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A falácia da hora-atividade

André Jorge Catalan Casagrande

 

Mês passado, retornando do norte do Estado após uma semana de férias onde eu e minha esposa pudemos rever parentes e amigos, numa dessas paradas de beira da estrada, fui surpreendido pela manchete de determinado jornal que alegava ser raridade nas escolas professores com titulação. Não me contive e comprei o dito cujo, a fim de ler a reportagem na integra. O artigo afirmava que dos 3,5 mil professores do núcleo regional de educação de Apucarana, apenas 49 são mestres e nenhum é doutor. O que fornece uma porcentagem baixíssima de 1,4% de professores com titulação.

Não sei a realidade do núcleo de educação de Ponta Grossa no que tange aos dados referentes à titulação de seu corpo docente, não obstante, a escassez de professores nas pequenas cidades é perceptível. Tanto que acadêmicos – alguns no primeiro ano de graduação – já se encontram em sala de aula. Apenas na escola que leciono, no interior de Ivaí, são três. Não sou contrário a graduandos lecionarem, desde que supervisionados por professores com certa experiência, numa forma de estágio remunerado (que seria o ideal para todos que cursam licenciaturas). Sem contar, obviamente, a título de exemplificação, os professores de história que assumem aulas de física e vice-versa, exclusivamente por falta de pessoas com formação específica.

As situações, até aqui expostas, pontuam pequenos motes da bancarrota da educação que perpassa essas questões, estendendo-se a falácia da hora-atividade. O atual governo do Estado do Paraná ufana-se por ter aumentado à hora-atividade de 4h semanais em 2010 para 6h semanais em 2013. Ora, 2h a mais por semana destinada aos professores fora de sala, em atividades de planejamento e questões burocráticas, são nada mais do que migalhas. Para cada 15h aula tem-se 6h atividade. Todo palestrante e professor competente têm ciência de que para cada hora de curso ministrado, carecem-se ao menos duas de preparo. O que significa que a hora-atividade só deixará de ser uma falácia quando, no mínimo, se chegar a marca ainda inglória de 1h atividade para cada aula ministrada. Até porque o regime ideal seria o dobro de horas-atividade para cada aula dada. Esse é o tempo necessário para se preparar uma aula digna, criativa, contextualizada e, que acima de tudo, desperte no educando o interesse e o prazer pelo conhecimento.

Outro motivo da falência educacional advém da remuneração docente que não confere, sequer, oportunidade para aquisição de bens culturais. Particularmente penso que o vale-cultura deve beneficiar também os educadores. Dia desses um colega professor me confidenciou o desejo de adquirir determinado livro que custava R$ 80,00, preço incompatível com seu orçamento mensal. A leitura nos torna seres mais criativos e, consequentemente, tal criatividade redundará numa aula mais fecunda. Com o que parece concordar o prof. Mário Sérgio Cortella, reconhecido educador, que em recente entrevista afirmou já ter lido mais de 8 mil livros e, por conta de seu esforço intelectual e não meramente por dom sobrenatural, tem condições para ministrar aulas e palestras de alto nível. Ilustração que nos remete a necessidade de acesso aos livros para uma educação de qualidade.

Não obstante, para revitalizar a educação precisamos de um governo que tenha coragem para revolucionar o sistema educacional paranaense. Não apenas lançando migalhas aos professores e ainda gabando-se disso, mas que de forma messiânica se insurja contra o sucateamento de nossa educação.

 

 

O autor é pastor presbiteriano, mestre em Ciências da Religião e autor do livro Jesus na ótica da literatura.

 

 

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