Menu
em

Isentos de prescrição, mas não de riscos

 Rodrigo Batista de Almeida

 

 

 

O Senado Federal elaborou uma medida provisória que, se fosse aprovada pela presidência da República, permitiria a venda de medicamentos em supermercados, lojas de conveniências e outros tipos de estabelecimentos relacionados. A presidente Dilma Rousseff, atendendo a diversos pedidos e entendendo o risco sanitário que poderia surgir pela medida, vetou a liberação desses produtos farmacêuticos em supermercados.

Os senadores fizeram uma confusão e tanto. A medida provisória foi criada para tratar da isenção de impostos sobre produtos destinados a pessoas com deficiência. E vejam onde foi parar!

Os grandes problemas que poderiam vir, caso a medida fosse adotada, seriam o aumento da automedicação, a perda (ou dificuldade) na rastreabilidade dos produtos e os riscos advindos dos efeitos adversos de medicamentos.

Os defensores de tal medida argumentaram que nos Estados Unidos (da América) compra-se de tudo no supermercado, inclusive medicamentos, sem falar nas farmácias americanas que vendem cigarros. Entretanto, não podemos cair na armadilha de utilizar os Estados Unidos como modelo para alguma coisa. Se eles adotam essa prática lá, que resolvam os problemas decorrentes do abuso de medicamentos. Nós aqui, temos que pensar à brasileira, focando a atenção na realidade nacional. E para nós não é interessante vender medicamentos em farmácias.

O brasileiro adora se automedicar e manter estoques consideráveis de medicamentos em casa. A venda desses produtos em supermercados traria, subliminarmente, a mensagem de que esses produtos são inócuos e isentos de risco. E o raciocínio é muito lógico. Uma pessoa comum, mesmo bem esclarecida em assuntos gerais, mas ignorante em relação aos aspectos farmacológicos que norteiam o uso de medicamentos, poderia supor que os remedinhos no supermercado são produtos que apresentam ausência de potencial em provocar complicações, como alergia e intoxicação, já que os produtos possuem autorização da Anvisa e estão à disposição dos clientes, ao lado das balas de goma.

Portanto, um produto com um grande risco para a saúde deve ser tratado com muita cautela. Um simples AAS (ácido acetilsalicílico) pode causar uma hemorragia gástrica ou precipitar uma síndrome neurológica em crianças suscetíveis. Um simples paracetamol pode gerar uma toxicidade hepática em pacientes predispostos. E as consequências podem ser catastróficas, incluindo dano permanente em diversos sistemas.   

Então, quando precisar de um remedinho, vá à farmácia mais próxima. Lá, você terá à sua disposição um farmacêutico para fornecer todas as orientações necessárias ao uso correto do medicamento, além de dirimir qualquer dúvida em relação à posologia, interações e efeitos adversos.

 

 

 

O autor é professor do Instituto Federal do Paraná (IFPR) campus Palmas

Participe do grupo e receba as principais notícias da sua região na palma da sua mão.

Entre no grupo Ao entrar você está ciente e de acordo com os termos de uso e privacidade do WhatsApp.
Sair da versão mobile