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Boleslau em praça pública de PG, por que não?

 

Rafael Schoenherr*

A Secretaria Municipal de Cultura e Turismo de Ponta Grossa acaba de lançar edital de concurso de histórias em quadrinhos que homenageia o falecido cartunista Ireno José Guimarães, de destacada contribuição local às artes gráficas. O também cartunista Benett soube da iniciativa e comentou no seu blog a importância desse tipo de lembrança como estímulo a novos criadores.

O jornalista Benett, formado pela UEPG, fez uma singela homenagem, redesenhando o personagem Boleslau, marca registrada de Ireno. Vale conferir (http://www.gazetadopovo.com.br/blog/salmonelas). Ele lamenta apenas que sejam tão raras as ocasiões de reconhecimento público da contribuição de artistas locais para a cidade e admite a escassez de materiais disponíveis ou informações sobre Ireno.

Benett aproveitou para oferecer uma oportuna e humorada sugestão: “(…) ainda acho que a cidade devia construir uma estátua de bronze do Boleslau, nos mesmos moldes que fizeram com os personagens do Schulz, em Santa Rosa, nos EUA”, compara, referindo-se ao criador de Snoopy e da turma do Charlie Brown. De fato, diante do tragicômico histórico de inutilidade de monumentos criados e destruídos em Ponta Grossa às custas do dinheiro público, por que não apostar em uma justa e valiosa homenagem?

Da mesma forma como Ireno em alguma medida serviu de espelho, referência e provocação a um novo criador, é bem provável que as charges e os personagens de Benett, que já foi chargista do Diário dos Campos e hoje publica em jornais como Gazeta do Povo e Folha de S. Paulo, tenha (des)encaminhado muita gurizada para as expressões gráficas e ao jornalismo.

Lembro quando o amigo de criação de Benett dos tempos de Santa Paula, professor Victor Folquening, convidou o cartunista a pintar seus desenhos em formato gigante nas paredes do laboratório de redação da escola de comunicação em uma faculdade de Curitiba. O efeito daquele pequeno ‘monumento’ ou ‘gesto público’ sobre os curiosos estudantes valia mais do que muita aula. Assim que se tocavam das mudanças nas paredes, depois do espanto, passavam a perguntar sobre o autor. E começar a perguntar é meio caminho para o aprendizado e também para o jornalismo…

Gosto de uma pesquisadora que define monumento como tudo aquilo que ajuda a contar publicamente a história de uma cidade, a demarcar a passagem do tempo e, portanto, capaz de fazer memória – sugerindo que aquele símbolo é algo que diferentes gerações de habitantes possuem em comum, uma identidade. A ideia é de Suzana Gastal, no livro ‘Alegorias Urbanas: o passado como subterfúgio’ (Papirus, 2006). 

E Boleslau diz mais sobre todos nós do que coronéis, generais e outros militares de outrora ainda hoje homenageados no espaço urbano. Passear por PG e encontrá-lo em praça pública, talvez depois de ter visto as charges de Bennet em paredes do Calçadão, seria uma audaciosa prática de contar e rememorar a nossa própria história, de modo coletivo, participativo, polêmico e sugestivo a novos e necessários criadores.

* jornalista, professor de Jornalismo na UEPG e membro do Conselho Municipal de Cultura de Ponta Grossa (http://prensado.wordpress.com).

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