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Dia dos pais…

Consuelo Taques Ferreira Salamacha

 

Pai, este último ano eu juro que passei tentando não me lembrar de você. Tentando de algum modo fazer de conta que sempre estava tudo bem, mas em algum minuto do dia eu estava pelos cantos e escondia as lágrimas. Sabe pai, estamos longe um do outro há quase um ano. É a primeira vez que lhe escrevo. Neste Domingo em que tantos vão abraçar os pais, eu vou escrever para você. Neste Domingo que talvez alguns possam estar desejando conhecer um pai que jamais tiveram, eu vou estar feliz por ter tido você como meu pai.

Um dia tão lindo, onde muitos possam talvez tentar arranjar desculpas para não ficar com seus pais, eu terei o privilégio de contar pra você meus segredos sem qualquer receio. Não há mais senão, não há mais veja bem, não há mais razão para eu lhe esconder nada pai. O respeito, a coragem, o medo, a dúvida, agora tudo você conhece, tudo está nítido. Tenho a impressão de que quando nos desprendemos do corpo físico, vamos para um plano privilegiado onde o atendimento é magnífico e a compreensão acontece para com os que ainda caminham por estas veredas. O entendimento é infinitamente maior! Também tenho a impressão que a nossa saudade é semelhante aqui e aí. Então, fico contente por lhe escrever, pois sei que você vai compreender meu escrito, e ao mesmo tempo, fico feliz em dizer aqui para tantos filhos e pais que de fato aproveitem o momento de estar um ao lado do outro. Que se falem palavras de amor, que se digam frases amigas, que exista um contato desde o princípio de muito afeto. E, sinceramente, que no íntimo de cada um desses pais e filhos exista cumplicidade. A família nutrida pelo amor de um pai, do jeitão dele, é estruturada e resiste às intempéries. Não há uma só alma nesta caminhada da vida que não tenha sofrido o impacto da dor. A dor faz parte da vida. E a vida, com a figura de um pai de verdade, um pai amoroso, um pai que é pai e não está pai, é diferente.

Volto o meu escrito para você meu pai… Você sabe o quanto você foi importante na vida da gente. Até hoje quando nos reunimos lá em casa, para aquele café da tarde, ao redor da mesa, como você habitualmente gostava de fazer, falamos de você e você sabe disso… Estou certa que isso aí… Nas nossas risadas, nas imitações que fazemos de você (nós, seus filhos)… Até quando eu preparo uma receita, um bolo, uma sobremesa que você gostava de comer, ou quando a mãe fala de algo que me faz lembrar você, tudo enfim tem sentido. Que privilégio meu ter vindo antes de meus irmãos, tive mais tempo ao seu lado… E sabe pai, se Deus me desse a oportunidade de escolher uma vida outra vez, pediria para ser sua filha de novo. Em tantas das nossas falas você muito relutou, discordou, ponderou, mas também me deu o seu apoio. Se eu insistia, você acabava dizendo: por um filho meu eu vou até o fim. Lembra pai?

Alguém me disse outro dia que na nossa família todos eram loucos. Sabe pai, sinceramente, eu prefiro em certos momentos, a nossa ‘insanidade’ a ter de ouvir certos comentários infelizes. Pobres e desalentados corações que não sabem das nossas vidas e gostam de maltratar os outros. Então ligo o rádio e vou ao embalo da canção que diz: mas louco é quem me diz, e não é feliz, não é feliz…

 

A autora é advogada

consuelo@wsw.com.br

 

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