A trajetória da menina Alice no País das Maravilhas é provavelmente uma das mais instigantes da literatura infantil e juvenil. O livro de Lewis Caroll é um clássico, sem dúvida, não apenas porque nos convida a ingressar no terreno do maravilhoso, onde tudo é possível, mas porque é fácil simpatizarmos com uma heroína tão perdida, confusa e questionadora (alguém aí se identifica?). Entra século, sai século, a garota que atravessa espelho, conversa com cartas, lagarta, gato e um bocado de seres malucos não envelhece. Pelo contrário, continua vivinha da silva!
E se Alice vivesse no mundo real? E se pegasse ônibus, estudasse na escola e tivesse celular? Pois é, quando pensamos que o repertório de aventuras da eterna menina perdida se esgotou… vem a Joice Gumiel Passos e nos convida a viver “Um dia de Alice”, um livro divertido que ela escreveu com a colaboração do ilustrador Oscar Reinstein.
Nessa versão modernosa do clássico, a vida segue normal para Alice (como não poderia deixar de ser): “Ainda sentada na cama, visto o uniforme, calço o meu tênis e rumo à cozinha para meu lanche matinal”, até que um imprevisto acontece: “Mamãe avisa que estou quase atrasada e que terei que ir de ônibus dado um compromisso deles, repentino e inadiável”.
A menina toma o ônibus, mas se distrai jogando no celular e deixa passar o ponto da escola. Até aí, nenhuma novidade, afinal Alice é perita em se perder! O jeito é improvisar: então ela resolve desembarcar no shopping para passar o tempo (espertinha, não?). O curioso é que lá experimenta sensações que, apesar de nos serem tão familiares, parecem novidade: “Gosto de não saber se ainda é dia ou já é noite, se faz chuva ou se faz sol, se é pra esquerda ou pra direita, para frente ou para trás, gosto de me sentir assim, neste vácuo, nesta suspensão do tempo e espaço”. Quando e como ela saiu de lá, isso você vai ter que conferir no livro pra descobrir!
Parece que se perder tem lá suas vantagens (Alice que o diga!). No fim das contas, desviar-se do curso pode mostrar aquilo que insistimos esconder: nós mesmos. Se olharmos bem e fixamente para o espelho, veremos que no fundo, bem lá no fundo, somos todos Alice.
Leia/ouça o livro “Um dia de Alice” gratuitamente:
https://bibliotecagralhaazul.com.br/um-dia-de-alice/
*A autora é graduada em Letras Vernáculas e Clássicas (UEL), mestre em Teoria Literária e Literatura Comparada (Unesp) e doutora em Literatura e Vida Social (Unesp).
**Texto publicado originalmente no portal JR (Jornal de Rolândia)