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A maior arquibancada

 

Renato Pereira

Quando se viram as primeiras manifestações em prol de uma agenda política mais humanizada, que reivindicam dos representantes eleitos pelo voto direto que se reconheçam os anseios advindos das ruas pode se questionar: que interesse se julga inoportuno para este momento? Há de ficar claro que houve um dissídio coletivo, afinal, não mais se aceita quaisquer formas de autoritarismo representativo, pois quem decide são os cidadãos, mesmo que vivam à margem.

Neste processo, surge uma pauta difusa e multifacetada, onde se exige dos poderes do estado, um senso de justiça e urbanidade já previstos na Constituição Federal, porém esquecido, já que a nova ordem privilegia o jogo político-partidário na gestão de todas as esferas de governo. É visível que o estado atualmente serve ao capital estrangeiro e a realidade é desvelada nas altas tarifas no transporte e descaso com a estrutura urbana, caos na saúde pública e professores mal remunerados.

Estudantes e professores; idosos, adultos e crianças; militantes, servidores públicos e despolitizados; mais reivindicações e menos bandeiras partidárias, tomaram as ruas em tom de protesto. A escala local se tornou global. Lusos, hispanos, germânicos e anglófonos travam línguas em um mesmo idioma, renegando esta torre de babel promovida pelo atual modo de produção, que privilegia a exclusão e a marginalização, mas que disseminou mídias populares como a internet, a telefonia e informações síncronas. Assim, pode se perceber o valor real das redes sociais para uma geração que aprendeu a digitalizar o sagrado e o profano, o real e o abstrato, o ledo engano e a proibição, o fascismo e o positivismo, a democracia e o totalitarismo, o proibido e o politicamente correto, a liberdade de expressão e a censura.

Para Manuel Castells, é preciso vontade política e sentido de serviço ao cidadão. Óbvio, só assim, as recentes manifestações farão sentido. Exige-se inquietude e ação, não deixando de lado a ideia de que a construção de uma democracia exige luta política, liberdade de expressão, mas, acima de tudo, senso de coletivo. O ponto nevrálgico da situação é a possível tentativa de se rechaçar o processo democrático com atitudes fascistas. As respostas devem vir nas urnas e somente nas urnas devem ser resolvidas questões que interessam a nação.

As maiores e melhores arquibancadas devem estar nas escolas e nos hospitais, nos profissionais qualificados e bem remunerados, na infraestrutura e na valorização das pessoas que necessitam de bens públicos de qualidade e eficientes.

Parafraseando Bertold Bretch, o pior analfabeto é o analfabeto político. Não se pode admitir que a extração de petróleo na camada pré-sal, a identidade pampa dos gaúchos, o desmatamento desenfreado dos biomas atlântico, amazônico e pantanense, a centralidade do cerrado e a aridez da caatinga possam fragmentar um país privilegiado pela pluralidade e diversidade linguística, étnica e cultural. Será que foi o gigante que acordou?

O autor é Mestrando em Geografia, associado do Instituto Trilobita de Desenvolvimento, Educação, Cultura e Pesquisa.

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