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A falta de protagonismo negro no entretenimento

A falta de protagonismo negro no entretenimento: Os avanços em relação ao protagonismo de pessoas negras no mercado artístico nacional caminham a passos lentos. A quantidade de pessoas negras nas publicidades, séries, filmes, novelas e desfiles ainda não condizem com a realidade da população brasileira, principalmente nos papéis de maior destaque.  Não é novidade para ninguém que atores e atrizes negros na maioria das vezes são sempre escalados para papéis de menor destaque, sempre como ‘’empregados’’ e a perspectiva raramente sai disso.  Para as mulheres em especial, além do estereótipo de empregos subalternos como de empregada doméstica, garçonete ou então o da menina pobre da favela que sempre tem de batalhar muito para subir na vida, há também o da “negra sensual e insaciável”, da “cor do pecado” e que acabam reforçando estereótipos racistas já enraizados na sociedade. 

O mercado exige uma dedicação maior de pessoas negras. Quando você é uma mulher preta na indústria você é ensinada a ser sempre a melhor, ou será substituída. Quando você é preto você não tem chance de errar. Não podemos ter um preto representando milhões de preto. Tem milhares de negros talentosos querendo trabalhar. Pois ainda que exista um maior número de intérpretes negros conseguindo papéis nas tramas que entretêm os brasileiros, a quantidade ainda é pequena e se limita à lembrança de poucos nomes, já que o destaque não vai muito além do holofote que está em cima de poucos representantes.

Vivenciei, como “Nena’’ de Malhação – Viva a Diferença uma trama de racismo e discriminação ao lado da família na série em uma representação importante das recorrentes situações de racismo que acontecem diariamente no Brasil, dialogando diretamente com grande parte da população jovem do Brasil. Recentemente revivi a personagem para uma participação na série ‘’As Five’’  e que mantém no enredo discussões sociais importantes. Aliás, essas discussões precisam ser levadas para fora da TV. Precisamos que o preto possa viver papéis como advogado, médico, homem ou mulher bem sucedidos, protagonismo em todos os espaços. Para que crianças como minha sobrinha de 11 anos possa ligar a TV, ir ao cinema, ir ao teatro e se identificar, se sentir representada e entender que ela pode ser o quiser e não apenas a empregada, a que serve ou a menina pobre.

 As discussões em relação ao protagonismo negro não se limitam aos artistas que trabalham na frente das câmeras. Nos bastidores, a desigualdade é ainda maior. Enquanto entre atores, atrizes, cantores e modelos existem alguns negros que alcançaram reconhecimento, nos bastidores isso é raro. São poucos os autores, diretores e produtores que conseguem desenvolver carreiras bem sucedidas no setor. Durante uma participação recente no programa ‘’Saia Justa’’ do GNT, a cantora Gaby Amarantos comentou o fato: ‘’É claro que a gente percebe que tem muitos avanços, mas algo que quero colocar pra gente avançar mais, é que não queremos estar apenas na capa de revista. Queremos estar na direção da revista, na direção da novela, na presidência. Queremos ocupar todos os espaços’’ disse ela em um bate papo com a atriz Jennifer Nascimento.

A falta de profissionais negros no mercado de trabalho, artístico ou não, é apenas um dos sintomas do racismo institucionalizado e estrutural presente em nossa sociedade que deve ser combatido não apenas durante o mês da consciência negra, mas todos os dias.

A autora tem 40 anos e é atriz.

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