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Como interpretar o ‘ranking’ do Enem

Evaldo Colombini Miranda 

Os resultados divulgados pelo Inep nesta semana sobre a edição 2012 do Enem (Exame Nacional do Ensino Médio) devem ser vistos com bastante atenção e cuidado em sua interpretação. Como acontece todos os anos, a partir dessa publicação, as escolas são classificadas em um ranking, que passou a ser considerado critério primordial de avaliação de pais na hora de escolher a melhor instituição de ensino para seus filhos. Mas as escolas com médias mais altas são de fato as melhores?

Para responder, primeiro é necessário uma reflexão sobre o que é qualidade de ensino. Se adotarmos um único critério para a análise (melhores médias em provas como o Enem, por exemplo), corremos o risco de não considerarmos escolas cujas propostas de ensino são mais diversificadas, priorizando valores, trabalhando com turmas heterogêneas e cujas ações contribuem para a formação de indivíduos autônomos e capazes de agir positivamente em grupo. Essas escolas podem não ser campeãs do Enem.

É importante verificar que tipo de escola estamos analisando. Sabemos que, quase sem exceção, as melhores colocadas no ranking são escolas excludentes, ou seja, selecionam seus alunos. Isso ocorre na admissão (através de exame de seleção) ou, ainda, durante o processo, eliminando os menos dotados nas séries que antecedem ao 3º ano do Ensino Médio, ocasião em que os alunos participam do Enem e dos vestibulares. Deve-se levar em conta também que, em todas as escolas, há diferenças entres os grupos de alunos de um ano para outro, inclusive quanto ao grau de engajamento em relação às provas como o Enem e os vestibulares, o que faz a média da unidade escolar considerada sofrer variações.

É pouco conveniente também comparar escolas que inscreveram poucos alunos na prova Enem (algumas apenas 12, 15 alunos), mesmo com ótimos resultados, com outras que tiveram um número maior de estudantes participantes (50 alunos ou mais) – e que eventualmente obtiveram um desempenho menos significativo.

Há também a possibilidade de ocorrerem aberrações, como seria o caso, por exemplo, de alguma rede de ensino, inscrevendo os melhores alunos numa única unidade, o que, obviamente, implicaria numa média notável para essa unidade, generalizando-se esse resultado para toda a rede.

Como comparar escolas excludentes com outras que valorizam a diversidade? O que é mais significativo: registrar uma boa média no Enem, a partir de ações elitizantes, ou criar condições para que todos os alunos efetivamente evoluam no processo? Assim, é mais consistente verificar o que foi feito com o alunado de uma determinada escola, desde sua admissão até o final de seu processo de formação. Essa avaliação, caso fosse feita, estaria sujeita a uma complexa teia de critérios, tais como a verificação de como o aluno ingressou no sistema, combinada com a análise do meio social e o universo familiar a que pertence, currículos, culturas escolares, saberes mais gerais e conhecimentos específicos que foram adquiridos.

É inegável a importância de se produzir indicadores de qualidade do ensino oferecido pelas nossas escolas, mas a redução de critérios pode fazer com que propostas de ensino mais ricas e diversificadas deixem de ser reconhecidas como de qualidade.

Enfim, na hora de escolher a escola de seu filho, além do resultado do Enem, os pais devem verificar o projeto pedagógico, analisar a equipe docente, conhecer o espaço físico, saber da existência de recursos para o enriquecimento do processo ensino-aprendizagem, observar a conduta dos alunos e, acima de tudo, refletir se a proposta da escola atende às suas expectativas de formação em relação a seus filhos.

O autor é consultor em educação e diretor da Educon Consultoria em Educação

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