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Até onde marcha a humanidade?

José Alexandre

Quem já participou ou participa de algum movimento social ou partido político, provavelmente, já se perguntou sobre o que é capaz de mobilizar as pessoas. Ao mesmo tempo que a resposta parece escorregadia, se mostra bastante palpável em alguns eventos que têm sido amplamente noticiados. No Brasil e no mundo, se fala de marcha da maconha, marcha contra as drogas, marcha de Jesus, enfim, eventos que têm mobilizado uma quantidade significativa de pessoas.

Entre março e abril de 1930, Mahatma Ghandi e vários de seus discípulos iniciam uma marca de protesto contra o domínio britânico na Índia. Naquele contexto, a metrópole britânica havia obrigado a Índia sua colônia a comprar bens manufaturados apenas do Reino Unido, proibindo os indianos inclusive de extrair sal em seu país. A marcha durou 25 dias, tinha cerca de 400 quilômetros do interior em direção ao litoral e o grupo parava de cidade em cidade para descansar, de maneira que conquistavam cada vez mais adeptos. Em 6 de abril, junto com cerca de 50 mil indianos, Gandhi foi preso, o que não impediu que a marcha chegasse a seu destino nas salinas em direção a Bombaim.

No Rio de Janeiro, em 13 de março de 1964, o Presidente João Goulart anunciou em um comício as suas reformas de base. Em resposta, um movimento denominado Marcha da Família com Deus pela Propriedade conseguiu mobilizar cerca de 300 mil pessoas em repúdio a Goulart e suas reformas. O movimento contava com o apoio do governador do Rio Ademar de Barros, cuja esposa Leonor Mendes de Barros foi uma das organizadoras do movimento que também contava com apoio de entidades femininas, como a União Cívica Feminina, patrocinadas pelo Instituto de Pesquisas e Estudos Sociais.

A mobilização de tamanho número de pessoas certamente sinalizou aos militares brasileiros que uma fração significativa da população era avessa às políticas de Goulart. Cientes do apoio da classe média e pressionados pelo governo estadunidense, os militares promovem um golpe de estado que lhes dão o comando das rédeas da nação até 1985. O Brasil passa a ser governado através de Atos Institucionais. É um período em que valores democráticos, como a liberdade de expressão e participação política, são severamente cerceados. Inclusive com uso de violência e um alto número de desaparecidos nos porões do regime.

No final da década de 1970, tem início um lento processo de redemocratização. Nos dias 10 e 16 de abril de 1984 os opositores do regime mobilizam uma enorme massa populacional, integrada também pele mesma classe média que serviu de base para os militares em 1964. Primeiro na Praça da Candelária no Rio, depois na Praça do Anhangabaú em São Paulo, são mobilizadas cerca de um milhão de pessoas. É o movimento das “diretas já”. Em 1985 a eleição presidencial não foi direta. Foi eleito por voto indireto Tancredo Neves, assumindo a presidência José Sarney. Dois políticos chancelados pelos militares.

No início de 2011, um protesto chamado “marcha das vadias” se espalhou de Toronto, no Canadá, para outras capitais mundiais como um viral. A causa inicial teria sido o fato de um policial ter dito que as mulheres, na Universidade de Toronto, não deviam se vestir como vadias para evitar os estupros no campus. Em 1987 se iniciou em Londres a “marcha de Jesus”. Os organizadores do evento do evento, em São Paulo, estimaram a participação de cerca de 5 milhões de pessoas em 2011. Nesse ano, a marcha teve como tema principal a afronta ao fato de o STF ter considerado como legítima a “marcha da maconha”, evento realizado em várias cidades do mundo desde a década de 1990.

Ao longo da história, as pessoas têm se mobilizado por motivos diferentes. Desde as lutas por autodeterminação nacional, restauração e instauração de democracias, expressão religiosa e minorias reivindicando tratamento igualitário. Muitas vezes, o anseio da população, ou de frações bem específicas dessa, não são os mesmos de seus líderes ou da maioria. Talvez por isso, não deixa de ser interessante observar pra onde marcha a humanidade.

O autor é professor de história em Ponta Grossa 

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