O militar português Afonso Botelho de Sampayo e Souza, é considerado um dos principais artífices das expedições setecentistas que visavam conhecer e explorar os rios Tibagi e Ivaí. O objetivo era descobrir os campos de Guarapuava a partir da localidade de Carrapatos (atual Guaragi).
Atuava por delegação de seu parente Luiz Antônio Botelho de Souza Mourão, que era governador da capitania de São Paulo. Sua atividade foi intensa na região dos Campos Gerais e também no litoral, onde fundou o povoado de Guaratuba. Também por lá construiu a fortaleza de Paranaguá, reivindicada desde 1718 e que visava por cobro à ação de corsários.
Carta para um parente
Em fevereiro de 1773, Afonso redigiu requerimento ao parente Luiz Antônio, pedindo-lhe fossem registrados os serviços que prestou. Nesse requerimento é feita uma das primeiras menções oficiais ao já denominado bairro de Ponta Grossa, que alguns autores afirmam só ter aparecido nas primeiras décadas do século 19. Em meus arquivos, tenho cópia reprográfica perfeitamente legível desse requerimento.
Nas anotações alusivas ao mês de março de 1771, vêm lançados os seguintes registros: “Aos 17 chegou a Ponta Groça e aos 18 mandou comprar cavallos para a Expedição do Guarda Mor Lustoza” que, do porto de Caiacanga, no rio Iguaçu, tomava as primeiras providências para atingir, por via fluvial, os campos guarapuavanos.
Posteriormente, em novembro do mesmo ano, há outro registro da passagem de Botelho por Ponta Grossa. Ele vinha de Curitiba e da freguesia de São José dos Pinhais, com cavalos, peças de artilharia, cargueiros e mais trens, com o declarado objetivo de “conquistar os Campos de Gurapuaba”.
Passou, então, pela Fazenda dos Carlos, chegando, depois, à localidade de Carrapatos: “Aos 13 (novembro de 1771) chegou ao Carrapato, aonde estava já o Capitam de Cavallos Francisco Carneiro Lobo com a gente que havia de acompanhar a entrada do certão, e deixando alli o Sargento (…) Gomes com as ordens do que se havia de apromptar, foi dormir a Ponta Groça, tendo marchado nesse dia para cima de 12 legoas, fazendo excesivo calor”.
No dia 14, Affonso Botelho se dirigiu a Tibagi, a fim de verificar o armamento daqueles que iriam se encaminhar à praça de Iguatemi, pelo Rio de D. Luiz (Rio Ivaí), retornando, daí, por Ponta Grossa, no dia 16.
Faz-se a presente digressão, não só para relembrar a presença do célebre militar nos Campos Gerais, mas também para reiterar que o nome Ponta Grossa não surgiu cerca de cinquenta anos depois, por ocasião da história das pombinhas. Ao contrário, já existia em 1771 e, mesmo antes, em 1741, como consta de uma escritura pública lavrada no notário de Curitiba pelo pioneiro Domingos Martins Fraga.
*O autor é um dos fundadores da Academia de Letras dos Campos Gerais, advogado, e foi juiz, vereador e prefeito da cidade de Prudentópolis, de onde é natural. Entusiasta da História, é autor de diversos livros, incluindo “Das Colinas do Pitangui…” e “Corina Portugal: História de Sangue e Luz”.
