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O Momento de Reconstruir

Erika de Souza Bueno

 

 

 

Não são raros os momentos que passamos por tanta dor que nosso peito parece que vai explodir. Não são raras as vezes que parece que estamos caindo num poço sem fundo ou caminhado numa imensa escuridão que cega nossos olhos. Não é raro vermos pessoas angustiadas, sem saberem o que fazer com todo o sentimento que lhes restou. Não é fácil vencermos os nossos medos e os incalculáveis temores que nos sobrevêm quando alguém nos deixa só, mesmo que seja involuntariamente.

Quem se dispôs a amar sabe que esses momentos podem acontecer. Quem deseja dispor espaço em seu peito para o amor tem que saber que nem tudo são flores num mundo cor-de-rosa. Na vida de todos que amam, há sim momentos de dor tão grande que somente as lágrimas são capazes de traduzir.

 Às vezes, para se protegerem da sensação de hostilidade do mundo que as cerca, as pessoas buscam no isolamento a chave para abrir portas que mostram novos horizontes. Contudo, essa nem sempre é a melhor alternativa. Parece contraditório, mas a solidão sempre vem acompanhada de infortúnios.

Mas o que fazer com todo aquele sentimento que restou de experiências vividas que foram tão boas para nós? Talvez um dos caminhos seja o de desconstruir, ou seja, desmontar ou desmanchar os entraves que atrapalham nossos passos em direção a dias melhores. Isso pode ser compreendido facilmente, pois não dá para reconstruir uma casa sobre entulhos que fazem referência a momentos que precisam ser superados. Exemplos de situações assim são o que acontece entre pais e filhos, professores e alunos, marido e mulher, enfim, entre pessoas que querem promover a paz na escola, na sociedade e na família.

No processo de construção de um relacionamento, estamos pisando em ovos, pois tudo o que sabemos sobre o outro é ainda muito vago. Isso faz nossa matéria-prima imprecisa, pois não sabemos, por exemplo, qual sentimento dispor ou quanto vamos nos permitir envolver.

Reconstruir, por sua vez, exige delicadeza e força, ou seja, não uma delicadeza que foge e se esconde, mas uma delicadeza que não fere, não machuca e não causa ainda mais máculas a um relacionamento já ferido. Reconstruir exige mais detalhe, mais calma, mais persistência, pois, nesse processo, já conhecemos o outro, já sabemos que ele é falho, que pode se enganar, que pode errar mais uma vez. Entretanto, quem ama de verdade consegue vencer as barreiras de possibilidades pessimistas e dá mais uma chance para tornar a edificar um relacionamento que, agora, conta com bases mais sólidas.

Durante a infância de nossos filhos, por exemplo, vamos construindo nossa casa, imaginando-a linda, bela, sem defeitos e falhas. Com o passar do tempo, talvez comecemos a identificar rachaduras que podem comprometê-la por completo. E se esse relacionamento chega a um nível em que a convivência fica ameaçada, é hora, então, de limpar o terreno dos entulhos e recomeçar a partir de uma base construída no conhecimento dos limites e potenciais de ambos. A mesma situação pode ser entendida nos relacionamentos de professores e alunos, ou seja, é hora de sacudir a poeira, levantar o rosto e permitir-se, mais uma vez, ser operário nessa grande construção, que se dá na convivência do dia a dia.

O rompimento de um relacionamento pode ser perfeitamente reversível. Contudo, quando o fim é inevitável, ficamos sem saber o que fazer com todo o sentimento que restou e que pulsa junto a cada batida de nossos corações. A pessoa pode até ir embora, mas deixa em nós impressões que precisam ser tratadas.

 

(*) Erika de Souza Bueno é coordenadora-pedagógica do Planeta Educação e Editora do Portal Planeta Educação (www.planetaeducacao.com.br). Professora e consultora de Língua Portuguesa e Espanhol pela Universidade Metodista de São Paulo. Articulista sobre assuntos de língua portuguesa, educação e família.

 

 

 

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