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O exame PISA e a estagnação na educação

Robson Couto da Silva

Doutor em Engenharia de Produção pela UTFPR

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O Programa Internacional de Avaliação de Estudantes (PISA) é um estudo realizado pela Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE), em que se comparam a cada três anos os conhecimentos dos estudantes na faixa etária de 15 anos em leitura, matemática e ciências.

Assim, a cada três anos é possível avaliar os resultados que refletem as políticas educacionais que foram adotadas para estes jovens durante todo o processo educacional até atingirem seus 15 anos.

O Brasil participa desse exame desde sua primeira edição em 2000, sendo o Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas (Inep) o órgão responsável por sua aplicação. Na última edição, realizada em 2018, nosso país participou com 10.691 estudantes de 638 escolas. O total de países participantes foi de 79, totalizando um universo amostral de 32 milhões de estudantes.

A prova é realizada via computador em um único dia e são avaliados aspectos como a capacidade dos estudantes em interpretação de textos, habilidade de entender conceitos financeiros básicos e de conhecer fenômenos científicos.

No último dia 3 de dezembro foram divulgados os resultados dos exames realizados na última edição e constatou-se que estamos no 58º lugar em leitura, 71º em matemática e 67º em ciências entre os 79 países avaliados. A China foi o primeiro lugar nos três quesitos.

Infelizmente os resultados informaram que 50% dos brasileiros estão no nível básico de leitura (“identificar a ideia principal em um texto de tamanho moderado”) e apenas 2% dos estudantes apresentaram nível elevado de proficiência nesse aspecto. Em matemática cerca de 32% atingiram o nível básico (“comparar a distância entre duas rotas alternativas ou converter preços em uma moeda diferente”) e apenas 1% apresentou proficiência. Finalmente em ciências, aproximadamente 45% atingiu o nível básico (“reconhecer a explicação correta para fenômenos científicos familiares e usar esse conhecimento para identificar, em casos simples, se uma conclusão é válida com base nos dados fornecidos”) e 1% atingiu a proficiência.

O relatório da OCDE indica que o Brasil teve uma melhoria no desempenho quando se compararam as primeiras avaliações. Porém, a partir do exame de 2009 houve uma estagnação no desempenho, ou seja, as flutuações ocorridas desde então, não são estatisticamente significativas.

A partir dos dados acima, ficam as constatações de que apesar de termos conseguido matricular uma quantidade maior de alunos na escola nos últimos anos, nossa metodologia de educação não está sendo eficaz. Verifico essa realidade quando ao corrigir avaliações de alguns alunos universitários me deparo com a dificuldade que parte dos acadêmicos apresenta em escrever um texto coerente com as ideias e conceitos que ele conhece.

Anos atrás, ao ministrar aulas em um terceiro ano de engenharia, observei que alguns dos alunos apresentavam dificuldade na realização de uma simples regra de três, a qual na minha época de estudante foi aprendida na quarta série do primário…

Nesse ponto, me coloco a pensar se recomendações como a de que os alunos não devam ficar retidos nos três primeiros anos do ensino fundamental foram realmente benéficas para o aprendizado. Como podemos esperar que os alunos aprendam a escrever e interpretar textos, façam contas complexas ou entendam de ciências e tecnologia se grande parte não fixou no início de sua carreira escolar os conceitos mais básicos que serão o alicerce para toda sua vida acadêmica?

Embora nossa população esteja constantemente mudando e as informações hoje estejam mais disponíveis, falta um filtro que permita que o jovem saiba onde acessar os conteúdos realmente importantes para seu crescimento. Dessa forma, cabe aos educadores e pedagogos encontrarem novas maneiras de atrair o interesse dos estudantes, assim como cabe ao legislador criar ferramentas que permitam realmente avaliar e focar nos alunos menos preparados para que adquiram o conhecimento necessário para só então progredirem para séries subsequentes.

Modelos isolados mostram o país no caminho certo, com os medalhistas de olimpíadas intelectuais conquistando as melhores colocações no mundo.

Porém, para a grande maioria a realidade é bem diferente.

Infelizmente não existe milagre, assim como para se construir um edifício é necessário que se tenha um alicerce com boa estrutura, para educação é preciso um trabalho planejado em médio e longo prazo e foco no ensino fundamental. Sem isso dificilmente conseguiremos subir no ranking dos mais preparados. Dessa forma, continuaremos sendo uma grande nação com potencial para um futuro promissor, porém um futuro que nunca chegará.

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