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O tamanho da corrupção (I)

Mário Sérgio de Melo

O Brasil vive nestes últimos dias a euforia da indignação contra a corrupção que nos assola. Cidadãos foram às ruas manifestar-se em várias cidades do país, e embora sejam ainda tímidas, a mídia tem dado grande destaque a essas manifestações. A imprensa de oposição tem denunciado novos casos, supostamente envolvendo até ministros do governo. A corrupção mostra-se grande, envolve valores colossais, suas teias incluem desde pequenos funcionários e cidadãos simples até altos funcionários e mesmo ministros, pergunta-se se já não teria chegado ao centro do poder.

Então, levando em conta que tal indignação possa mesmo ser uma autêntica revolta com um mal que prejudica a coletividade, e não uma manifestação artificial incentivada pela mídia interessada em desestabilizar governos e instituições, cabem algumas considerações e reflexões.

Primeiro, e isto já se tem dito bastante, não é de hoje que nossa sociedade caracteriza-se por ser corrupta. Advoga-se até que isto seria uma herança secular de nossa colonização, levada a cabo principalmente por degredados. Se a corrupção tem aparecido tanto ultimamente, talvez isto seja um bom sinal, melhor que ela apareça e possa assim ser desmascarada e combatida. Pior se permanecesse oculta, exercendo plenamente sua capacidade de debilitar as instituições, a economia, a moral do país.

Segundo, enquanto nos indignamos com as corrupções que a mídia anuncia, que envolvem grandes somas e altos escalões, é bom que nos perguntemos qual é nosso papel na teia que mantém vivo esse pernicioso traço da sociedade brasileira. Pois o tamanho da corrupção é muito variável, uma grande teia só se mantém se existirem os pequenos e múltiplos nós que lhe dão coesão. E nós, cidadãos comuns, queiramos ou não, somos parte dessa grande teia. Seja contribuindo com nossa cotidiana dose de pequenas corrupções, seja sendo coniventes com outras corrupções que nos cercam.

Como temos nos comportado nas pequenas transações, ou nos pequenos relacionamentos, que fazem o nosso dia a dia? Como anda o nosso respeito com o direito do próximo, com a honestidade, com o zelo pela correção de conduta, nossa e de nossos concidadãos? Como anda nosso cuidado com o bem coletivo, sejam os bens públicos, como os equipamentos da cidade e do local onde trabalhamos, seja o meio ambiente e os recursos naturais?

Pois tenho me espantado com o que tenho visto no meu dia a dia de cidadão comum. Tanto que me admiro que aqueles que chegam a cargos de poder e decisão, que têm a possibilidade de envolver-se em grandes casos de corrupção, não se aproveitem ainda mais de sua condição. O desrespeito, a truculência, a desonestidade, a falta de princípios morais, parecem estar dominando em situações cotidianas como o trânsito nas ruas da cidade e nas estradas, nas transações comerciais, nos serviços essenciais, como a saúde e a educação, e em muitas outras situações.

O autor é geólogo, professor do Departamento de Geociências da UEPG 

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