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Mentir ou não dizer a verdade?

Na eterna busca de vencer os contrassensos, desejo para este ano mais verdades e menos mentiras às nossas crianças e adolescentes. Quanto mais tempo se leva para ouvir e falar a verdade, mais se aprende a mentir, a omitir e tornar isso como algo aceitável. Como educadora, não me cabe intervir no cotidiano familiar de cada estudante. Mas no cotidiano escolar, este não pode negar seu dever de informar e jamais omitir a realidade.

Sabemos que as crianças pequenas não estabelecem posição hierárquica ao se relacionarem com animais não humanos, elas ainda guardam consigo sua consciência animal. Mas isso muda com o tempo, com a socialização, a qual envolve a supressão desta consciência, necessária ao nosso modelo de civilização. Neste modelo, as crianças são gradativamente enganadas, expostas à banalização da violência. Como disse Gary Yourofsky, em seu depoimento pessoal de como se converteu ao ativismo em defesa dos Direitos Animais: para os animais nós somos o demônio [1] Nós escondemos esta verdade.

Mas isso não é coisa que se mostre para crianças, alguém um dia falou. Para cada faixa etária uma abordagem, mas sem fugir da verdade. Primeiro forçamos que as crianças reproduzam a nossa cultura doente, fazendo com que aceitem que está tudo bem, meu anjo, eles não sofrem. Se um pequeno questiona de onde vem a salsicha do cachorro-quente, ou a carninha do churrasco, o que é respondido pelos pais? Não sei. Sinceramente não me lembro destes momentos. O que lembro é de ter que comer carne ou tomar leite, mesmo obrigada, para ficar forte. E ter os adultos como referência do que é certo e errado. Quanta responsabilidade a nossa.

Claro que a criança, se não pergunta, tem essa dúvida dentro de si. E suas respostas são reconstruídas na escola com base no conteúdo oculto trabalhado na educação infantil e primeiros ciclos do ensino fundamental: a vaca dá o leite, a galinha dá os ovos, o porco dá a carne, a ovelha dá a lã… Tudo tão bonitinho, tão surreal. Como se tudo isso fosse de livre e espontânea vontade doado pelos animais não humanos, e não arrancado deles entre gritos e choros.

Enfim, primeiro omitimos a realidade dos animais às crianças, e se isso é questionado, nós mentimos (ou não dizemos a verdade?) até porque muitos dos pais ou não sabem de tudo ou não querem saber, o que é mais provável, para que o churrasco de domingo não seja estragado com uma boa dose de culpa. Ou de verdade?

Não consigo mais enganá-las quanto a isso. Precisamos encarar essas concepções pré-formadas nos anos finais do ensino fundamental e ensino médio. Haja abordagem biocêntrica. Haja compaixão aos irmãos não humanos.

Cabe a nós, educadores, arrancarmos as cortinas que escondem os bastidores do holocausto animal. Muita coisa pode ser repensada e reconstruída na escola, como as refeições servidas em eventos e festinhas, as saídas de campo, passeios, a merenda escolar, dentre outras.

 

Andresa Jacobs

Bióloga, educadora da rede pública estadual, mestre em Educação e Ciência, ativista em Defesa dos Direitos Animais e colunista da Agência de Notícias de Direitos Animais – ANDA

andresa.jacobs@gmail.com

www.anda.jor.br

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