Aliel Machado*
A saúde pública de nossa cidade foi protagonista de inúmeras campanhas eleitorais nos últimos anos. A aparente relevância dada ao tema no discurso dos candidatos, não tem se traduzido em redução da angústia dos pacientes e de seus familiares. Há um consenso de que a saúde é tema de gestão complexa, pois depende da interação entre as três esferas de poder nacional. Como se já não bastassem as longas filas para consultas, realização de exames e cirurgias, vivemos uma realidade inusitada: a interdição das UTIs pediátricas do Hospital da Criança. Parece inócuo discutir de quem é a responsabilidade pela não conformidade da estrutura do hospital frente às regras da Vigilância Sanitária Estadual. Já se passou quase um ano da interdição e ainda não se tem perspectiva de sua reabertura. Um ano não foi o suficiente para realizar as obras de readequação? Há interesse em não reabri-las em função de seu alto custo de manutenção? Estamos querendo forçar apoio financeiro do governo estadual? Ou falta prioridade nas políticas públicas locais?
Independente de qual for a motivação para solucionar ou não esta situação, o custo social em vidas já começou a ser pago. Essa é uma tragédia anunciada e atinge o que é de mais importante para nossa sociedade: as crianças. A proteção às crianças deve ser integral e prioritária. Quando escapam das famílias as possibilidades de cuidado com as crianças, em função de doença ou outro agravo de saúde, o Estado deve estar pronto para intervir e tentar solucionar o problema. Se as famílias não encontram uma prestação de serviço adequada, mais do que perecer fisicamente, o que é ferida é a dignidade da pessoa humana.
Como sociedade, também temos responsabilidade na solução desse caos. Só o pagamento dos tributos não isenta a participação e a cobrança na solução desses problemas. É necessário um compromisso social com a causa da saúde pública. As precárias condições de saúde que amplos setores da população principalmente os mais pobres – enfrentam em nossa cidade concorrem para uma absurda privação de liberdade que limita sua capacidade de optar entre diferentes alternativas, de ter voz frente às instituições do Estado e ter maior participação na vida social.
O sistema de saúde só poderá ser considerado realmente público, quando sua prestação não for negada. Nossa Constituição diz que é dever do Estado garantir a saúde pública para todos, e ao cidadão que necessita de atendimento, pouco importa se o responsável é a União, o Estado ou o Município. A cidade precisa urgentemente definir qual será a prioridade que a saúde de nossas crianças deve ter, sob pena de continuarmos com uma verdadeira espada de Dâmocles pendente sobre as famílias que não podem contar com caros planos de saúde.
*Presidente da Câmara Municipal de Ponta Grossa