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Homeopatia, medicina ou enganação?

Por: Laércio Lopes de Araujo*
([email protected])

 

Pode ser que soe algo provocativo o título do artigo de hoje, mas é importante defendermos o esclarecimento da população sobre algo que acreditamos uma enganação.

Vivemos, em pleno século XXI, rodeados de superstição e de pseudociência. Basta abrir jornais ou revistas que encontramos horóscopo, anúncios de pulseiras medicinais ou mapas astrais.

No que se refere à saúde continuamos sujeitos a acreditar mesmo naquelas coisas que parecem magia ou feitiçaria, algumas dessas coisas contando com farmácias e profissionais. Ora, apesar de estudos clínicos e da falta de provas e demonstração, a homeopatia segue sendo uma conduta procurada e aceita.

Vamos pensar alguns dos aspectos mais interessantes do que chamamos homeopatia. Primeiramente ela parte do princípio similia similibus curantur, que pode ser traduzido como o igual cura o igual. A interpretação de Samuel Hahnemann de que aquilo que ingerido produzia febre, pudesse combater a febre em diluições crescentes é absurda. Trata-se de um mal uso do princípio filosófico.

Para não envenenar seus pacientes, Hahnemann buscou estabelecer um segundo princípio o qual preconiza que se deve ministrar doses infinitesimais da substância que o fez adoecer. Para isso dispôs a necessidade de crescentes diluições do agente curativo até que nenhuma molécula sobre da substância original. Seria como jogar uma aspirina num lago e beber uma porção da água para abaixar a febre. Acreditem, quanto maior o lago, mais potente o efeito (?).

O remédio homeopático deve ser agitado, não basta dissolver a solução. Só assim adquiriria suas propriedades curativas. Diluir e agitar!

Claro, há que considerar a memória da água, já que em laboratório, todos os frascos são indistinguíveis de porções de água. Segundo as bases da homeopatia, a água recordaria os princípios curativos e o manteria apesar das diluições. Curiosamente a água só teria a memória dos efeitos benéficos porque, como toda a água do planeta está em comunhão, o que seria de nós ao tomar um copo da torneira?

Existem, experimentos de duplo cego, que demonstram a eficácia da homeopatia. Afastados os que efetivamente são fraudados, os que apresentam claras deficiências metodológicas ou manipulações, o que a ciência é capaz de afirmar, com certeza sobre a homeopatia é que ela funciona muito bem como placebo.

As histórias de curas, para além de não poderem ser confirmadas, acabam por atingir um público crédulo e desprevenido, ainda mais que divulgam uma falácia, que a medicina científica baseada em química, nos envenena e nos destrói. Curiosamente é o avanço da medicina moderna que fez reduzir as taxas de mortalidade, aumentar nossa longevidade e diminuir a mortalidade infantil, expressiva e inexoravelmente desde os fins do século XVIII.

A medicina alternativa segue sendo a mesma dos xamãs, dos magos e pajés, onde a mortalidade e morbidade eram devastadoras. Mesmo assim há os que afirmam. – Mas para mim funciona. – Ora, assim como para algumas pessoas funcionam leitura de Tarot, quiromancia, horóscopos, despachos e outras magias, assim também a homeopatia. Como disse Clint Eastwood: as opiniões são como o nariz; todo mundo tem um!.

Ainda hoje há pessoas que recorrem ao Oscilococcinum para tratar a gripe, sem saber que em 1918, durante a gripe espanhola, o médico Joseph Roy acreditou descobrir a causa da gripe numa bactéria que oscilava muito e a chamou de oscilococco. Apesar de ninguém mais ter visto a tal bactéria, ela continua sua folclórica existência. Dúvidas? Há bulário no google!

Há poucos recursos públicos para a saúde, muitos doentes sofrendo de enfermidades graves e necessitando de intervenção para a recuperação da saúde. É hora de considerar absurdas as aplicações de recursos em formas não científicas de medicina. Há que respeitar a cultura popular, mas também, instruir as pessoas sobre suas escolhas.

Magia, feitiçaria e fé, estão na esfera da crença pessoal, onde devem permanecer sob pena de danosas consequências! A homeopatia está nesta esfera.

 

O autor é médico e bacharel em direito formado pela Universidade Federal do Paraná, atua em psiquiatria há 27 anos, Mestre em Filosofia e especialista em Magistério Superior.

 

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