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Monopólio x concorrência

Sandro Ferreira

 

Foi corajoso o ato administrativo do prefeito Marcelo Rangel que revoga a renovação automática do contrato de transporte público em Ponta Grossa, assinado de forma no mínimo suspeita pelo ex-prefeito Pedro Wosgrau Filho no apagar das luzes do seu governo e consetido pelos vereadores da legislatura passada (como era a praxe). Porém, ainda é preciso acompanhar o desenrolar dos fatos para vermos se o novo prefeito está mesmo decidido a enfrentar uma mamata que já dura quase um século ou se só está jogando para a plateia. Lembrando que a discussão do monopólio no transporte público é uma polêmica antiga na cidade, sobre a qual já muito se falou e debateu, mas que nunca mudou.

Vários movimentos e lideranças combateram o monopólio da Viação Campos Gerais (VCG), mas a questão sempre foi resolvida em favor da concessionária do serviço, sabe-se lá como. Pessoalmente acredito que nem as irmãs carmelitas creem que ex-prefeitos tenham assinado um contrato tão impopular politicamente de maneira austera e inocente, portanto, são inacreditáveis as justificativas dadas pelos ex-prefeitos Péricles Holleben e Pedro Wosgrau Filho para as últimas renovações por períodos iguais de dez anos cada. E foram tão indecentes as assinaturas desse contrato quanto é a argumentação da empresa de que cumpriu rigorosamente 98% das metas estabelecidas pelo mesmo. Qualquer pessoa que utilize ônibus em Ponta Grossa sabe que a retórica não corresponde à verdade. Assim como é pura apelação por parte da VCG falar em violação do Estado Democrático de Direito, na atitude do novo prefeito que apenas fez o que prometeu durante a sua campanha eleitoral, e que tem sim amparo legal para tal medida.

É justo que se cobre o fim de um privilégio, onde uma única empresa tem o direito contratual de operar um sistema de transporte coletivo que arrecada R$ 1 bilhão em dez anos, oferecendo um serviço questionável em vários aspectos, a começar pelo preço da passagem, os atrasos constantes, a superlotação, a falta de preocupação com a acessibilidade de cadeirantes, os terminais que até hoje não foram construídos, a falta de manutenção em sanitários, os ônibus mal conservados, as manobras imprudentes no trânsito, os baixos salários dos seus colaboradores, a precária fiscalização externa nas catracas, as planilhas manipuladas, enfim, deve-se aprofundar a discussão e colocar uma lupa no assunto, inclusive com a participação do Ministério Público, para que eventuais distorções sejam devidamente investigadas.

Não é pedir muito para quem já desfrutou por tanto tempo os benefícios da exclusividade e nem se trata de questionar os proprietários da empresa, mas apenas defender o direito dos passageiros em ter um transporte diário e coletivo mais digno e por um preço razoável. Que a VCG passe, assim como qualquer outra empresa, de qualquer segmento, a ter a concorrência nos calcanhares, para que reveja seus serviços, melhore seus procedimentos e valorize mais a sua mão de obra. Concorrência faz muito bem aos consumidores e até mesmo para as empresas competentes. Monopólio só é bom para aqueles que o detém.

 

*Cidadão de Ponta Grossa

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