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Razões para andar de ônibus em PG

Rafael Schoenherr

A reportagem do Diário dos Campos captou recentemente duas falas importantes que podem ajudar a repensar o transporte coletivo em Ponta Grossa (no texto ‘PG não tem previsão de expansão da frota’, na edição da última terça-feira). Uma das entrevistadas foi a usuária Scheila Peron. Ela sugere mais carros entre terminais nos horários de pico e uma linha direta entre Campus Central da UEPG e Campus Uvaranas.

Outro entrevistado foi Luiz Eduardo Lemes. O chefe da Divisão de Fiscalização Viária da Prefeitura reconhece que precisamos conscientizar o cidadão a migrar do transporte individual para o coletivo: “Um ônibus lotado com 75 passageiros tiraria 50 carros das ruas”. Acontece que ninguém deixa o carro ou a moto na garagem para andar em ônibus lotado nos horários de pico ou para perder minutos preciosos esperando no ponto.

Quero dizer com isso que a única empresa concessionária do transporte coletivo na cidade é responsável direta, junto com a Prefeitura, por convencer o sujeito motorizado que andar de ônibus é melhor: mais econômico, confortável, ágil e seguro. Em área correlata, o Movimento Pró-Ciclovias promove ações organizadas nesse sentido – funcionam como estímulo e ao mesmo tempo atuam no convencimento da viabilidade do meio de transporte. Um movimento que partiu da sociedade e não recebe efetivamente nada dos contribuintes por isso.

Precisa então existir algum estímulo ou alguma melhora visível no atual sistema de transporte coletivo para gerar convencimento aos atuais, novos e potenciais usuários. A transparência nos gastos (que, em tese, justificariam o alto preço da tarifa) seria um dos aspectos para melhor envolver a população no uso regular do sistema. Como esse é um impasse histórico, a empresa poderia de fato começar pelas gentis sugestões da usuária, que anda de ônibus há mais de dez anos (ou seja, para além do governo Wosgrau).

Por isso não parece suficiente a resposta de que o aumento da população não se converteu em aumento de passageiros e, logo, a empresa estaria desobrigada de aumentar a frota. Se a população cresceu e o número de passageiros não aumentou, pode-se apostar que um dos motivos é a baixa atratividade do serviço. Quer dizer que a qualidade do transporte coletivo tem parte nessa história – não consegue angariar novos adeptos ou atender demandas de deslocamento também dinâmicas e que se transformaram rapidamente nos últimos anos.

Outros usuários a serem ouvidos certamente falariam da falta de linhas intermediárias e do barateamento da passagem, ou então da redução de tempo de viagem. Mais do que reclamações isoladas ou críticas, cabe entender tais manifestações como indícios ou pistas de que a cidade não é mais a mesma e passa a solicitar novas frentes de deslocamento qualificado e minimamente convidativo.

No leque de sugestões, uma saída ousada seria investir em medidas concretas para trazer novos públicos ao transporte coletivo dentro de um prazo debatido e então estipulado. Se comprovada a adesão, em troca, a empresa reduziria o preço da tarifa, hoje pouco interessante a quem se desloca regularmente de moto ou carro por trajetos médios e curtos.

O autor é jornalista, professor e membro do Conselho Municipal de Cultura (rafaelschoenherr@hotmail.com) 

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