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Não é sobre água

Efraim Rodrigues*

 

Na semana passada comemoramos o Dia Internacional da Água, razão pela qual não tocarei no assunto. Nestes dias já há muita gente por aí esbravejando que o mundo precisa cuidar da água, enquanto poucos, muito poucos, têm energia para ações concretas.

Por isso, um bom modo de comemorar o Dia da Água é falando de energia.

Ouço falar de carros elétricos há bastante tempo. Israel era um dos lugares que achei que fosse liderar a mudança, onde a firma Better Place desenvolveu um sistema engenhoso de trocas de baterias. Ao invés de comprar um carro com bateria, um item caro, a bateria era propriedade da empresa. Quando a bateria no carro fica sem energia, você a troca por uma carregada. Para reduzir o peso e aumentar a energia, todas as baterias eram de íon de lítio.

Achei que a coisa fosse deslanchar não só porque Israel é pequeno, facilitando o problema sério de autonomia dos carros elétricos, mas também porque existe certa animosidade, para falar o mínimo, em relação ao petróleo e aos países produtores. O preço também é camarada. Como o carro vem sem bateria, ele é mais barato que o similar a gasolina.

Dito tudo isso, é difícil de acreditar a que Better Place estivesse na pindaíba que está agora. Neste momento, somente 500 carros elétricos rodam em Israel. Os prejuízos são da ordem de meio bilhão de dólares.

A mudança é dramática para os custos envolvidos. Um carro é um grande investimento para uma família, o que leva as pessoas a serem um pouco conservadoras, medrosas até.

E nesta situação sempre aparecem os abutres. O economista Bjorn Lomborg, que construiu uma fama negando o efeito estufa e depois negando a negativa, agora escreveu no Wall Street Journal que os carros elétricos emitem mais carbono que os carros à gasolina. Os artigos de Lomborg me lembram o ditado que a estatística é a arte de torturar os dados até que eles digam o que você quer ouvir. Primeiro ele multiplicou por três a emissão relativa à construção, depois encurtou a vida útil dos carros.

Talvez o carro elétrico nasça em um lugar menos óbvio. Muitos dos objetos prosaicos de hoje, como geladeira, TV e chuveiro eram há pouco tempo só para os muito ricos. A Tesla Motors vem ganhando, já há alguns anos, o prêmio de melhor carro do ano da revista motor trend, competindo, obviamente, com inúmeros carros de combustão interna. Este carro não se parece em nada com o Toyota prius que os atores de Hollywood dirigem para sair bem na foto. É um carrão que vai de 0 a 100 em menos de 5 segundos, que as pessoas compram para ostentar. Ao contrário da Better Place, a Tesla tem uma fila de compradores, e está vendendo em um único mês o que a empresa israelense vendeu em toda sua vida: 500 carros. Custa 5.000 dólares para entrar na fila por um Tesla.

Pode ser que depois que estes milhares de ostentadores ambientais comprem seus carros, que o resto dos motoristas passe a achar os carros elétricos menos exóticos e então veremos carros elétricos normais à venda.

Tentemos comemorar o Dia Internacional da Água fazendo o contrário de Lomborg: falemos menos e façamos mais.

 

*Doutor pela Universidade de Harvard, professor associado de Recursos Naturais da Universidade Estadual de Londrina e consultor.

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