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Campos Gerais em chamas: a revolução que prometeu uma província

Imagem ilustrativa mostra como seriam as reuniões nos quais se discutiam as questões relativas à Rebelião Liberal
Imagem ilustrativa mostra como seriam as reuniões nos quais se discutiam as questões relativas à Rebelião Liberal / Imagem gerada por IA

Em maio de 1842, quando ainda tremulava a bandeira tricolor da República Riograndense do Piratini, outro movimento de cunho republicano pipocava na Província de São Paulo, à qual o Paraná estava integrado.

Os principais líderes dessa revolta, eram o sorocabano, ex-presidente da Província, Rafael Tobias de Aguiar e o Padre Diogo Antônio Feijó, senador e antigo Regente de D. Pedro II que, embora numa cadeira de rodas, possuía o carisma e o vigor necessários para chefiar a sedição.

A Rebelião Liberal

Os motivos da chamada rebelião liberal eram diversos: ora, insurgia-se contra as reformas do Código Criminal e do Conselho de Estado; ora, atacava-se o Barão de Monte Alegre, baiano que fora nomeado para a Presidência de São Paulo. Não se falava, porém, em república, porque, diziam, o movimento não era contra o monarca e nem contra o trono constitucional que seriam obedecidos enquanto não se afastassem da Constituição.

No entanto, os revoltosos, depois de nomearem Aguiar como presidente da Província de S. Paulo, passaram a externar ideias perigosas como separatismo e república federativa. E o Paraná, imprensado entre o Rio Grande do Sul e São Paulo, com os farroupilhas também em pé de guerra, contava, a essa época, com 50.000 habitantes, clamando pela sonhada emancipação.

Em busca de adeptos

Por isso que, emissários gaúchos e paulistas, representantes dos dois movimentos rebeldes, varavam as poucas vilas paranaenses fazendo proselitismo e arranjando adeptos, certos de que, com a adesão da 5ª Comarca (Paraná), incendiariam o resto do país.

O Barão de Monte Alegre, sabedor desse estado de coisas, resolveu, então, apelar para os préstimos de João da Silva Machado, futuro Barão de Antonina, gaúcho de Taquari e homem decidido, que começara sua vida como alfaiate e feitor da Fazenda do Alegre, em Conchas – Ponta Grossa, e que despontava como um dos principais líderes do Paraná.

As condições de João da Silva Machado

Porém, para alinhar as forças curitibanas contra os revoltosos, três condições foram apresentadas por esse personagem: que, terminadas as sublevações, fosse o Paraná elevado à categoria de Província; que a ele se concedesse o título de Barão, e que, de quebra, destinassem-lhe a Presidência da futura unidade administrativa.

Selado o acordo, Machado foi nomeado para a chefia do Comando Superior das Forças em operação no sul da Província, determinando, de imediato, que marchassem para Ponta Grossa, a trinta léguas de Itararé, três companhias de Santa Catarina mais um esquadrão de cavalaria de Rio Negro. Paralelamente, era preciso convencer Balduíno de Almeida Taques (sênior), comandante da Guarda Nacional de Castro, a retirar o apoio que dera aos insurgentes.

João da Silva Machado, futuro barão, não teve dificuldades para convencer Balduíno de Almeida Taques a rever sua posição e passar a apoiar as forças oficiais.

Tensão em Ponta Grossa

Mas em Ponta Grossa, a situação não era boa para o partido imperial. Antônio José Pereira Branco, figura de relevo na história princesina, compadre de Silva Machado (ambos eram genros do milionário português Manoel Gonçalves Guimarães), já escrevera uma carta cheia de reticências ao concunhado, dizendo que, naqueles tempos era preciso falar pouco, mas que colhera informações da presença de muitos extraviados, pessoas desconhecidas, e que outros não eram que enviados dos dois movimentos revolucionários (Farroupilha e Liberal) à cata de simpatizantes.

Pereira Branco, que pertencera ao Corpo de Dragões de São Paulo e que tinha o posto de tenente, estava já há muitos anos em Ponta Grossa e, por isso, podia dar boas informações e conselhos ao contraparente que chefiava a reação aos rebeldes.

“Luzida Rapazeada” de PG

Mais à frente, em carta que dirige ao Barão de Monte Alegre, Silva Machado, elogiando o auxílio que lhe foi prestado pelos seus amigos dos Campos Gerais, refere-se expressamente “à luzida rapazeada de Ponta Grossa, que estava de cabecinha levantada e disposta a jogar todas as cartas” em favor da Revolução, mas que, com a intervenção de Balduíno Taques e Pereira Branco, retornou ao caminho da prudência…

Um casamento com a marquesa

Rafael Tobias de Aguiar, o cabeça dos insurgentes liberais, vendo naufragar os seus planos, fugiu de Sorocaba, mas ainda teve tempo de casar, às pressas, com a famosa Marquesa de Santos, a Paula Jones de D. Pedro I, sob o olhar curioso da pequena Condessa de Iguaçú, filha bastarda da noiva e do antigo Imperador. Após retirar a casaca e vestir bombachas e chiripá, abalou-se em direção ao Sul, passando por Ponta Grossa e Guarapuava, e sendo, por fim, preso em terras do Rio Grande por um subordinado do barão de Caxias.

Cobrando o prometido

Já Silva Machado, com os louros da vitória, apressou-se em cobrar o prometido e em indicar, para as autoridades imperiais, quem deveria receber títulos e comendas pelos bons serviços prestados. Antônio José Pereira Branco, candidato a receber a condecoração de Cavaleiro da Ordem do Cruzeiro, foi, porém, aquinhoado com a Ordem da Rosa, que guardou com orgulho até os 86 anos, quando faleceu nesta cidade.

E o sagaz riograndense, que começou a vida campereando gado em Conchas, tempos depois viu cumpridas as promessas de se tornar barão e do Paraná ser elevado à categoria de Província. Só não conseguiu se aboletar na cadeira de 1º Presidente. Em compensação, recebeu, de lambujem, o cargo de senador vitalício (sonho dourado de todos os políticos!).

*O autor é um dos fundadores da Academia de Letras dos Campos Gerais, advogado, e foi juiz, vereador e prefeito da cidade de Prudentópolis, de onde é natural. Entusiasta da História, é
autor de diversos livros, incluindo “Das Colinas do Pitangui…” e “Corina Portugal: História de Sangue e Luz”.

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Escrito por Josué Corrêa Fenandes*

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