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PENSADORES OU SEGUIDORES

As aulas voltaram e com elas voltou também a vida na cidade. O trânsito recebe um acréscimo considerável de carros, crianças sonolentas acordando muito cedo e encarando uma rotina de aulas que, com o tempo, só aumenta em quantidade (não necessariamente em qualidade). Com o retorno das universidades e faculdades, os jovens acadêmicos itinerantes dão nova cara à vida noturna da cidade e geram muita movimentação. E nós, professores, ganhamos nesse novo Ano Novo, a oportunidade de formar pensadores e fazer com que mais e mais pessoas desenvolvam senso crítico, opiniões próprias, caráter e personalidade fortes. Mas o problema é que ainda estamos no modelo de escola do século XVII, que a não ser pelo fato de ter mais tecnologias disponíveis, pouca coisa mudou. Ensinamos o que os livros ensinam e avaliamos se o nosso aluno tem capacidade de memorizar informações da disciplina que nem sempre vão se converter em conhecimento. Afinal quem nunca ficou horas e horas estudando um determinado assuntado até que o soubesse de cor para uma determinada prova. Saber de cor um tema qualquer significa que não desenvolvemos capacidade de aplicação, análises e criação em cima dessa tal informação. Se não concorda comigo, tente lembrar se você, quando estudante, nunca teve aquela situação em que decorou todo o conteúdo para a prova e, quando esta terminava, não lembrava mais nenhuma palavra. Ou seja, não era conhecimento e sim informação superficial e mau fundamentada. E que professor que nunca falou que “se eu mudo um pouquinho as perguntas da prova, que fiquem diferentes do que foi falado em sala, quase nenhum aluno consegue responder.” Ou seja, os estudantes não conseguiram transpor a informação para situações diversas, então foi tempo perdido na escola.

PENSAR FORA DA CAIXA

Essa expressão é muito usada hoje em dia por coachs, neurocientistas, desenvolvedores e treinadores de pessoas. Pensar fora da caixa, ou seja, tentar ver a situação/problema por outro ângulo, ver o que ninguém vê, resolver com saídas e insights inesperados, criativos e inovadores. Mas como vamos conseguir desenvolver isso na vida adulta quando as conexões neuronais estão já estabelecidas e nossos modelos mentais e de comportamento já se definiram? O esforço é gigantesco, porque precisar abrir uma “brecha” nos paradigmas existenciais. Já no cérebro da criança, principalmente na primeira infância (leia-se Educação Infantil), essa tarefa é muito mais fácil, porque o cérebro está em formação, é uma maquininha nova, limpa, sem vícios de pensamento e comportamento. Sempre ouvi minha mãe dizer que as crianças são verdadeiras esponjas, ou seja, são capazes de absorver todo tipo de conhecimento, desde que na forma líquida. Conhecimento líquido é aquele que vem sem forma pré-estabelecida, livre de preconceitos e de formalidades. Os pequenos aprendem a falar falando, a andar, andando, a cantar, cantando. E o que queremos na escola? Que aprendam ouvindo.

COMO CONSTRUIR UMA JUVENTUDE APÁTICA

Tenho buscado alternativas para fugir do modelo que ensina somente de uma forma e, que em casos mais graves, as respostas de prova só servem se forem escritas do jeito exato que o professor quer, ou como está no livro. Não existe espaço para que o estudante seja autor. E nós professores começamos a formatar a cabeça dos jovens desde pequeninos, com atitudes que vão dando a todos a ideia de que só dá para ser e a agir de acordo com o que o professor quer e o bando é capaz. Obrigamos os pequenos a sentarem sempre na mesma mesa, cercado dos mesmos amigos, muitas vezes até na mesma posição da mesa, reforçando neles um comportamento extremamente negativo para a vida profissional, que é a pouca capacidade de se relacionar com pessoas fora do círculo de convivência. Senta, levanta, anda, come, dorme, escreve na hora que os professores ordenam, nas cores que os docentes escolhem, minando a proatividade, a criatividade e o gosto pessoal. Isso repetido ano após ano, vai matando na juventude o senso investigativo, questionador e criativo peculiar a todas as crianças. Quem tem filhos na faixa dos 4 a 7 anos sabe o que é responder uma pergunta atrás da outra, já no Ensino Médio e na faculdade, o céu se rejubila quando algum jovem se arrisca a fazer uma pergunta sobre qualquer tema. Como professor sei que não é fácil, porque não foi a formação que recebemos, porque as salas são cheias, porque o planejamento, o vestibular, os pais, a coordenação… Ou seja, temos muitas justificativas mas nenhuma explicação do porquê repetimos um modelo educacional que claramente  não está dando certo. Enquanto isso, o Brasil continua produzindo comodities a preço de banana e comprando conhecimento a peso de ouro.

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