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A poesia em Ponta Grossa: uma interpretação (Parte III)

 

 

         Desde a antiga Grécia, a tragédia e a comedia, originadas nos rituais religiosos em honra do deus Dioniso, já apontavam para uma crítica de valores e costumes. Contemporâneo dos sofistas, Eurípides, pertenceu a uma fase de questionamento de todas as crenças tradicionais. Aristófanes, um dos maiores gênios truanescos da literatura universal ironizou em ‘As nuvens’ as figuras políticas e intelectuais de seu tempo.

         Uma crítica genérica aos poetas ponta-grossenses é a percepção de uma lacuna no que se refere ao desenvolvimento de uma ‘consciência metalinguística’ (uma forma de correlação entre conhecimento sobre a estrutura do texto e compreensão e alcance do discurso poético) e, sobretudo, quanto à falta de certo vanguardismo (do francês ‘avant-garde’ ou ‘linha de frente’) entendido como oposição ou ruptura em relação a modelos pré-estabelecidos, estes sob a égide do ‘capitalismo tardio’.

         É certamente difícil assumir posturas de vanguarda, mas, a poesia não deveria ser entendida apenas como literatura decorativa, ornamental, ‘positivista’ e de ‘senso comum’ (Gramsci), ou seja, como uma forma permanente de belle époque. Por vezes o discurso poético deveria apontar também para os impasses e as contradições não só dos poetas (e da crise do ‘campo literário’ como fez Paulo Leminski na esteira da ‘Beat Generation’), mas aquelas que afetam a vivencia do próprio povo. Pierre Bourdieu, por exemplo, reconheceu o papel vanguardista de Flaubert, Baudelaire e Manet, mas verificou também que, ao negarem o modelo estabelecido, não conseguiram, entretanto, libertar a arte do jogo interativo que a prática discursiva pressupõe.

         O poeta sofre os efeitos do meio-ambiente sociocultural. A alienação, as questões ideológicas, o mascaramento da realidade, etc., podem originar-se a partir das relações sociais, particularmente em sociedades conservadoras e patrimonialistas. Nesse contexto, Oliveira Molar (2011) escreveu que Faris Michaele por vezes apresentou um discurso mais incisivo e transformador, em outros momentos, parece não se despir do tradicionalismo que se arraigava na sociedade em que vivera (Revista Ágora, n.12, 2011).

         Contudo, o artista jamais deve ser confundido com o sociólogo, o cientista ou o historiador. Jean-Paul Sartre disse: Escrevo muito, embora a literatura não salva nada nem ninguém. Mas é um produto do homem: ele se projeta e se reconhece nele. Só esse espelho crítico lhe pode oferecer a própria imagem. Da mesma forma, o artista, o poeta, o trovador, endossaria a beleza do poema ‘Motivo’ de Cecília Meireles:

                  Eu canto porque o instante existe

                  E a minha vida está completa

                  Não sou alegre nem sou triste:

                  Sou poeta.

                  Sei que canto. E a canção é tudo.

                  Tem sangue eterno a asa ritmada.

                  E um dia sei que estarei mudo:

                  mais nada.

 

 

Fabio Anibal Goiris, o autor é cientista político e professor da Uepg.

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