“… a crônica está sempre ajudando a estabelecer ou restabelecer a dimensão das coisas e das pessoas. Em lugar de oferecer um cenário excelso, numa revoada de adjetivos e períodos candentes, pega o miúdo e mostra nele uma grandeza, uma beleza ou uma singularidade insuspeitadas. Ela é amiga da verdade e da poesia nas suas formas mais diretas e também nas suas formas mais fantásticas – sobretudo porque quase sempre utiliza o humor.”
Estas palavras de Antonio Candido de Mello e Souza, renomado sociólogo e crítico literário brasileiro, nos revelam ser a crônica um gênero literário próximo do despojamento do dia a dia, com enorme possibilidade de traduzir na cultura e na arte literária a realidade social. Antonio Candido ainda nos diz que “Na sua despretensão, a crônica humaniza; e esta humanização lhe permite, como compensação sorrateira, recuperar com a outra mão uma certa profundidade de significado e um certo acabamento de forma, que de repente podem fazer dela uma inesperada embora discreta candidata à perfeição.”
Cultura e arte, no caso a arte literária, são essenciais para o florescimento da empatia. A empatia é a essência da compreensão, da tolerância, da esperança. Um povo sem cultura e arte é um povo triste, rude, intransigente. A arte aproxima, humaniza, desfaz as barreiras da incompreensão e da intolerância, revela a beleza do mundo e a grandeza da alma humana. E a crônica, um gênero da literatura próximo da pessoa comum e do dia a dia, adquire assim enorme possibilidade de transformação.
Os Campos Gerais do Paraná têm singularidades naturais e históricas que os destacam no cenário nacional e mesmo internacional. Eles se estendem desde Rio Negro a sul, na fronteira com Santa Catarina, até Jaguariaíva e Sengés a norte, nos limites com São Paulo. São marcados por escarpados, cânions e pelo degrau topográfico da Escarpa Devoniana, que separa o Planalto de Curitiba do Planalto de Ponta Grossa. Ali rochas arenosas geraram solos propícios para a vegetação de campos nativos, pastos naturais que facilitaram que no tempo do Império a região fosse o caminho principal das tropas provenientes do Rio Grande do Sul com destino a São Paulo.
O tropeirismo originou o rosário de cidades que se sucedem marcando os antigos pousos ao longo da marcha. Com o tempo, a ferrovia, a agricultura, a industrialização vieram acrescentar suas marcas à identidade regional. Estas particularidades criam um cenário muito propício para a criação literária: a vida nas cidades com um histórico peculiar ou nos campos e matas com araucária proporcionam muitas situações pitorescas e inusitadas que motivam inspirados textos.
O projeto “Crônicas dos Campos Gerais”, iniciativa da Academia de Letras dos Campos Gerais, tem a intenção de estimular a criação e a vivência literária da população da região e dos visitantes que por aqui passaram e foram marcados pelas singularidades de nosso território. Divulgando as crônicas escritas muitas vezes por quem está se descobrindo escritor(a) e promovendo encontros literários para troca de experiências, o projeto espera incentivar a cultura regional.
Toda a população acima de dezesseis anos é convidada a participar. Orientações sobre as crônicas e o projeto podem ser conferidas no sítio https://cronicascamposgerais.blogspot.com/. As crônicas, textos curtos com até 2.500 caracteres, devem ser enviadas por e-mail para o endereço [email protected].