Uma das grandes gafes da história local, refere-se à homenagem que deveria ser prestada a Alberto Santos Dumont, o Pai da Aviação.
Tudo começou na sessão solene da Câmara Municipal realizada em 15 de novembro de 1900, quando os vereadores objetivaram registrar com letras douradas o admirável voo de Dumont em Paris, circundando a Torre Eiffel.
Diversos oradores se fizeram ouvir, destacando-se o dr. Joaquim Mello da Rocha, juiz de direito e o farmacêutico Teixeira Coelho, filólogo e escritor que, em candentes palavras, demonstraram o justo orgulho de todos os brasileiros diante do assombroso feito. Para assinalar perenemente a ocasião, os edis, comandados pelo Presidente Diogo de Oliveira Penteado e pelo prefeito Ernesto Guimarães Vilela, decidiram substituir o nome da Rua da Palha (ou dos Padeiros), para Rua Santos Dumont.
Quinze anos depois
Quinze anos depois, quando do trágico assassinato do senador Pinheiro Machado, os mandatários da época (à frente o prefeito Theodoro Baptista Rosas) estavam abalados com o brutal desaparecimento do homem. Machado, além de possuir fortes vínculos com Ponta Grossa, ainda se aprontava para disputar a presidência da República.
Resolveram então, sem muito alarde, trocar a denominação da já citada via pública, considerando mais importante o nome do político gaúcho do que o de Santos Dumont. O fato teria acontecido em setembro de 1915, meio à socapa, sem grande repercussão, de modo que muitas pessoas nem se aperceberam da troca. O constrangimento, porém, viria em seguida.
A visita de Santos Dumont
Santos Dumont, depois de se consagrar mundialmente, resolveu fazer um périplo pela América do Sul, via Oceano Pacífico. Chegou, por fim, à cidade de Foz do Iguaçu, onde foi festivamente recebido. Depois, acompanhado de um miliciano e de um prático deslocou-se em direção a Curitiba, varando, a cavalo, o enorme sertão do oeste.
Aportou em Guarapuava no dia 27 de abril de 1916, também ali sendo alvo de calorosas manifestações lideradas pelo prefeito Schleder. Este também lhe emprestou um Ford bigode para o restante do trajeto. Descida a Serra da Esperança, o ilustre brasileiro foi recepcionado no Hotel “Victoria”, em Prudentópolis, onde uma grande massa popular o aguardava. Fala-se que a prefeitura da antiga Vila de São João do Capanema gastou quase o orçamento do ano inteiro com rojões, banda de música e banquete.
A próxima parada foi em Conchas, em cujo local o coronel Cipriano da Silveira comandava o espetáculo: ali já se encontravam o engenheiro Moreira Garcez, representando o Presidente do Estado, jornalistas de diversos órgãos informativos, políticos e jovens universitários de Curitiba.
Chegada em Ponta Grossa
Dadas as boas vindas, ouvidos os discursos de praxe, Dumont passou-se para o veículo “Fiat”, de Ildefonso Cêrro Azul, chegando em Ponta Grossa por volta das vinte horas, do dia 4 de maio, seguido por considerável cortejo.
Alojado no Hotel Palermo, sito na Praça Marechal Floriano, foi ali saudado por Manoel Alvarenga, jornalista do “Diário dos Campos” e por Trajano Madureira, posto que nenhum representante da Municipalidade se fazia presente. Jornais da época, aliás, criticaram acidamente o descaso oficial para com o pioneiro da aviação.
Eliseu de Campos Mello
No outro dia, o deputado princesino Eliseu de Campos Mello, tomando conhecimento da apatia das autoridades municipais, resolveu agir por conta, colocando-se como cicerone de Santos Dumont. Levou-o, daí, a diversos lugares, mas reservou para o final a grande surpresa. Diga-se, desde já, que o dr. Eliseu pertencia ao rol das pessoas que desconheciam a mudança de nome da Rua Santos Dumont para Senador Pinheiro Machado.
A gafe histórica
Depois de diversas visitas, Campos Mello determinou ao motorista que subisse a Avenida Vicente Machado e, no cruzamento da Rua Santos Dumont, virasse à esquerda, parando diante do sobrado de Carlos Osternack. Assim foi feito e o deputado, descendo do carro em companhia do inventor, abrindo teatralmente os braços, não economizou palavrório:
– Esta é a rua que há muitos anos foi batizada com seu glorioso nome, dr. Santos Dumont.
As placas de sinalização, porém, continham, em letras garrafais, uma outra inscrição: Rua SENADOR PINHEIRO MACHADO. O embaraço de Eliseu e do homenageado foram, então, indescritíveis.
Por sorte, o motorista sabia da furtiva troca de denominações e, na hora, interferiu, dizendo que havia se distraído e tomado a direção errada. Todos embarcados novamente, rumaram, daí, para o outro local, que não assumia tanta importância quanto o primeiro, mas que ostentava as antigas placas da Santos Dumont.
O autor é um dos fundadores da Academia de Letras dos Campos Gerais, advogado, e foi juiz, vereador e prefeito da cidade de Prudentópolis, de onde é natural. Entusiasta da História, é autor de diversos livros, incluindo “Das Colinas do Pitangui…” e “Corina Portugal: História de Sangue e Luz”.
