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Eleições: Um novo momento político (XXI)

Fabio Aníbal Goiris

 

 

 

A maioria das pessoas repete um lugar comum: as eleições municipais se resolvem no município, em torno de questões locais como transporte, saúde, educação, conservação de vias, nomes de ruas, etc. Existe um pressuposto certamente equivocado de que não teriam nenhuma importância, por exemplo, as disputas nacionais dos partidos para definir os pleitos locais (municipais), pois seria improvável que os eleitores votassem no município levando em consideração sua avaliação dos governos nacional e estadual. Contudo, estas eleições municipais já deixaram de ser apenas disputas paroquiais e começam a adquirir um caráter cada vez mais nacional.       

Hoje, nos discursos de palanque, os candidatos a prefeito e candidatos a vereador já são compelidos a falar de temas nacionais. O Brasil como país republicano e que advoga pelo princípio do Constitucionalismo deve começar sua luta democrática justamente pela inserção sociopolítica dos municípios. Num trabalho intitulado: ‘O município no constitucionalismo brasileiro e o tratamento histórico do poder local, Janaína Rigo Santin, escreve: ‘A noção histórica de Poder Local no Brasil está vinculada ao coronelismo, patrimonialismo e personalismo no exercício do poder político. Porém, em um regime democrático, o Poder Local deverá ser visto sob outro ângulo, a partir de noções de descentralização e participação popular.  Essa visão inverte totalmente a dinâmica com a qual é analisada a categoria do Poder Local, agora pautada na sociedade civil e nos movimentos sociais e na sua relação com a sociedade política’.

Vários são os exemplos de que tópicos nacionais devem ser invocados como se fossem temas locais. Por exemplo, muitas são as obras inacabadas ou superfaturadas, que prejudicam a sociedade como um todo ao fazer o contribuinte arcar com as consequências da má gerência e aplicação dos recursos públicos.

 Mas, levando ao extremo a relação entre o ‘local’ e o ‘nacional’ pode-se apontar no Brasil de hoje dois temas macroeconômicos a ser discutidos com urgência: a questão do dólar e o endividamento das famílias. Em primeiro lugar o câmbio flutuante do dólar preocupa o próprio Banco Central. Sabe-se que o câmbio flutuante é a primeira linha de defesa do país em caso de choques e de crises. Contudo, a volatilidade do câmbio está repercutindo no sentido de piorar, especialmente no meio empresarial, o sentimento de risco (leia-se ‘risco Brasil’). Em segundo lugar, uma pesquisa que apareceu no jornal O Estado de S. Paulo demonstra que quase um quarto das famílias brasileiras se endividou mais do que deveria e foi obrigado a reduzir o padrão de vida e procrastinar o pagamento das suas dívidas. Ou seja, em torno de 14,1 milhões de famílias comprometeram mais de 30% da renda mensal com dívidas. A maior parte dessas famílias superendividadas está na fatia menos favorecida da população: 5,8 milhões na classe C e 6,6 milhões nas classes D e E. Diante disto, pode-se concluir que as campanhas eleitorais terão de incluir temas nacionais.

 

 

O autor é cientista político e professor da UEPG

 

 

 

 

 

 

 

 

 

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