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Sesc segue com mostra temática de cinema

Pai e Filha será exibido nesta sexta-feira (16)

 

A unidade de Ponta Grossa do Serviço Social do Comércio (Sesc) continua nesta sexta-feira (16) com a Mostra Quatro Solidões do projeto Cine Sesc – Mostras Temáticas, no auditório B (dos Operários) do Cine-Teatro Ópera, a partir das 20 horas, quando será exibido o filme Pai e Filha (1949), do diretor japonês Yasujiro Ozu. A mostra, programada para ter quatro sessões, teve início no último dia 9. As próximas exibições de filmes serão nos dias 21 e 23.

Como aconteceu na exibição do primeiro filme da mostra – Conversação (1974), do diretor norte-americano Francis Ford Coppola –, todas as demais – a desta sexta, do dia 21 (Umberto D, 1952, do diretor italiano Vittorio De Sica) e do dia 23 (Morangos Silvestres, 1957, do diretor sueco Ingmar Bergman), serão mediadas pelo roteirista e crítico de cinema Helcio Kovaleski.

O projeto Cine Sesc – Mostras Temáticas tem por objetivo oferecer possibilidades de visualização, conhecimento e discussão sobre cultura cinematográfica. A seleção de filmes para as mostras busca reunir obras que sejam especialmente interessantes para os espectadores e que favoreçam a reflexão e a formação em variados aspectos e vertentes de pensamento.

São elencados filmes de diferentes épocas, alguns pertencentes a cinematografias clássicas e bastante conhecidas, e outros, raros e pouco divulgados. A programação do Cine Sesc busca essa diversidade como forma de estimular o conhecimento de temas, linguagens e estéticas diferentes.

 

Quatro Solidões

A programação que inaugura a edição 2012 do Cine Sesc – Mostras Temáticas é composta por uma seleção heterogênea de quatro filmes. Em comum, os trabalhos dividem a posição de destaque dentro das carreiras dos respectivos diretores – Francis Ford Coppola, Yasujiro Ozu, Vittorio De Sica e Ingmar Bergman –, nomes consagrados do cinema de arte e sinônimos de obras extensas que deixaram marcas indeléveis na história do cinema.

Os filmes também tratam de solidão, tema que, embora não seja central a todos os filmes, pode servir de fio condutor para apreciação do programa. A intenção é que o cinéfilo veterano encontre na seleção um convite para uma agradável revisão e que o espectador neófito descubra nos filmes um pontapé para explorar, por conta própria, os caminhos mais diversos tomados pelo cinema.

A Mostra Quatro Solidões foi precedida pela palestra formativa O Cinema e a História, ministrada por ***, no último dia 5, no salão social do Sesc. A palestra teve como público-alvo ‘educadores graduados e em processo de graduação que desejam utilizar o cinema como ferramenta pedagógica’.

 

Serviço:

16/03 – Pai e Filha (Yasujiro Ozu, 1949)

21/03 – Umberto D (Vittorio De Sica, 1952)

23/03 – Morangos Silvestres (Ingmar Bergman, 1957)

Local: Cine Teatro Ópera – Auditório B (Rua XV de Novembro, 468, Centro)

Horário: 20 horas

Entrada franca.

Inscrições e informações: Sesc Ponta Grossa (42) 3222-5432

 

O filme

Pai e Filha é uma das obras-primas do cineasta japonês Yasuchiro Ozu. Diante de contemporâneos como Akira Kurosawa ou Kenji Mizoguchi, Ozu era um realizador predominantemente desconhecido fora do Japão porque a produtora de seus filmes, a Shochiku, considerava os temas excessivamente japoneses para o paladar ocidental. A divulgação de sua cinematografia a partir de 1970, por meio de mostras retrospectivas, gerou uma legião de admiradores e semeou influências no trabalho de outros diretores. Algumas homenagens são explícitas, como em Tokyo-Ga (1985), de Wim Wenders (que como cineasta já conhecido descobriu os filmes de Ozu durante uma viagem aos EUA), Café Lumière (Hou Hsiao-hsien, 2003), e Cinco dedicados a Ozu (Abbas Kiarostami, 2003), mas também podemos pensar em relações com os filmes de Chanatal Akerman, Jim Jarmusch ou Satoshi Kon.

Dono de uma extensa filmografia, inspirada em seu princípio pelo cinema americano, e com admiração especial por Ernst Lubitsch, Ozu desenvolveu ao longo dos anos um olhar próprio sintetizado por seu estilo minimalista e pontuado pela geometria rigorosa e detalhamento caprichoso dos planos ocupados por seus personagens. Pai e Filha inaugura aquela que é considerada a sua fase mais madura e que se estende até 1962, ano de realização de A Rotina Tem seu Encanto. Neste período Ozu realizou seis filmes sobre o cotidiano familiar japonês, voltando sua atenção aos hábitos prosaicos das pessoas e aos ritos de passagem sociais. Trabalhando com uma mesma equipe, incluindo rostos familiares de atores como Chishu Ryu e Setsuko Hara, Ozu consolidou um estilo usualmente descrito como simples, identificado com a câmera baixa e com o plano frontal, filmado sempre com a lente de 50 milímetros. Essa simplicidade é relativa, pois a falta de fanfarras não impede o seu minimalismo de desenvolver uma articulação profundamente sofisticada de expressão audiovisual. Repare, por exemplo, como uma elaborada teia de relações e emoções se desencadeia na famosa cena em que os personagens-título de Pai e Filha assistem a uma peça de teatro. A filha, Noriko, percebe que há uma mulher na plateia que desperta o interesse de seu pai, enquanto as outras pessoas, casais jovens ou pessoas sozinhas, ressaltam o fato de que Noriko já tem idade para casar e que não deveria estar acompanhada pelo pai. Simultaneamente, a situação da filha é espelhada pela peça teatral, provocando uma tomada de consciência decisiva da personagem.  O cerne dos dramas de Ozu, no entanto, reside na condição imutável do tempo, na impossibilidade de permanência dos seres e das coisas. Em Pai e Filha, o casamento é o rito que implica na transformação iminente do cotidiano familiar – uma filha que irá casar e sair de casa, deixando o pai solitário. A vida, que em Ozu é mundana e pequena, jamais uma saga extraordinária, é definida pela rotina das ações cotidianas, meticulosamente encenadas e repetidos à exaustão, mas que obrigatoriamente precisam mudar porque sofrem a ação do tempo. Daí que o testemunho mais surpreendente e emocionante dessas transformações é os objetos, nos inesperados planos fixos de artefatos, como uma cadeira ou um vaso, que são eles próprios vigias do tempo e o lugar do nosso olhar no filme.

 

***

 

Se em Ozu a solidão é filmada à luz da eternidade, em Vittorio de Sica ela é centro de uma aproximação realista dos personagens. O filme da terceira sessão deste programa, Umberto D., dirigido por de Sica, é usualmente citado como um exemplar tardio do movimento que ficou conhecido como neorrealismo italiano, e que abrange um conjunto heterogêneo de filmes realizados na Itália depois da 2.ª Guerra Mundial. O conceito que responde pelo termo neorrealismo italiano é motivo de arguição, pois não existe um consenso perfeitamente claro sobre o que é um filme neorrealista. Eles são identificados por muitas publicações a partir de aspectos formais isolados ou recorrências temáticas – o uso de pessoas reais em detrimento dos atores profissionais, a substituição da artificialidade dos estúdios pela crueza das ruas, a atenção voltada às pessoas do povo, mostradas em tempo real, no decorrer de suas angústias do dia-a-dia. No entanto, há um paradoxo, porque muitos destes filmes estão cheios de atores profissionais, de momentos melodramáticos acentuados pela narrativa, de cenários e luzes artificiais. É o caso de Roma, Cidade Aberta (1945) e Paisá (1946), dois filmes de Roberto Rossellini considerados marcos definidores do neorrealismo. Mesmo De Sica, na sua obra-prima neorrealista Ladrões de Bicicleta, omitiu nas filmagens árvores presentes nas locações, com o objetivo de conferir maior austeridade à cidade de Roma. O diretor também interpretava as cenas aos atores, demonstrando-lhes como deveriam orientar os gestos. Isso significa que a frequente apreciação destes filmes como obras que nos dão acesso puro à realidade, que abolem a falsidade dos atores treinados e da montagem truculenta para nos oferecer a verdade das coisas que falam por si mesmas, precisa ser cuidadosamente ponderada. É preferível pensar o neorrealismo como um comprometimento com a construção de uma realidade diferente diante da terra arrasada deixada pela guerra e pelo fascismo. Roberto Rossellini disse que a verdade não pode ser captada com uma técnica, mas com uma atitude moral. O neorrealismo não foi, portanto, uma técnica, um recurso de filmagem, ou um conteúdo facilmente identificável, mas uma nova postura, de várias ramificações políticas e estéticas, diante da realidade italiana do pós-guerra. Aos cineastas, isso representou uma nova liberdade em contraposição às convenções consolidadas. Essa liberdade é um fundamento do cinema moderno que deságua, no final dos anos 50, na nouvelle vague francesa, além de alimentar produção teórica extensa (Umberto D. é, por exemplo, peça importante nas reflexões de André Bazin a propósito do realismo).

 

O filme

PAI E FILHA

Bashun  / Japão / 1949 / 108 min.

 

Direção: Yasujiro Ozu

Roteiro: Kôgo Noda e Yasujiro Ozu baseado no romance Chichi to musume de Kazuo Hirotsu

Direção de fotografia de: Yûharu Atsuta               

Montagem: Yoshiyasu Hamamura   

Elenco: Chishu Ryu, Setsuko Hara, Yumeji Tsukioka, Haruko Sugimura, Hohi Aoki

Música: Senji Ito

Classificação indicativa: 14 anos.

Prêmios: Melhor filme, diretor, roteiro e atroz – Prêmio Mainichi (1950)

 

Sinopse: Noriko, uma jovem de 27 anos, está na idade de casar, mas insiste em cuidar de seu pai para não abandoná-lo em solidão.

 

Yasujiro Ozu – Aspas

 O cinema é drama, não é acidente.

 

Se sou fabricante de tofu, tudo que posso fazer é tofu – é o que estou sempre dizendo. (…) Mas, mesmo que tudo pareça igual para outras pessoas, eu descubro coisas novas, uma a uma, e, com interesse revigorado, dedico-me ao trabalho. Sou exatamente como um artista que continua a executar várias pinturas das mesmas rosas.

 

Filmografia indicada

A Rotina tem seu Encano (Yasujiro Ozu, 1962, Japão). Cinemax.

Bom Dia (Yasujiro Ozu, 1959, Japão). Cinemax.

Estranhos no Paraíso (Jum Jarmusch, 1984, EUA). Magus Opus.

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