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Outra face do mensalão brasileiro

Acir da Cruz Camargo

 

 

 

O mensalão é privilégio de outras sociedades, não apenas da brasileira e com proporções maiores. Aí, reside o principal equívoco da falsa moralidade da reação em nossa terra. Também é detalhe no oceano de corrupção que campeia invisível na tradição político-partidária da nação. A exagerada dimensão que o fundamentalismo lhe outorga se deve ao fato de ter se tornado pedra, aparentemente, inquebrável, para estilhaçar a vidraça da esquerda brasileira. Para nada mais serve.

Todos os paladinos do anti-mensalão atiram suas pedradas, cabisbaixos, receosos de que alguém que lhes conheça as entranhas pergunte se estão mesmo sem pecado. Nossa sociedade é doente, indiferente, caótica, alienada, graças à falta de processo revolucionário sério e estrutural em sua formação.

O que experimentamos, cansa-se de repetir nas aulas de História, é que se trocou o regime, mas não a classe dominante. Pressionou-se o povo para manter-se sempre calado. Por isso mesmo, que apenas o reacionário está indignado com o mensalão.

A sociedade brasileira está sendo induzida a precipitar um julgamento sobre o mensalão. Essa é uma atitude recorrente em nossa História. Dom Pedro I, logo que se proclamou a República, teve sua imagem modificada. De herói libertador transformaram-no no ditador e péssimo esposo, articulando áreas tão diversas. Os monarquistas, após 1889 incumbiram-se de ofuscar a imagem de Floriano Peixoto, símbolo da classe média em ascensão no poder.

Vitimizaram as consequências da derrota da revolta da Armada utilizando-a para espinafrar a tradição republicana brasileira. Vargas, estadista da revolução nacional brasileira, perseguido devido ao projeto de autonomia da nação e pelo trabalhismo, recebeu como troco da burguesia o superdimensionamento da questão de Toneleiros.

Goulart foi duramente atacado e a crise econômica e política do nosso país, inflação e demonização do socialismo, apenas em nossos dias são revistos por pesquisadores sérios ou arrependidos. O mensalão se insere no quadro da desastrosa luta política em que a aliança entre o latifúndio e a classe parasitária que sobrevive às custas da multiplicação da miséria no continente de fala portuguesa como instrumento de interromper o processo da revolução brasileira, a ampliação da democracia e do acesso das massas ao poder, o que, equivocadamente denominam de lulismo.

Com tamanha hipocrisia, as elites empenham-se em sepultar quaisquer resquícios daquilo que é popular, social, democrático ou trabalhista. Parcelas ingênuas de cidadãos e intelectuais subordinam-se a esse percurso, inclusive o esquerdismo. Ao povo cumpre saudar sua ascensão na história política da pátria amada e deixar os imbecis do feudalismo e do entreguismo falando ao vento.

 

 

 

O autor é cidadão brasileiro

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