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Réplica sobre câmeras em sala de aula

André Luis Rosa e Silva

Não me surpreendem comentários como os das alunas do IE e da professora do Regente. Infelizmente, optaram por responder aos meus argumentos com uma postura raivosa, ao invés de argumentos sólidos. Ao contrário, jamais busquei ofender pessoalmente quem quer que fosse com meu texto. Minha tentativa de induzir ao debate fez uso de depoimentos públicos das pessoas citadas no ensaio, além de argumentos clássicos da filosofia, da literatura e da educação. Em todas as réplicas, em especial às das alunas do IE, pode-se remeter à famosa teoria do educador Paulo Freire, que dizia “o oprimido é o hospedeiro do opressor”, na sua obra “Pedagogia do Oprimido” – livro que foi escrito como manifesto em favor da libertação dos mais pobres e dos menos favorecidos de seu estado bruto de alienação, e que deveria fazer parte do projeto pedagógico de todas as escolas.

Devo refutar, primeiramente, a tese de que desconheço a realidade da escola pública: além de ter vivido a maior parte de minha formação em escolas públicas (estudei na escola municipal Santa Luzia, no Colégio Júlio Teodorico e no próprio Instituto de Educação – escola que considero fundamental em minha formação como ser humano, onde tive meus melhores mestres, como o saudoso professor Rubens Fustemberger e a professora e artista plástica Míriam Namur).

Enquanto educador, minha carreira começou na escola pública de Santa Catarina. Já trabalhei como professor no Cefet-MG e ministrei aulas em faculdade particular de Ponta Grossa – onde estudam alunos egressos de escolas públicas. Além disso, sou formado em Letras e mestre em Educação pela UEPG, e também fui bolsista da Capes.

Em outras palavras, “ralei” minha vida toda na educação pública, para ser professor, profissão de que muito me orgulho. Infelizmente, a cultura da “punição”, da “delação”, e o ambiente de opressão e tortura psicológica, conforme escrevi, é a prática recorrente, ainda que não em todas as escolas e nem com a anuência de todos os educadores. Eu jamais concordei com isso. Pelo contrário, busquei pautar meu trabalho no respeito à subjetividade, no diálogo, na amizade e no respeito mútuo. A realidade da educação pública brasileira é muito complexa, e em alguns casos, dramática. De salários de fome aos professores e funcionários, passando por alunos e mestres desmotivados e desinformados, a ausência de projetos relevantes, além da malfadada violência – que surge, muitas vezes, aliada a uma boa dose de paranóia coletiva. A questão das câmeras na sala de aula passa a falsa ideia de “segurança”. Entretanto, muitos educadores mais gabaritados do que eu e juristas de renome nacional, concordamos se tratar de um ataque inconstitucional contra a individualidade e subjetividade, ainda que os oprimidos concordem com as vergastadas do seu opressor. Trata-se de um ultraje que, imposto sem nenhum debate, torna-se, em si, uma violência, pois ultrapassa os limites mais básicos da ética e em nada contribui para formação de jovens críticos.

Introduzir a cultura do medo baseada no controle absoluto produz seres que a tudo aceitam, sem jamais contestar, sem nem ao menos questionar a necessidade de reflexão sobre a organização social coletiva e sobre seus próprios papéis éticos diante da educação. Uma pergunta pode resumir tudo: queremos formar robôs passivos ou seres reflexivos, autônomos, capazes de compreender e lutar por sua cidadania? Dependendo do tipo de resposta, saberemos que tipo de educação teremos no século 21. As cartas estão na mesa. E o debate deve continuar!

O autor é professor de Literatura e Mestre em Educação 

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