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Falência do sistema educacional?

 

Dezembro, fim de ano letivo, exames, fechamentos de notas, conselhos de classe, polêmicas reuniões pedagógicas. Por coincidência, o ministro da educação divulga notas do Enade e anuncia que elas estão melhorando, o ensino no país vai bem. Vai?

Rápida inspeção nas escolas públicas de Ponta Grossa revela realidade bem diferente: crescente número de alunos inadimplentes durante o ano, mas que são anistiados no final, com substitutivos que visam evitar altos índices de reprovação; banalização das avaliações, transformadas na repetição de medíocres listas de exercícios, que treinam para memorizar e não para refletir; crescente indisciplina, afrontas para com colegas, professores e funcionários, tornando-se cada vez mais frequentes as chamadas à patrulha escolar e as ocorrências na delegacia; professores tornando-se reféns de alunos irreverentes e violentos, que reproduzem na escola os comportamentos que têm em seus lares destroçados e desregrados; pais ou alheios à vida educacional e pessoal dos filhos ou defensores de seus erros e abusos; alunos faltosos, sem média, analfabetos funcionais, indisciplinados, às vezes com severas disfunções psicopedagógicas e comportamentais, mas aprovados, seja para mascarar a precariedade do sistema, seja para se livrar de adolescentes-problema, seja para honrar inconfessáveis pactos de mediocridade…

Aos poucos, estes problemas do ensino básico vão chegando à universidade, onde formamos os futuros professores e profissionais. Se até há pouco tempo a universidade ainda era relativamente autônoma e imune a pressões para relaxar critérios de avaliação, hoje essa realidade vem mudando. Um reflexo do aumento de alunos ingressantes com um ensino básico muito fraco, acostumados a fraudar resultados. Como é possível que de repente eles se tornem aplicados se foram treinados para serem irresponsáveis? Eles transtornam as aulas, confrontam regulamentos e professores que tentam ser sérios. Estes muitas vezes veem-se acuados, esmorecem, acabam cedendo. E, fechando um danoso círculo vicioso, os formandos vão para a realidade do mundo já cheios de vícios, a perpetuá-los.

Há alguns anos um artigo do economista estadunidense Paul Krugman opinava sobre o futuro dos chamados BRICS (Brasil, Rússia, Índia, China, África do Sul), gigantes emergentes no conflituoso mundo atual. Para o economista, apesar dos enormes recursos naturais, da invejável identidade cultural e estabilidade política, o Brasil era, na visão dele, um país com reduzidas chances de sucesso. O diferencial negativo? A educação! Desacreditada no nosso país, levada muito a sério nos outros emergentes.

Podemos acrescentar comentários à opinião do economista: é a educação que forja não só a saúde econômica, mas também a saúde política, moral, ética, social… Então, como andam as nossas instituições? Nossos políticos, a criminalidade, a sociedade, a corrupção, a cultura, como vão em nosso país?

É hora de uma revolução ética, a começar na educação. Educadores, vamos iniciá-la?

 

Mário Sérgio de Melo é

geólogo, professor do Departamento de Geociências da UEPG

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