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REGINA DUARTE X MÁRIO FRIAS

 

Fui procurar o currículo do Mário Frias na área da gestão e das políticas públicas para o setor cultural.  Sabem o que encontrei? O mesmo que encontrei quando fiz a mesma pesquisa em relação à nomeação de Regina Duarte para a mesma pasta de Secretário Especial para a Cultura do Governo Federal: EXATAMENTE NADA. Os dois são atores, ela com carreira consolidada e ele ainda se afirmando. Ambos passaram pela Rede Globo, atuaram em novelas, séries e teatro. Nunca ocuparam nenhuma função ou cargo, púbico ou privado, na área e muito menos fizeram graduação ou pós graduação em qualquer coisa que os credenciasse para ocupar tão importante cargo. Alçá-los à posição pode ser simplesmente a vontade de um governo em dizer que a cultura não é importante, que qualquer um pode estar lá e fazer qualquer coisa que já está bom, desde que não incomode, que não crie caso. Mas esse aspecto não é a razão pela qual estou escrevendo sobre o tema. O que me levou a esta coluna foram as reações de todo mundo – artistas, políticos, movimentos de cultura e contracultura, cantores, escritores e todo mundo nas redes sociais – às nomeações promovidas pelo governo.

SERIA QUESTÃO DE GÊNERO OU DE GERAÇÃO?

Regina Duarte foi execrada em praça pública. Foi solta na calçada, nua e sem proteção alguma. Dissecada e desossada. Não teve a seu favor nem mesmo benefício da dúvida sobre o que poderia ou não fazer na pasta da cultura. A terrível e vergonhosa entrevista à CNN já estava carregada dos impactos emocionais que a pobre coitada sofreu por tudo o que falaram dela no período. Ninguém teve piedade da coitada – artistas, políticos, movimentos de cultura e contracultura, cantores, escritores e todo mundo nas redes sociais – detonaram a nomeação e colocaram a mulher Regina Duarte na lata de lixo. Mulher que corajosamente pediu demissão do emprego na Globo para assumir o cargo público, ou seja, para ter essa atitude, ela acreditava verdadeiramente que seria capaz de fazer algo pelo setor. Mas nem mesmo seus ex-colegas de trabalho a pouparam. Nas redes sociais, anônimos e famosos, políticos e humoristas, referiam-se a ela como “a véia da cultura”. Não teve nem tempo, foi demitida.

Já com Mário Frias está sendo diferente. Encontrei algumas críticas e reações, mas todas comedidas e dando a ele o benefício da dúvida. Um certo importante da cultura de São Paulo disse que “a nomeação de Mario é uma incógnita”. Ninguém está “detonando” o rapaz, mesmo tendo ele as mesmas credenciais que Regina Duarte. Por que ele é homem? Ou por que ele é jovem?

NÃO TEM JUSTIFICATIVA

Qual a razão dos diferentes tratamentos? O que explica o que fizeram com Regina Duarte que não estão fazendo com Mário Frias? Na minha modesta leitura, só existem duas razões: 1) ela é mulher, ele é homem; 2) ela é idosa, ele é jovem. Esses dois motivos dizem muito da nossa sociedade e na forma como tratamos mulheres e idosos. De maneira inconsciente descartamos a “véia da cultura” em favor do homem jovem da cultura. Se fosse uma troca baseada em critérios técnicos, e que ele fosse aquele cara que todos do setor esperavam que ocupasse o cargo, até teria uma justificativa, mas não é o caso. Simplesmente os idosos são vistos como incapazes e as mulheres ainda são vistas como inferiores ao homem. E nem mesmo os movimentos feministas e levantaram para proteger a mulher que estava sendo reduzida a pó diante de todos. É preciso rever nossos valores e fazermos a transmutação do discurso para a prática. Falar que mulheres e homens têm direito às mesmas oportunidades e que os idosos devem ser valorizados é muito diferente de trata-los efetivamente dessa maneira. #Todamulherpode. #Todoidosotemvalor.

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