Fiquei surpreso, certa vez, quando soube que uma das herdeiras dos Rockfeller, pioneiros da industrialização americana, morou alguns anos na favela do Jacarezinho no Rio, onde se propôs a conhecer na prática a autossuficiência e a independência das favelas em relação ao Estado.
Outra vez me surpreendo ao saber que existem empreendedores pioneiros neste segmento de mercado, e que geram oportunidades de trabalho e negócios. Aí é que vejo, também, uma das demonstrações do empreendedorismo do brasileiro, mesmo em condições adversas. Aproveitando os benefícios proporcionados pelo programa bolsa família, indiscutível gerador de consumo, as favelas brasileiras somam aproximadamente 12 milhões de pes¬soas¬, um número que faz delas o quinto estado brasileiro em população. Juntas, os moradores movimentam 56,1 bilhões de reais por ano, valor comparável ao PIB da Bolívia.
Os dados, levantados pelo Data Favela, em parceria com o instituto Data Popular e Celso Athayde, fundador da Central Única das Favelas (Cufa), revelam o extraordinário e pouco explorado mercado consumidor dessas comunidades. Segundo Renato Meirelles, diretor do Data Popular: “Historicamente, as empresas olharam para as favelas com desinteresse, por enxergá-las como um lugar entregue aos bandidos, mas esse quadro vem mudando com a pacificação”. Ele ressalta que 65% da população das comunidades já se enquadra na classe média. A classe C cresce mais nas favelas do que no Brasil.
Algumas companhias se adiantaram e vêm colhendo os frutos da aproximação com esse mercado, que está criando oportunidades de trabalho para profissionais que entendem as necessidades desse segmento da população. Inaugurada há dois anos, a agência de viagem Vai Voando com 70 lojas instaladas em favelas e subúrbios embarca 3.000 passageiros por mês e, neste ano, pretende inaugurar mais 50 lojas só no Rio, além de começar a operar em Belo Horizonte e Brasília.