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Mais amargo ainda o ritual de matear

Giovanni Luigi Schiavon

Atualmente os produtores de erva-mate vivem um cenário invejável como nunca se viu, basta colocarmos os números na ponta do grafite. Pois há cerca de aproximadamente um ano a arroba não passava de R$5 e hoje tem produtor recebendo de R$20 pra cima pela mesma quantidade (!). Em contrapartida, o consumidor fica a beira de um infarto quando se posiciona frente à prateleira do mercado para efetuar a compra do verde amargo (de amargo a intragável, no chimarrão, claro, diga-se de passagem). Um baita contraste.

Pode-se dizer que as causas deste reajuste de cerca de 400% em um ano vieram à tona como que em uma bola de neve. De imediato podemos começar analisando a situação do país quanto à produtividade da erva-mate, pois, por não sermos autossuficientes na produção e termos sempre a Argentina suprindo essa demanda com suas exportações, a falta do produto no mercado e o cancelamento dessas exportações foram talvez a principal causa dessa disparada no preço. No entanto, não paramos por aqui. Aliado a isso, a falta de matéria-prima ajudou – e ainda ajuda – a agravar este problema, por certo ponto o fator é histórico, oras, basta recordarmos o tempo que a soja e o milho, por exemplo, estiveram constantemente na ponta das tabelas de cotações agrícolas enquanto que, do outro lado, o baixo valor pago aos produtores por muitos anos não se distanciava muito de R$0,50 a arroba (vide década de 90). Por decorrência disso, podemos observar a redução em quase 10 mil hectares da área total plantada nos últimos dez anos no Rio Grande do Sul, estado cujo chimarrão é símbolo de tradição. A alta da soja e o baixo valor pago ao agricultor fez com que muitos deixaram o cultivo de lado aderindo à soja, tabaco e tantas outras culturas, assim o produto escasseou para a indústria, que começou a pagar mais pela matéria-prima. Comemora o produtor persistente.

Também dão volume a esta bola de neve a questão da entressafra que começou no mês passado e segue até dezembro, o custo e a falta de mão de obra que, diferente da soja, ainda é braçal, o talvez pouco interesse no avanço do melhoramento genético da planta e, obviamente, não poderíamos deixar de esperar uma vez que se tratando de Brasil, a taxação da carga tributária. Para este, uma tentativa de isenção da alíquota de PIS/Cofins para a erva-mate proposta pelo deputado federal Alceu Moreira (PMDB) ainda está em trâmite.

Por fim, oremos para que o quilo da erva-mate não chegue a R$20 até final do ano como previsto uma vez que o preço ainda não está estagnado e possamos voltar a sentir o gosto amargo na hora de ‘encilhar um mate’ em função do sabor e não do alto preço do produto.

O autor é acadêmico de Engenharia Civil – UEPG

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