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A farsa da reciclagem em Ponta Grossa

A farsa da reciclagem em Ponta Grossa

 

Mário Sérgio de Melo*

 

Na semana passada vimos os jornais da cidade noticiarem com estardalhaço declarações de funcionários da prefeitura de que a cidade estaria entre as que mais reciclam no estado. Afirmativa muito inverossímil, por pelo menos duas razões.

Primeiro, alega-se que o programa feira verde é um sucesso, e é responsável por uma parte expressiva da coleta de recicláveis na cidade. Ora, isto tem que ser contabilizado, na ponta do lápis, e não alardeado sem nenhuma base real. A feira verde é um programa que consegue principalmente ter consequências na segurança alimentar da população de baixa renda, e não na reciclagem. Pois esta população é a que menos produz lixo reciclável.

Segundo, os carrinheiros autônomos, que de acordo com as notícias seriam os responsáveis pela coleta na outra parte da cidade, a mais rica e que produz mais lixo reciclável, na verdade cometem um crime ambiental, que tem sido acobertado. Estudos de setores da própria prefeitura têm revelado que muitos carrinheiros, depois que coletam o reciclável separado em nossos lares, vão a locais improvisados para triagem, situados em terrenos baldios junto aos arroios da cidade. Ali são separados os materiais que alcançam preço junto aos atravessadores que atuam na cidade, e o restante é descartado diretamente nos arroios. Pensamos que estamos fazendo uma boa ação quando separamos o reciclável e o entregamos ao carrinheiro, e na verdade desta forma estamos deixando de enviar parte do lixo ao aterro do Botuquara para enviá-lo diretamente aos arroios da cidade.

Mas qual o motivo de alardear a reciclagem na cidade? Pode-se especular algumas hipóteses. Primeiro, a intenção de enganar a população, tentando fazê-la crer que Ponta Grossa está entre as que mais reciclam no Paraná. Se isto fosse verdade, então a situação do estado teria de ser considerada calamitosa, e na cidade apenas desesperadora.

Segundo, haveria razões de ordem legal, com implicações até econômicas. O município está deixando de cumprir compromissos legais assumidos com órgãos ambientais, envolvendo inclusive a reciclagem. E pode estar de olho em verbas federais que só são concedidas se existir um programa integrado de gestão dos resíduos, que inclua a reciclagem. Daí a necessidade de se afirmar que está acontecendo algo que na realidade não está acontecendo como deveria. E tentar convencer a opinião pública disto.

 

*O autor é Geólogo, Professor do Departamento de Geociências da UEPG

 

 

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