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Enquanto os manacás florescem

Mario Eugenio Saturno*

 

No começo do ano, os manacás-da-serra da Mata Atlântica, na porção da Serra do Mar que passo todo dia, florescem. É uma árvore magnífica, com flores violetas, mas que tem cerca de um décimo de flores totalmente brancas. A primeira vez que as vi, acreditei que fossem duas trepadeiras que se misturavam, mas descobri que as duas flores pertenciam à mesma árvore. Estas árvores também pertencem à família das quaresmeiras, mas a flor da quaresmeira tradicional tem uma cor roxa escura não tão bonita quanto a do manacá.

As minhas viagens diárias não são cansativas, a Mata Atlântica oferece uma variedade fantástica de flores quase o ano todo, a primavera reina. Sem dúvida alguma, é um excelente promotor de saúde mental.

Não deixo de pensar na própria saúde da Mata Atlântica, que no Estado de São Paulo tem uma aparência boa, mas sabemos que a mata tem muitos problemas. Creio que os governos estadual e federal deveriam atuar sistematicamente na preservação e recuperação da mata. Acho um absurdo incrível as fazendas de gado ao longo da rodovia dos Tamoios, como pode um boi criado em pastos montanhosos produzir carne boa? O governo poderia muito bem desapropriar e devolver os morros à Mata Atlântica.

E pergunto-me, por que os ecologistas não propõem trocar as áreas inundadas por hidrelétricas por áreas de recuperação da Mata Atlântica? Afinal, a Amazônia não está perdendo florestas por conta de represas, mas pela ocupação desordenada e predatória.

E, como lembrou José Goldemberg dias atrás, os reservatórios das hidrelétricas estão praticamente no mesmo nível de 2001 e certamente teríamos um racionamento se não tivessem sido instaladas usinas termoelétricas, que usam gás, óleo combustível e até carvão, durante o final do governo Fernando Henrique e ao longo dos governos petistas. E mesmo o racionamento não está afastado já que todas as termoelétricas disponíveis foram acionadas e, se não chover nas cabeceiras, faltará energia. Alternativa como termoelétricas que usam bagaço de cana-de-açúcar não foram estimuladas pelo governo por motivação ideológica. Na verdade, uma burrice mesmo, já que muitas usinas de álcool estão próximas dos centros consumidores de energia.

E os ambientalistas têm que ser lembrados que termelétrica a combustível fóssil além de produzir uma energia muito mais cara do que a das hidrelétricas, poluem muito e contribuem para o aquecimento global. Além da saúde ambiental, saúde financeira do estado também tem que ser avaliada na conjuntura global. E para um país rico em recursos hídricos e chuvas abundantes, hidrelétrica a fio d’água parece piada de mau gosto. Eu trocaria repleto de felicidade as áreas inundadas por hidrelétricas pelo reflorestamento das montanhas da Serra do Mar e pela melhoria da fiscalização de queimadas na Selva Amazônica.

Porém, como falar de saúde ambiental quando a própria saúde humana está em crise? A Organização Mundial de Saúde, OMS, maior agência de saúde do mundo, está em crise, vitimada pela crise internacional. E nos Estados Unidos, que implementou seu SUS há pouco tempo já corta gastos. E ainda falamos mal do Brasil…

 

* Mario Eugenio Saturno (cienciacuriosa.blog.com) é Tecnologista Sênior do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE) e congregado mariano.

 

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