na Tailândia besouros do tamanho de um polegar viram lanches fritos; trabalhadores rurais da África Austral preferem vermes gordinhos, que chamam de mopane (bit.ly/3Nay2Ay).

Comer insetos já é realidade, e tendência, diz o pesquisador Décio Gazzoni

Já comemos insetos no brócolis?

Cerca de 2 bilhões de pessoas no mundo optam por comer insetos regularmente. Mas, um número equivalente faz isso sem saber, ingerindo-os junto com outros alimentos. Por exemplo, as regras da Agência que controla alimentos nos Estados Unidos (FDA) permitem até 40 tripes (minúsculos insetos) por 100 gramas de brócolis!

Criação de insetos para alimentação

Os insetos convertem nutrientes e água em proteínas com muito mais eficiência do que animais comumente consumidos, como bois, frangos ou porcos. Cultivá-los não requer desmatamento, libera muito pouco gás de efeito estufa e pode ser feito junto com outras culturas – aí entra a sinergia. Também podem ser alimentados com resíduos orgânicos, reduzindo o fluxo de resíduos em aterros sanitários.

Mais proteínas

A maioria das espécies de insetos contém maior teor de proteína do que as leguminosas; alguns, inclusive, contêm mais proteínas do que carne e ovos. Seus exoesqueletos podem ser desconfortáveis na boca; mas os exoesqueletos, como sabem os apreciadores de camarão e lagosta, podem ser removidos!

Insetos também podem ser processados para substituir outras fontes proteicas, como a farinha de peixe ou farelo de oleaginosas na produção de peixes ou outros produtos da aquacultura, criados em cativeiro.

Nutrição é hábito

Há 50 anos, a maioria dos ocidentais olhava com desconfiança e até nojo para peixe cru; hoje sushi e sashimi abundam em restaurantes e são rotineiros em supermercados.

Larvas de mosca

Atualmente, cresce de forma significativa o número de startups que preparam alimentos à base de insetos. Uma dessas startups produz e processa larvas negras de mosca-soldado (bit.ly/3OTNXEw), descrita por alguns entusiastas como “um dos insetos mais saborosos que já comi”. O negócio iniciou com a preocupação de seu fundador com a falta de recursos hídricos no Oeste dos EUA e hoje é uma empresa bem postada no mercado.

Farinha de grilo

Adeptos de dietas ricas em proteínas – bem como aquelas que evitam trigo – tornou a farinha de grilo uma oportunidade atraente para os criadores de insetos. É rica em proteínas e minerais, e seu sabor que lembra nozes combina bem com outros alimentos.

Enfim, é nas crises que a Humanidade encontrou soluções antes impensadas ou relevadas. A criatividade, a evolução tecnológica e o empreendedorismo estão na base de soluções alternativas para alimentar o mundo na segunda metade do presente século.

*Por Décio Luiz Gazzoni, engenheiro agrônomo, pesquisador da Embrapa Soja e membro do Conselho Científico Agro Sustentável

Leia também:

Participe do grupo e receba as principais notícias da sua região na palma da sua mão.

Entre no grupo Ao entrar você está ciente e de acordo com os termos de uso e privacidade do WhatsApp.