em

Estado de dormência

Dormente, dormitante ou desperto? Acordado ou dormindo, o que faz seguir adiante? Diz-se do dormente aquele adormecido, entorpecido, também estagnado, qual águas paradas. Como antagonismo repousa na calmaria que se põe a serviço nos fiéis sustentáculos das ferrovias. É sobre os dormentes que os trilhos se apoiam, leito para os trens. Neste raro caso, a dormência salva e propicia afluxo sobre seu dorso. Uma estagnação que não é infértil, potencial ativo de sustentação. Quase uma ironia, em repouso, a vida propicia. Na condição humana, a inércia reflete na falta de vontade e na indiferença, na apatia que deixar subjugar em demasia. Praga inerente cujo combate faz irromper a si em atitude consciente. Olhar para o mundo com interesse nos fatos, passagens e no que preserva a história. Na temida biologia recente, um mosquito atormenta a calma coletiva, os líquidos estáticos propiciam sua sobrevida, mesmo quando antes, em simples ovos, era contida. O principal meio do combate, não se deixe enganar na agitação improdutiva, é acabar com os focos de água parada. O que dizer quando os fluidos imóveis refletem em nós a falta de expectativa? Passando por ruas, avenidas, as cabeças aturdidas nem se deixam atentar para as mudanças na paisagem. Casas antigas, de repente, surgem demolidas. Cada vez maior nossa latência sem ação e sem resposta, alguns sequer lamentam ou ousam reivindicar preservação e congruência. Na esquina da Rua Francisco Burzio com a Bonifácio Viela, a construção vem sendo irrompida ante nossos olhos que sequer manifestam a face inquisitiva. O que será de nossa memória? Para sempre esquecida? Vêm abaixo, de forma repetida, prédios e casas que pertenciam a nossa vida, qual pacientes, em leitos, que caem em epidemia. Tão inerte quanto as águas estagnadas onde cresce o mosquito que nos aterroriza.

Participe do grupo e receba as principais notícias da sua região na palma da sua mão.

Entre no grupo Ao entrar você está ciente e de acordo com os termos de uso e privacidade do WhatsApp.