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Hay brega?

Contar o ridículo sempre rendeu boas cenas no teatro. Que o digam os personagens beckettianos, só para citar um exemplo entre tantos. É a comédia humana se manifestando da maneira mais autêntica que se conhece, porque é de misérias e agruras de que o ser humano é feito.

E foi com a intenção de contar e cantar o ridículo que o grupo Os Geraldos, de Campinas (SP), apresentou-se na noite de segunda-feira (7), no Cine-Teatro Ópera, com o espetáculo Hay Amor!. Conforme o blog do grupo (osgeraldos.wordpress.com), a montagem, dirigida por Verônica Fabrini, foi criado a partir do tema a gente é brega quando ama, e evoca um desejo: Que haja amor, sempre e por tudo. É essa necessidade que permeia os encontros e desencontros emblemáticos dessa aventura humana, que por vezes nos faz achar normal nos sentirmos sozinhos e incompletos, mesmo entre os seis [sete] bilhões de pessoas que existem no mundo. Precisamos do outro. Sempre, diz o blog.

Com esse (grande) mote, o espetáculo já começa despretensioso e em tom cínico, satirizando o já institucionalizado casal Barbie & Bob, bonecos que, pensados a princípio como brinquedos inocentes, transformaram-se em ícones da bobice. A cena das quatro Barbies e dos dois Bobs é impagável. Depois, a montagem propõe uma estrutura aberta – cujo cenário inclui apenas um banco de praça, um grande tapete verde, dois microfones (um de cada lado do palco) e um telão ao fundo –, que mistura esquetes, coreografias e pequenos shows musicais. Pronto. Está formatada a receita para uma quase que total identificação com o público – formado, nessa noite, por vários adolescentes. As quatro atrizes e dois atores são muito competentes e afinados. Os esquetes são eficientes, muito embora não haja uma profundidade de interpretações. Nem poderia ser diferente, na verdade, porque a proposta da direção não é essa. Mas é inegável que o espetáculo ganha o público, e a interação palco-plateia, em alguns momentos, é total.

As projeções no telão, que acontecem a todo instante, são muito bonitas e eficientes. Ocorre que, em algumas cenas, as projeções não deixam margem para a imaginação. Numa cena em que um casal olha para os prédios em volta da praça, por exemplo, seria interessante que não houvesse projeção, o que talvez a deixaria mais poética.

Outro ponto a ser destacado é que dá a impressão que esse lado brega do amor não é assumido totalmente pelo espetáculo. Em determinadas cenas, é possível que a roupagem de um cafona assumido, mesmo, fosse interessante. Falta pouco para o espetáculo ficar Kitsch, o que seria um formato adequado à proposta da montagem.

De qualquer forma, o espetáculo funciona, e muito bem. E uma das chaves para se entender isso é o fato de que ele tem um matiz contemporâneo no sentido de que fala a um público acostumado – quando não viciado – à rede social Facebook, onde o lado brega se manifesta de forma eloquente e na qual comentários, fotos e vídeos compartilhados são, em sua maioria, ridículos, bobocas. Porque humanos.

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