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Francisco: o 1º papa jesuíta e hispano-americano

Fabio Anibal Goiris*

 

Após a quinta votação da qual participaram 115 cardeais a portas fechadas na Capela Sistina emergiu finalmente a fumaça branca, houve, pois, um acordo para a eleição do novo pontífice no segundo dia do Conclave. O eleito foi o arcebispo de Buenos Aires, Jorge Mario Belgoglio, de 76 anos.

Uma escolha sensata, judiciosa e prudente. Mais ainda: uma escolha por um sacerdote jesuíta, peregrino e missionário, que coloca em evidência a importância central da ‘fraternidade’ e da ‘acolhida’, especialmente no sentido do amparo dirigido em favor dos mais necessitados. O arcebispo Belgoglio que até pouco tempo andava de ônibus pelas favelas de Buenos Aires sempre levou ao povo uma mensagem muito clara: silêncio e oração.

A escolha do papa de número 266 é uma homenagem mais do que justa à Congregação da Companhia de Jesus fundada em 1534 pelo espanhol Inácio de Loiola. A Congregação emergiu no contexto da Contrarreforma como uma forma de fazer frente ao avanço do protestantismo no mundo. Na América Latina no século XVI os jesuítas catequizaram os índios, transmitindo-lhes as línguas europeias, os costumes que criaram a família cristã e, sobretudo, a religião católica. No Paraguai, por exemplo, os jesuítas ficaram por quase dois séculos criando o que se chamou de ‘República Comunista Cristã dos Guaranis’. Não custa rever um grande e extraordinário filme ‘A Missão’, com Jeremy Irons e Robert de Niro. Por vezes polêmicos devido a algumas tendências internas, os jesuítas sempre defenderam os pobres. Sob o lema de Ficar no mundo, servindo ao próximo, mesmo com a incerteza de se salvar, os jesuítas tiveram importante papel em todo o mundo na formação de cidadãos.

Jorge Mario Belgoglio nasceu em Buenos Aires em 1936, demorou um pouco para ser padre, se formou antes em química. Em 1958 começou seu noviciado na Companhia de Jesus. Foi professor de Literatura e Psicologia no colégio e faculdade El Salvador de Buenos Aires e aos 33 anos celebrou sua primeira missa. Em 1986 voltou à Europa, especificamente na Alemanha, para terminar sua tese de doutorado. Publicou vários trabalhos eclesiásticos: ‘Meditaciones para religiosos’ (1982), ‘Reflexiones sobre la vida apostólica’ (1986) e ‘Reflexiones de esperanza’ (1992). Em 1998 foi nomeado arcebispo de Buenos Aires.

Não obstante, existe no meio da sua eleição como papa algumas denúncias de que no período do regime militar argentino (1973-1986) teria apoiado ideologicamente aquele regime. Algo semelhante ao que se dizia do filósofo Nietzsche que supostamente teria apoiado o nazismo ao escrever sobre o valor do super-homem (‘ubermensch’).

De qualquer modo: a escolha do nome Francisco remete à figura de São Francisco de Assis que renunciou à riqueza para servir os seus semelhantes. Não custa lembrar que o arcebispo Belgoglio apoiou abertamente os sem-terra na recente crise social da Argentina. Por tudo isso, o papa Francisco não é apenas um típico evangelizador jesuíta que prega a humildade, a simplicidade e o amor ao próximo. Mais do que isso: veio para resgatar o extraordinário valor espiritual da oração.

 

*O autor é cientista político e professor da UEPG

 

 

 

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