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Entrevista com a filha de Che Guevara

Fabio Anibal Goiris

Recentemente (30/06/2011) o jornal ‘Folha de São Paulo’ entrevistou a médica cubana Aleida Guevara, filha mais velha do mítico revolucionário argentino e também médico Ernesto Che Guevara. Aleida Guevara se declara apenas uma militante da base do Partido Comunista Cubano. Suas principais preocupações hoje se centralizam em trabalhar como pediatra, cuidar da memória do pai e fazer uma defesa intransigente do modelo socialista da ilha.

O modelo cubano entrou em verdadeira crise, diz a médica, quando Cuba perdeu o suporte do campo socialista Europeu com o qual comercializava e recebia apoio tecnológico. A partir deste momento o Estado cubano passou a arcar com a manutenção das pessoas que dependiam desse processo e que ficaram sem trabalho. A estratégia do governo hoje é incentivar para que essa parte da população passe a trabalhar em forma independente. Um exemplo desse processo é a possibilidade de as pessoas poderem comprar e vender seus bens. Contudo, isso não significa ainda a ‘propriedade privada’ de imóveis e carros, o que estaria contrariando o modelo econômico da ilha. Mas, o grande medo de Aleida Guevara é que as pessoas que comecem trabalhar para si mesmas percam um pouco a ‘consciência social’ tal como ocorre no capitalismo; pois, ‘o homem pensa segundo vive’. Marx diria que não é a consciência do homem que transforma as relações materiais, mas ao contrário é através dos processos sociais materiais, notadamente do trabalho, que a consciência é (trans)formada.

De qualquer modo, o Estado cubano continua sendo socialista por uma simples razão: não há privatização nos grandes meios de produção. Isto é intocável e representa a base marxista da infraestrutura e das relações de produção. O povo cubano segue sendo dono de tudo que se produz no país. Por isso mesmo, quando foi perguntada se Cuba é uma ditadura, a médica responde que isso é uma falta de conhecimento da realidade cubana. Cuba é vítima da falta de informação. Em Cuba existem eleições populares muito mais democráticas que as de qualquer outro país. O povo elege diretamente seus candidatos a partir da base. O fato de existir um partido único não tem nada a ver com eleições. O partido eleito é o partido dirigente, ou seja, o partido escolhido pelos votantes. As eleições são de baixo, do povo. O povo cubano conhece sua gente e sabe votar. O povo quer que continuem os mesmos dirigentes. Se esses dirigentes, como os irmãos Castro, estão até agora no poder é porque tiveram apoio popular, não existe outra interpretação.

Quando foi perguntada sobre os presos políticos, Aleida Guevara disse que presos políticos se referem a ‘encarcerados por ideias’. O que existe em Cuba são pessoas que desenvolveram ações delituosas contra o povo, como por veneno na água de uma escola, tentar incendiar a central telefônica. Isto é terrorismo. Em Cuba há mercenários pagos pelos EEUU. O que deve ficar claro, diz a médica, é que democracia significa o poder do povo. É um estado de direito para todos os cidadãos. Isso sim existe em Cuba. O que o povo diz é o que se faz. O povo tem sempre a última palavra.

O que os cubanos condenam é o bloqueio de mais de 40 anos dos EEUU, ou seja, de não permitirem que Cuba comercialize livremente seus produtos com outros países. Isto empobreceu profundamente a economia cubana. Alguma vez as pessoas já chegaram a imaginar as consequências prejudiciais e lesivas de um embargo dessa natureza em seus próprios países? Mesmo assim, Cuba eliminou o analfabetismo (e hoje tem um Mestre para cada 42 habitantes) e a taxa de mortalidade infantil está abaixo de 7; índice só superado pelo Canadá. Por fim, estes dados demográficos e sociais sobre a República de Cuba dificilmente poderão ser encontrados quando se possui como referência bibliográfica a revista ‘Veja’.

O autor é cientista político e professor da Uepg. 

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