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Proclamação da República

Proclamação da República

 

*Acir da Cruz Camargo

 

A deficiência de formação cultural a que somos submetidos pelo patriotismo tosco e o desfilismo alienante da ideologia verde amarela lacerdista resulta na desvalorização de datas importantes como a Proclamação da República. A história de lutas e sofrimentos do povo não autoriza que as escolas e a cultura releguem ao esquecimento tais fatos, transferindo subreptciamente desfiles e demonstrações esporádicas de bom civismo em datas ideologicamente selecionadas. O acontecimento mais importante para a nação foi a proclamação da República em novembro pelo Marechal Deodoro da Fonseca e a inversão de valores resulta da crise de valores educacionais, nas aulas de História e Sociologia, num país desescolarizado com rainhas de carnaval, dos baixinhos, reis e imperadores da pior espécie. Professores repassam anedota que a república foi golpe militar, sem participação popular, resultado do positivismo francês e ideologia dos bestializados. Ao contrário, simboliza a desmistificação do regime do bom velhinho, semi-divino, democrata e generoso. O império autoritário e elitista reprimia manifestações sociais e populares com polícia e violência. Pedro Segundo afirma não tolerava manifestações que contestassem a monarquia, denominando-as de arruaças. Quando a queda de Napoleão Terceiro foi comemorada no Brasil determinou que o Jornal A República fosse destruído. Em 1867 a França tentou monarquizar o México pela força, nosso Poder Moderador emprestou-lhe apoio. A monarquia brasileira só defendeu os interesses da classe dos senhores de escravos, de terras e servos, potente voz na defesa do latifúndio. Por isso a participação do povo no processo político era obstaculizada a qualquer custo, a exigência da renda, que impedia a cidadania aos escravos, classe média, trabalhadores e mulheres. Os processos eleitorais foram descritos por João Francisco Lisboa como trapaceiros, falsos, imorais e cheios de traições. Portanto, a república representou a concretização de históricas manifestações populares brasileiras, como Conjuração Mineira, Revolução pernambucana, Sabinada, Balaiada, Cabanagem e Farroupilha, de um povo que lia jornais republicanos em suas províncias. Significou o basta dado à classe dominante que vivia no luxo e conforto enquanto o povo amargava salários baixos e a falta de perspectiva de progresso econômico, visto que o Imperador mantinham um modo de produção destoando do restante do mundo, criando notórios obstáculos à industrialização e aos industriais do Brasil. Longe de ser circunstancial, a República resultou do surgimento da classe média, da constituição da burguesia brasileira, da adesão do povo aos valores republicanos, do surgimento e fortalecimento da classe trabalhadora e do papel progressista do Exército Brasileiro, naquela fase, ao lado do abolicionismo e dos trabalhadores, empenhados em inserir o país no contexto mundial. Encerrava o ciclo dos Bragança sustentados pelas forças do atraso, pré-capitalistas, iniciadas na independência, agora, num baile pomposo à custa do aumento dos impostos sobre os ombros da sociedade. A República marcou o avanço da cidadania, progresso econômico, apontou para um programa social que está longe realizar-se e o será na medida em que o povo ampliar sua participação, exigir o cumprimento dos seus direitos, em que o princípio da igualdade deixar de ser mera retórica jurídica. Ela marcou a fase primeira de um processo revolucionário que ainda não terminou. Deve ser lembrada e comemorada, com desfile e pompa.

 

*O autor é historiador

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